22 de jul. de 2015

A MÍDIA CEGA QUE DESPREZA O SAMBA

Ontem Jovelina Pérola Negra completaria 71 anos se tivesse ficado entre nós. Candeia faria 80 anos. Silas 100. De memória, aqui e agora na rua, não consigo recordar outras comemorações relacionadas a grandes compositores e figuras da nossa música, mas sei que há.
Dia desses no cafofo da Tia Surica, ela falava sobre os compositores que deixaram obras inacreditáveis em qualidade e que eram analfabetos de todo ou em parte.

Monarco, certa vez, no caminho, durante uma viagem de trabalho que fizemos, contava como Silas e Carlos Cachaça orientavam a ele e Cartola em relação ao Português e gramática numa composição. A amizade entre esses caras, a forma como eles promoviam a interação, interatividade, troca de idéias entre suas vivências, cada um de uma escola que por localizações e vivências diferentes iam agregando ao samba bossas diferentes. Tiãozinho da Mocidade contando como surgiu a vareta partida para tocar o tamborim é algo encantador.

Confesso que eu fico atordoada com tantas informações, obtidas diretamente na fonte e em momentos de convivência que a vida me oferece com esses baluartes que por sua vez conviveram com os "mentores" dessa vertente da nossa música que é o samba que no entanto, é modo de vida e legado cultural. Uma tradição oral repleta de poesia e bons sons.

O samba vem se movimentando mais vivo do que nunca. Se por um lado existe a proposta de mega eventos como foi o Samba in Rio, as rodas periféricas não param e vão surgindo novos recantos que revivem o que havia antigamente no ambiente das quadras. Na Vila, o Samba do Barão. A Roda da Feira e o Sambastião apadrinhado por Ataulfo, na Glória. Os meninos do Samba na Fonte lá na Gomes Freire e Pedra do Sal. Na Praça Tiradentes, o projeto Samba Independente dos Bons Costumes, que já começa se movimentar por outros pontos da cidade e as iniciativas da Amaga, Associação de Moradores e a Amigos da Gamboa e Adjacências.

Essa garotada da Zona Sul que estando geograficamente distante das fontes suburbanas, estudam música e vão atrás, dando requinte de qualidade ao samba que é pilar, base, do que vai aparecendo hoje num processo de ampliação e renovação. Até mesmo a Roda de Samba Já Chegou Quem Faltava que leva os terreiros cariocas para a terra vermelha candanga de Brasília. Gente, ninguém me conta, eu vejo. A renovação de público, as caras jovens encantadas com as melodias da regionalidade carioca.

Quem realmente gosta de samba, sabe onde ele está e percebe que ele vem se refazendo. Uma pena que o Esquenta - programa da TV Globo, se desvirtuou, que a TV estatal brasileira, a TVE não tenha mais a boa recepção de imagem de outrora e, ninguém lá tenha a idéia de nas horas vagas passar clipes antigos de samba que estão aos montes na internet. Quando eu falo que a grande mídia ou é cega ou é um ciclope é por isso, preocupados em fabricar mitos para consumo, não percebem o quanto consumimos de mitos verdadeiros. Desprezam um filão e tanto que não sei se é por ignorância - no sentido de desconhecimento ou preconceito mesmo.

Depois eu falo sobre as casas que mantém firme e forte o samba - pai, de raiz, e os cantores e cantoras que de lá viajam pelo Brasil todo como abelhinhas sambistas levando esse pólen da nossa flor maior.


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