8 de ago. de 2010

As Meninas


Teresa está triste e sente-se só. Maria pirracenta, marrenta, orgulho, egoísmo em pessoa não está. Maria é tão legal e divertida, mas tão fácil de ser contrariada... Por tudo, por nada. Faz um bico bem bonitinho que só desmancha com carinho e infinita paciência. Além disso, terminar o relacionamento não figurava na lista dos piores pesadelos de Teresa. É difícil terminar o que a gente ainda precisa viver.

Elas tinham aquelas briguinhas a cada dia por uma bobagem mais inútil. Teresa já tinha se acostumado a ver Maria indo embora, catando coisas, confiscando antigos presentes. Ela era tão jovem que Teresa pensava ter Maria direito a essas bobagens, pirraças infantis, coisa de menino mimado. Então,  bastava uma ligação, era fácil inventar um motivo e reabrir o sorriso. Se os homens são adestrados na arte da conquista, a reconquista é um território feminino que para florescer depende apenas do adubo do querer. Além disso, elas eram fogo e palha, bastava um mínimo de aproximação. Não queriam brigar, queriam viver, queriam ser felizes, só isso! Mas onde estaria aquela felicidade que não se divide? Aquela felicidade una que pode ser olhada por um casal que se abraça, vindo de mundos tão diferentes e só por isso, olhando a vida com olhos diversos?

Voltar era fácil, difícil era esquecer as mágoas. Mágoas? Bobagem! Mágoas são como sombras da noite que desaparecem quando o dia chega e o dia de Teresa era Maria. Simples assim.  As mágoas desapareciam quando as pazes eram feitas, porém voltavam superpostas, sobrepostas, acrescentadas quando nova briga surgia. Um dia sem que nenhuma das duas pudesse perceber, Teresa olhou à sua volta e viu uma montanha de mágoas... O telefone ficou mais distante e os motivos mais difíceis. Teresa procurou os amigos, alguns já não davam mais tanta importância à tanta tristeza recorrente... Para eles era certo: “Ela vai voltar”e Teresa pensava: “Só se eu a procurar”. Dessa vez, na conversa com amigos, as brigas tinham mais destaques que as lembranças dos sorrisos, dos momentos felizes. Isso ninguém percebia, nem os amigos, nem Teresa, nem mesmo Maria. Havia aquela saudade, aquecida no afago do costume. E se havia a cama vazia, tinha uma preguiça de começar tudo de novo pra ver ruir logo depois. (Por que a busca de um novo amor e o resgate de um amor antigo assemelha-se tanto à distribuição de currículo para um emprego? Algo que precisamos, mas tão enfadonho depois de um tempo... As mágoas davam razão à Teresa. A saudade chamava por Maria. E Maria que é tão jovem, se esconde da saudade na bebedeira e qualquer fingimento de alegria, Maria não ouvia seu coração e não se importava se tinha ou não razão.

Ah, essa porta entreaberta, esse triângulo mal  aparado de vazio, solidão e saudade! Por essas frestas entram o sonho, o delírio, a insensatez... Entram também a esperança, a expectativa e a saudade de viver o que não se viveu. E nas  conversas com amigos e amigas, de repente Teresa, sai com assuntos novos e os seus sorrisos aumentam de tamanho, volume, quantidade. Impressão minha ou ela agora está menos sozinha? E se antes ela pensava em pedir aos amigos que ligassem para Maria, Teresa  agora não percebe, mas não tem certeza se gostaria que ela aparecesse nessas conversas novas com amigos recentes... O grande perigo de estar só, é gostar de assim estar...

De repente Teresa não é tão mais velha que Maria! Quem sabe um pouco mais inteligente. Algo mais educada. Cheia de assuntos que Maria nunca quis ouvir. Numa mesa com pessoas sóbrias, com idade suficiente para adquirirem aquela serenidade característica dos que de tanto perderem não mais precisam muito mais de tanta auto-afirmação.

O celular com as fotos de Maria e dos seus  abraços em poses felizes que eram exibidas a cada instante, fica cada vez mais silencioso sobre a mesa e quando toca, Teresa o atende sem olhar o identificador. Não tem decepção na sua voz, nem ansiedade nos seus gestos. E tudo o que Teresa precisa agora, é de alguém que olhe pra ela.

Não é toda página que precisa ser relida, mas algumas histórias tem páginas tão boas que é difícil virá-las. Há que se ter curiosidade para se chegar ao fim das histórias. Há que se ter coragem de abandonar um bom trecho de um romance. É preciso gostar de ler...
Maria não percebeu ainda que toda mulher é uma história, quase todas são enigmas, todas elas são difíceis e ainda não nasceu o ser humano que não goste de ser adivinhado e surpreendido com boas palavras, afeto gostoso e sexo na medida. Maria não entendeu ainda que ao olhar para trás, perceberia a paisagem que lhe faltou enxergar no caminho de ida. Teresa aprende sem entender, que entre idas e voltas a melhor opção pode ser seguir em frente.

2 comentários:

  1. Amiga...
    Vejo que nossas conversas te foram mais inspiradoras do que eu pudesse supor.Se te servi de inspiração, não eu exatamente, mas o momento em que estava vivendo e no qual vc se fez tão presente que me deixou acostumada com sua presença e reclamando sua ausência, rsrsrsrs; mas enfim, se isso valeu para que saísse dessa cabeça tão brilhante uma crônica bacana como essa, me espera na próxima crise com a "minha Maria" tá?!
    A quantas Teresas vc certamente já emprestou o ouvido como fez a mim...quantas Teresaa e Marias não vão se ver retratadas nesse seu texto e se conseguiremmais do que se verem retratadas, mas alertadas por ele de que o vale nessa vida é ser feliz, já valeu o seu dia de trabalho!
    Sou sua fã, te amo pelo ser humano que é.
    Um super mega bjú!
    Capitu ( ou Teresa, se preferir,rsrsrsrsrs.)

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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