24 de out. de 2013

SERRA PELADA (2012) Heitor Dhalia

Serra pelada de Heitor Dhalia é um filme incrível. Incrível as reconstituições, figurinos,  os cenários,  com montagem perfeita  com perfeitas as inserções de imagens reais da época, incluindo os noticiários, fotografia, edição e o roteiro amarra muito bem o drama das personagens  fictícias tão reais e para a minha alegria no final uma cena feliz!

Eram garimpeiros mas poderiam ser jogadores de futebol ou qualquer outra profissão que possibilitasse a realização dos sonhos pela posse repentina de muita grana e o acesso aos caminhos do poder.
A narrativa em primeira pessoa  feita pela personagem Joaquim (Juliano Andrade) coloca a gente dentro do espírito das cenas que se sucedem possibilitando  que nossa  percepção vá  além da ação, deixando o filme longe de ser apenas um filme de ação.
Amigos de infância fracassados cada um a seu modo,  Joaquim e Juliano (Juliano Cazarré) vão à corrida do ouro. Juliano não tem família, é  boxeador de apostas e foge de uma dívida com um agiota que o ameaça. Joaquim é professor  que fica desempregado, com mulher grávida e decide que seu filho será rico. Um é grande e forte o outro magro e mirrado. Poderia ser uma dupla tipo Master and Blaster  de “A máquina mortífera”, mas o fortão da história decide pensar , descobri que tinha talento e gostava de matar e dar asas às suas ambições.
O ouro transforma Juliano  e o sonho não abandona Joaquim. Se a sede de poder  traz para Juliano  a liberação de seus instintos opressores e assassinos,  onde o ter sobrepõe a outros valores, é a fidelidade a tônica de  Joaquim. Fiel ao amigo, fiel ao projeto de enriquecer para o bem de sua família. Juliano se integra perfeitamente ao ambiente violento, torna-se personagem do faroeste caboclo que era Serra Pelada, uma terra onde a lei era a força, tirania e corrupção.
O filme de milhares de figurantes é enxuto focando poucos personagens, enfatizando no drama de cada um em detrimento de entrar em aspectos históricos da loucura que foi tudo aquilo e o contexto político da época.  O que não deixa de explicar os jargões locais, a estrutura da exploração e venda  e o seu domínio tomado  pelo governo militar com mudanças das leis do garimpo que passou a  ser oficialmente o único comprador de ouro, proibir a presença de mulheres o que “privilegiou” os homossexuais – chamados Marias  (que com a chegada da AIDS foram expulsos do garimpo) armas e bebidas alcoólicas o que não evitou  as bebedeiras, prostituição,  tiroteios e mortes  transferidos para 30 km adiante. 

Juliano e Joaquim prosperam e tornam-se proprietários de um pequeno barranco tornando-se prisioneiros da febre do ouro, num mundo onde se busca e encontra riqueza, mas não há nenhum interesse em  se tornar mais civilizado.

 O barranco desperta o interesse dos donos de vários outros e Juliano resolve a situação à moda local. Um deles é  Carvalho (Matheus Nachstergale), mantenedor de Tereza (Sophie Charlotte)  com quem Juliano irá se envolver. 
 O outro é vivido por um Wagner  Moura calvo e carismático, gângster e até engraçado, num papel menor mas de muita importância na trama.

Wagner interpretaria  Juliano mas devido à proibição de gravar no local e a necessidade de se recriar todo o  ambiente atrasou e  impediu o ator de interpretar esse papel,  tal qual  Daniel Oliveira que daria vida ao Joaquim.
Esse é um filme que vale a pena ser visto e sua beleza justifica os 11 milhões da produção eo os quase 5 anos que Heitor demorou para concluir o roteiro. Uma obra de arte.
Nota: 9

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