Começando pelas ONGs que proliferam por aí. Se elas não tiverem uma celebridade ou citação na mídia, passa despercebida e seu trabalho ignorado. A mídia por sua vez não poupa espaço para aquelas flagradas em delitos. Atores têm espaço a cada movimento em sua vida pessoal. Pessoas anônimas deixam de ser quando comentem alguma barbaridade ou quando se expõem à nossa bárbara curiosidade. Basta uma roupa mais ousada, um desentendimento com voz mais elevada para no dia seguinte o nosso pacato vizinho ser o tema dos burburinhos. No trabalho é igual, quem ainda não se percebeu fazendo coro com os comentários e risinhos de coisas que talvez nem concordamos, mas acabamos participando?
Resumindo: o mal impera porque o bem se não é tímido, é discreto. A bondade não dá ibope, mas pode render comentários, não por ser bondade, mas porque nos acostumamos a desconfiar de tudo e todos que tenham muitas qualidades... Daí o ditado: “bom demais pra ser verdade”.
Dia desses, promovi um evento beneficente para famílias de uma comunidade carente daquelas que “não tem nada e quando chove perdem tudo”. Era um almoço com bazar, bingo e show. Decidi chamar uma drag queen para fazer o bingo. Poderia ter dado errado, afinal era grande o número de crianças, idosos e pessoas de um universo muito distante do “mundo gay”.
Poderia dar errado, mas não deu! Todos amaram a personagem Iodara Hot, criação de um rapaz de nome incomum que me foi indicado por um amigo. Alegre mistura de musa e xereta, encantou àquelas pessoas, vendeu as cartelas do bingo e teve uma participação mais do que satisfatória. Depois do evento conversamos e vi que a drag sempre participava de atividades sociais. Um rapaz com a sua criação muito bem maquiada, mostrou-me que o preconceito está na cabeça de quem não amplia seus horizontes. Nem todo mundo está predisposto a apedrejar a figura gay, mas o mundo todo parece pensar que o gay realmente é diferente. Um cantor que revele sua posição sexual vira manchete, a “bichinha” que serve café no escritório é bem tratada, porque “sabe manter-se no seu lugar”...
Se o evento envolve crianças não se cogita a participação de artistas do universo LGBT e assim vamos contribuindo para a exclusão, para a segmentação das pessoas em classes e castas, para a manutenção dos guetos e para a formação equivocada de mentalidades. Gente, não adianta gritaria inclusiva se no dia-a-dia, não houver oportunidades e oportunidades se consegue com preparo, bom trabalho, dedicação isso independe de sexualidade, mas depende de atitude.
Um artista é um profissional que pode ser gay ou não. Uma drag queen é uma forma de expressão artística, não necessariamente limitada à esfera sexual ou erótica. O cuidado que se deve tomar é de contratar-se bons profissionais com perfis pertinentes à tarefa. No caso que citei precisava de uma profissional de boa a excelente e que tivesse consciência social, afinidade com a causa e com o trabalho proposto. Tive sorte, encontrei Iodara e posso dizer que o evento além de arrecadar recursos teve um desdobramento inclusivo: Dezenas de pessoas dentre elas crianças e idosos, hoje sabem que uma drag queen pode ser solidária, diverte, não morde e nem contamina. Certamente isso não sairia nos jornais que preferem noticiar o oposto. É óbvio que a culpa não é da mídia que apenas alimenta a fome que temos, que divulga aquilo que vende , vejam bem, somos nós que compramos! Que tipo fato desejamos encontrar na mídia? Qual o gay que nos faz comprar jornais? Essa resposta pode ser muito importante. Por enquanto só quero aqui, agradecer a Iodara Hot por ter posto seu talento à disposição dos necessitados, prestando um serviço extra a nós tão desavisados.
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