1 de dez. de 2014

O MEU LADO BOM NASCEU DO MAU


Num dia 1 de dezembro, há 20 anos eu estive num evento sobre o vírus do HIV. Saí de lá com um afilhado social e tornei-me próxima da família. Estarrecida, abalada - não sei exatamente o termo correto de como me senti diante da realidade do fato de como aquela criança havia contraído o vírus desde o seu nascimento.
Até então eu colaborava com ações voluntárias para algumas instituições voltadas para o atendimento da pessoa com câncer, porque tive uma doença muito grave na infância que mudou o meu destino, me trocou de família e essa coisas idiotas que acontecem quando a gente não comanda nossa vida (risos, porque nunca comandamos, né?)

Era um dinheirinho, um enxoval e trocava meus presentes de aniversário por doações que entregava lá ou administrava comprando o que me pediam. O câncer comovia e não era muito complicado conseguir adesões, ajuda.
Convivendo com aquela família percebi que o mesmo não se dava com a aids. A maioria das pessoas reagiam como se pudessem contrair o vírus só de ouvir o que eu dizia.
O pensamento que me ocorreu foi: O câncer é tão democrático; qualquer um pode ter, não tem jeito. Parece um destino. Mas a criança portadora do HIV, era assim por algum descuido, por irresponsabilidade. E eu sempre achei que criança não tem que sofrer, principalmente se esse sofrimento é um presente de grego do nosso egoísmo pra ela. Assim entraram as crianças na minha vida.
Então, comecei a fazer o que estava ao meu alcance para ajudar, esclarecer, dar uma pequena contribuição, o meu diminuto raio de luz, na escuridão da ignorância que via nos olhos de tanta gente boa, mas encastelada na distância que tomava do assunto.
1994.
Passaram-se 20 anos rapidinho.. Vi algumas pessoas queridas irem desse mundo. Vejo muitos que se tratam, se cuidam e lutam, quase sempre tendo um cuidado que não tiveram antes: Se proteger e, fazem isso ocultando da sociedade sua condição, tentando eliminar de suas vidas mais um monte de problemas porque ainda é assim que funciona, quem tem aids, tem a solidão da distância do medo alheio.O vírus da indiferença é muito mais danoso que qualquer outro e a gente tem ele na maior parte do tempo...
O amor, amizade, afeto, carinho, não transmitem aids, o que a transmite é o descuido, portanto, cuide-se.
O meu afilhado social, o primeiro, não chegou aos 12 anos. Depois dele vieram outros que estão aí. Hoje colaboro com o projeto SAE do Hospital Escola São Francisco de Assis, aquele caidinho, ali na Presidente Vargas. o Meu instrumento de ação é a Casa da Vida um grupo pequeno que não vive disso, mas percebo que começam a viver para isso, porque o trabalho aumenta de um jeito que a gente não podia imaginar.
É isso. O meu lado bom chegou na minha vida por fatos ruins. Ele se mantem com uma dificuldade danada, mas o importante é que ele faz aniversário hoje.
Queria dividir isso com vocês

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