22 de set. de 2015

OS FILHOS DO HOJE

Eu fico pensando umas coisas que às vezes tenho receio de falar. Por exemplo, "antigamente" quando as crianças iam para a escola, levavam consigo um mínimo de orientação, educação de casa. Respeito às autoridades, à figura "do mais velho", "do professor". O papel da escola era ensinar, a educação era obrigação dos pais, da família. Quando um "responsável" era chamado à escola por mal comportamento, era motivo de vergonha para esse responsável, não tinha pai e mãe dando esporro na professora por ter chamado atenção do pirralho.

Estudei a vida inteira em escolas públicas - na verdade uma durante o primeiro grau e outra onde cursei o Normal - naquele tempo o bacana era frequentá-las porque era dito que ali o "ensino era forte", assim, nessas escolas estudavam juntos o filho do militar, do funcionário público, do comerciante emergente e daqueles quase nenhum dinheiro, crianças que se beneficiavam da antiga "Caixa Escolar". Essa diversidade dava "rolo"? Claro que dava! Tinha uma tal de "hora da novidade" às segundas feiras quando os alunos contavam pra turma o que tinha acontecido no final de semana. Rolava de tudo, criança que viajava, criança que fazia festinha, com sarau em casa e criança  que apanhava porque fazia merda ou porque os pais bebiam e a porrada "comia" mesmo.

Tinha criança rica que ia com tênis caro "da hora" e simplesmente eram repreendidas e em caso de reincidência não poderiam assistir a aula pois não estavam corretamente uniformizadas. A gente que não tinha essas coisas ria, claro. Era a nossa vingança, pelos patins e skates e barbies que elas viviam ostentando. A gente sofria o que hoje chamam de bullying mas a gente fazia nossos bulings também, não permitindo que aqueles "riquinhos metidos" participassem das nossas brincadeiras. Desde criança convivi com todo tipo de pessoas, pessoas às vezes irritantes que se "achavam" porque tinham mais dinheiro, no entanto na minha casa ouvia que tinha de acatar o que os professores pediam, mandavam ou ordenavam. Tinha que dar bom dia, boa tarde até para as mães daqueles amiguinhos insuportáveis. Minha pasta era supervisionada e em casa de objeto estranho encontrado, era o bicho. Essa história de privacidade valia para os momentos de ir ao banheiro desde que eu não demorasse mais do que o necessário.

Conforme eu crescia ouvia os papos lá de casa sobre o filho do professor tal, vizinho muito  conhecido, sono de escola no bairro que andava envolvido com gente errada, o outro filho do arquiteto que andava "puxando carros". Eram ricos, não precisavam praticar esses atos. Por que praticavam? Minha avó, quase uma bruxa hispânico-italiana falava logo: - "A mãe não cria, quem cria é a babá" e sentenciava: "Essas mães vivem no cabeleireiro, não dão uns tapas para não quebrar as unhas, é isso que dá".

Dentre os meus colegas de classe, alguns dos amigos pobres vacilaram, se abraçaram à manguaça, mas nada digno de cadeia. Dentre os colegas ricos tiveram também os que deram certo. A índole pode ser determinante principalmente quando falta a educação, aquela que deveria vir de berço.
O meio influencia principalmente aqueles que não receberam orientação consistente. Nos dias de hoje estamos lidando com gente que mesmo tendo alguma coisa, ou tendo muita coisa, não tem nada, principalmente princípios, gente que não aprendeu. A babá eletrônica falhou e feio.

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