17 de abr. de 2018

Obrigada por ter dado à minha vida sem graça, tanta graça de melodia

                                                         
       Eu era bem jovem e os meus sobrinhos não eram muito mais novos que eu, como ainda não são. Eu sempre curti levá-los ao cinema porque tinha para com crianças uma paciência para as coisas que ninguém lá em casa tinha. Lembro que fomos assistir Bernardo e Bianca dos Estúdios Disney, num tempo que desenho animado não era chamdo de  "Animação", não tinha volume, não existia 3D, era só desenho animado mesmo.
De toda a história do Bernardo e Bianca, foi a cena final que nunca me saiu da cabeça. Bernardo abraçado à bianca, depois de duas horas de peripécias, olhavam o céu azul noturno onde luzia uma linda estrela e surgia a frase inesquecível:
"Está vendo aquela estrela? Ela a fé. A fé é como um pássaro azul,muitas vezes não o vemos mas sabemos que está lá fazendo as coisas ficarem certas".
Daí, que há pessoas que são como essa estrela, como esse canto desse pássaro, a gente precisa saber que estão lá para que tudo esteja certo.
O consolo não é apenas aconchego contra o desespero, mas também um alívio pra dor porque saudade dói, o vazio das noites em nuvens assusta, ainda que as coisas estejam certas. Que nos console a melodia da voz doce desse pássaro negro, lindo de canto verde e alma alva.
Tiê, tiê, olha lá oxá!
Tiê, tiê, olha nós que ficamos cá.
Eu sei da bênção nossa e dela por sua vida plena, sua melodia vasta, seu sorriso lindo, seu querer demais além do concedido no seu tempo. A realização dos seus sonhos, a transformação das pedras nos caminhos em relva doce, fresca, macia. Sua alegria e seu carinho. Eu sei, mas meus olhos não secam nem adoçam, estão inundados de mar. Vai passar e o bom é que o melhor vai ficar.
Eu era muito criança e ainda não tinha sobrinho, meu tio às vezes fazia seresta, samba e chorinho na varanda ao contrário lá de casa. Eu era tão criança que não conseguia ainda entender Candeia, mas gostei de música, fui feliz por entender tudo no dia que alguém cantou: 
"Sonho, meu! Sonho meu
Vai buscar quem mora longe, sonho meu...
Vai mostrar essa saudade, sonho meu". 

Não foi a família portelense que me deixava em casa porque eu era criança demais, o que me levou pro Império assim que eu pude fugir para algum lugar... Foi esse tanto de melodia que eu entendia e aplainou meus caminhos com seus lara-laiás. E no final de tudo a gente cresce perto do que nos traz a alegria e a paz. 
Dona Ivone Lara, foi sempre colo e alegria e a ave se faz estrela de verdade para que tudo fique certo. 
Obrigada, rainha imperiana. Obrigada!
Essa porção de mar a inundar os olhos e sonhos meus, vai passar. Mas por enquanto deixa ficar. 
Obrigada por ter dado à minha vida sem graça, tanta graça de melodia. Dá um beijo no Seu Délcio, tenho saudade dele também.
Obrigada!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade pra dar sua opinião.