2 de nov. de 2017

AOS NOSSOS MORTOS, A VIDA!

Chorei as perdas, sofri pelas ausências. Um dia a ficha caiu: 
O que vamos visitar no túmulo é uma parte de nós porque nos sentimos sós.
Quantas visitas posso ter recebido dos meus finados amados e não os percebi?

E assim sendo, será que eles ficariam por lá pra me receber?
Não sei se os meus mortos gostariam de me ver chorosa, triste, mastigada pela saudade que eles deixaram pelo abandono involuntário.
Lá em casa, sempre, todos os encontros eram muito barulhentos com música alta, dança desengonçada, muita birita e algum bullying, farra de família.

Não, não vejo muito o sentido em fazer essas visitas silenciosas e tristes de morte ao morto quando deveríamos fazer uma festa, tocando a música que nosso morto gostava, vestindo suas cores prediletas, sacudindo a bandeira do seu time, cantando pra ele o samba de enredo da escola dele para o carnaval que virá ou aproveitar a chance e cantar o da nossa escola dizendo que ela vai ganhar pra devolver o bullying só um pouquinho pra senti-lo sorrindo. Qualquer coisa que pudesse dar um pouco de alegria pra eles e pra mim também.

Não foi um bom negócio essa exploração portuguesa, pegou tanto da nossa riqueza e deixou essa herança de tristeza, tudo tão triste, choroso e roupa preta que eu nem tenho, que fico feliz por saber que, na minha filosofia, os que dissemos mortos, apenas partiram livres, de pesos de ossos, carne, nervos, cabelos, sangue, dores, levando seus amores e humores, enquanto eu aqui, levando flores, mortinha, com a minha vida soterrada nos pesos que carrego e tudo o mais que só serve pra impedir a minha alma de voar em vida.


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