27 de nov. de 2013

É melhor ser bom do que ser original

            Quando eu percebi que não conseguiria ser cantora de rock, pensei seriamente em tornar-me arquiteta, numa época  em que calculadora era luxo. 
Formada professora de nível fundamental,   pra alimentar 2 coelhos numa cumbuca só :  livrar-me das "Exatas" e realizar o sonho da minha mãe (ter uma filha professora), descobri que precisaria fazer um curso pra "pilotar" uma HP... Quem lembra das calculadoras HP?

Apaixonada pelos casarios antigos, coloniais do Rio, o calçamento antiquado, as ruas estreitas - vivia imaginando como as sinhás e suas saias cabiam em tão pouco espaço e concluía que mesmo os escravos da casa grande viviam uma vida que não valia a pena... Enfim, que nessa fase, pra sacramentar toda a minha contraditória alma, eu não achava graça nos estilos modernos. porém gostava muito de uma cristaleira... Sofás enormes e camas imensas. A antiguidade nos oferecia espaço, a modernidade nos jogava uns por cima dos outros. Mas foi avaliando a possibilidade de ser arquiteta que conheci, através de revistas e livros (não tinha Google, ok?) Ludwig Mies. Ele dizia coisas como : "Menos é mais", "Deus está nos detalhes". Usava cimento e aço e deve ter sido o precursor da auto ajuda quando mandou frases como "É melhor ser bom do que ser original" e "Eu não quero ser interessante. Eu quero ser bom".

Bem, certamente que a originalidade carrega pesado ônus, além de alimentar os bons e os que se acham bons, pois que é possível sim, construir-se toda uma vida muito original a partir de modelos copiados...
Nos tempos atuais é tão importante ser bom quanto ser original, embora eu reconheça que o reconhecimento da cópia seja mais imediato, me surpreendo pensando que eu quero ser interessante, porque o meu trabalho é bom e tem originalidade suficiente, para ser copiado. Coisas da vida, os melhores passaram por isso!

Não fiz Arquitetura, intuitivamente percebi que tinha outras formas de criar, construir unindo o prazer ao trabalho, a beleza à funcionalidade, a criação ao resultado, parti pra Pedagogia onde menos é mais que demais!
Deixei o Rock na infância, tive uma adolescência castigada pela ausência de músicos, dourada pelo sal e sol da Barra que ainda não era filhote de Miami, embalada pela Disco Music, que tinha lá seus bons sons, mas carecia de humanidade. O samba encontrou-me mulher feita, mesmo depois de ter me assediado inúmeras vezes sem que nunca eu dissesse não, porém hesitante em dar-lhe um sim. Hoje percebo que o samba me queria desde sempre e eu sempre ansiei por ele, no entanto precisávamos nos compreender para que vivêssemos assim, como vivemos hoje cordas e percussão, harmonia pura.

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