25 de ago. de 2013

MANUAL

Acho que a gente não gosta de aprender, a gente gosta de sair fazendo. Conheço poucas pessoas que leem os manuais dos aparelhos que compram. Frequentemente, não usam um terço das funções dos dito cujos aparelhos, fazendo cara de assombro quando alguém faz alguma coisa que nem sonhavam que aquela maquininha fosse capaz.

Quando vou explicar a algum colega de trabalho como se utiliza um determinado programa de informática, a primeira coisa que me perguntam é: 

- "... mas você vai deixar eu fazer ou vou ficar só olhando"?  
Alguns anotam cada explicação no caderninho, dizendo que é para não esquecer, mas como esquecer o que ainda não se sabe?

 Prevalece nas pessoas o sentimento que só a prática permite expertise e faz sentido se considerarmos a prática, no entanto para se praticar há de se contar com alguma teoria, são necessário os conceitos. Não fosse assim, todos saberíamos onde anda aquele manual do brinquedinho tecnológico que acabamos de adquirir quando nos surge alguma dúvida... 

O grande problema é que na documentação de aparelhos novos, não vem nenhum aviso sobre a capacidade dos manuais desaparecerem, por mais que sejam guardados em locais de fácil acesso para uma emergência. Alguns deles aparecem surpreendentemente quando vendemos o objeto e queremos mostrar para o comprador o quanto ele tem pouco uso e o quanto cuidamos bem deles; outros são do tipo que se desintegram antes mesmo que mostremos nossa nova aquisição para os amigos... Talvez por isso alguma empresas produzam manuais com cerca de 300 páginas que vem num CD ou que devemos baixar on line... A ecologia agradece, enquanto que o termo pedagógico é um adjetivo que vai se tornando cada vez mais pejorativo.

Como o ser humano é extremamente incoerente, exige-se diplomas que demandam enorme tempo de estudo para se conseguir um trabalho onde alguma  prática seria o suficiente, contraditoriamente é comum que recrutadores torçam o nariz para quem se denomine autodidata. Todo autodidata se considera próximo da genialidade, muitas vezes ignorando ou omitindo a boa ajuda de quem lhes passou aqueles conceitos básicos, contudo eles são sempre alvos da admiração, o que não significa que serão alvo da contratação...  


Por exemplo, admiro extremamente o sujeito que "aprendeu a tocar de ouvido", mas sinceramente e perdoem-me a ignorância, não sei na prática como isso acontece, pois nunca acompanhei esse processo de aprendizagem, mas imagino que no caminho desse autodidata teve muita observação e algumas pessoas experientes que lhe transmitiram conhecimentos. 
Tocar de ouvido é não ter conhecimento de teoria musical. Isso me lembra os antigos tempos da informática, quando a datilografia se tornou pré-histórica e havia uma profusão de cursinhos de digitação. 
É lindo ver alguém digitando sem olhar as teclas, é maravilhoso se digitar com todos os dedos, é espantoso quando não há erros e assombroso quando a velocidade vem junto. 
Mas quem faz curso de digitação hoje em dia, quando crianças manipulam aparentemente com maestria um smart fone antes que antes que lhes nasçam as unhas?

Como uma coisa puxa a outra... Será que o jornalista não precisa mesmo ter um diploma? Aprendemos pela dor ou pelo amor,  é certo que o autodidata apanhe bastante para chegar num nível de trabalho que desperte respeito, no caso dos estudantes, esse olhar respeitoso começa a partir do nome da instituição de ensino assinalada no seu currículo.

Numa época em que muitos acham a psicanálise dispensável e inócua e a psiquiatria coisa de maluco, mas todos acham excelente o Prozac e o Rivotril, a reflexão seria que vivemos por resultados e nem está mais em questão se esses são bons, basta que pareçam satisfatórios, fica fácil entender porque a falta de ética é sempre dos outros. 


Centenas de vezes ouço no jornal da líder de audiência no país expressões como: "a casa dela", "a saúde dele" e lembro da Tia Leila que quando falávamos algo do gênero perguntava: "e a boca dela?"

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