18 de nov. de 2015

O SAMBA QUE SOBROU PRA MIM

 





O meu lance sempre foi samba, carnaval não chegou a ser minha praia, consolo-me feliz em ser boa na assistência. Não tenho a alegria/euforia descabida que não cabe em nós e vamos à avenida extravasar. Não tenho a desinibição necessária e as saudáveis necessidades que o carnaval exige. Ah! sim, quando eu não estava "na praia do samba" dei meus pulinhos, no Nevada da Barra e alguns outros clubes do bairro na minha fase áurea entre 25 e 35 anos. Sempre me fantasiava de executiva, só que de maiô e gravatinha e adornos na cabeça que sempre foram a minha paixão. Era prático.
O carnaval faz parte do samba ou pelo menos fez algum dia. Acho que em alguma vida passada estive dentre aqueles alijados para os confins, onde se reunir em torno da percussão era tudo o que se tinha para aliviar a angústia, a dor, as humilhações.
Assim, as escolas de samba me fisgaram pela vivência comunitária que eu nem alcancei nos moldes antigos e ficava imaginando como era no tempo que quadra era terreiro. Até hoje olho para o Monarco e fico imaginando ele, Manacéa, Lonato, e todos aqueles antigos reunidos, jogando uma conversa fora, mostrando a "primeira" pronta, faltando a segunda.
A musicalidade dos sambistas chegou até mim através das escolas, mesmo muito menina conseguia assimilar que as melodias de Dona Ivone Lara eram diferentes das melodias do Candeia, enquanto meu tio e seu grupo faziam saraus na varanda lá de casa. Aos 6, 7 anos de idade eu não compreendia os versos de Candeia e m. Como assim folha caída? Como assim pintura sem arte? Lembro que a batida portelense da Velha Guarda - que ainda não tinha essa denominação - me entristecia sem eu saber porque. Mas aquele "Tiê, tiê olha lá oxá" nem precisava entender, era mágico!
Quando chegavam o LPs das escolas de samba, dava pra perceber que o batuque da Portela era diferente do Império e nenhum dos dois eram iguais ao da Mangueira. A cadência me fascinava tanto que lembro de perguntar para alguém porque no Salgueiro se corria tanto pra cantar.
Mas nesse tempo, o carnaval já não era mais nosso. Já era caro além de complicado, ir pra avenida assistir. Minha mãe trabalhava no Hospital da Policia Militar e trazia naqueles tempos sem internet, quase sem tempo real as novidades que ela via. As decorações da Rio Branco começando para o desfile de bloco, a Presidente Vargas com a montagem das arquibancadas, depois a Antônio Carlos, depois ela chegando encantada porque passava pertinho dos carros perfilados ali no entorno do Teleporto, quando este ainda não existia.
Com tudo isso, começava a febre da "Disco Music" e foi ela que embalou minha adolescência aterrorizando nas rádios, cinemas, TVs, toda parte. Menos na sala lá de casa, que nas festas ainda se afastava o sofá para ouvir por diversas vezes o novo LP com os sambas enredo intercalado com os anteriores e às vezes misturado com os lançamentos da gravadora CID que trazia de volta gente que eu nem tinha conhecido, como Pedrinho Rodrigues além de muitas marchinhas onde eu reconhecia as vozes do grupo "As Gatas" umas 3 ou quatro coroas que eram onipresente nos estúdios da época e também no programa do Chacrinha. Eu gostava porque minha mãe gostava. Não sambava porque era tímida e meus irmãos zoavam.
Minha geração é meio que um elo perdido. Assistimos às mudanças e ouvimos testemunhos de quem viveu a "A Era de Ouro". Do vozeirão para a voz. Da cadência para a correria. Do malabarismo dos passistas pandeiristas e exuberância das mulatas e Maria Lata D'água para a procissão de alegorias, até que nos tornamos parte delas como engrenagens perfeitas. O final do bloco de sujos, que a minha mãe confeccionava umas máscaras engraçadas com fronhas de travesseiros e me vestia com os pijamas dos irmão mais velhos e muito maiores, mais meias enfiadas nas mãos e a gente ia mascarados em família dar sustos nas amigas de trabalho dela que moravam lá no conjunto da PM na Cidade de Deus, onde o bloco aumentava e íamos para a praça zoar. Desses carnavais eu gostava ele podia ser nosso.
Ainda bem que apesar de todos os filhotes esquisitos que o samba também teve, ele, o próprio, ainda pode ser ouvido e fascina os jovens que não se deixaram convencer pela melodia melosa desses "sambas melody apagodeados", lamentosos cantados por meninos todos com a mesma voz. Nem por uma calça skinny, boné e o balançar de suas próprias bundinhas com alguns holofotes. Eles não precisarão vender seus sambas, nem vender o samba. Eu confio!

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