17 de mar. de 2016

PAÍS INCENDIADO - APRENDIZES DA ESPERANÇA APRENDEM?

Um governo que não dá pra defender, diante de uma oposição que não dá pra apoiar. Recheando isso, um incômodo com tantas informações que se não sigilosas, não necessariamente teriam que ser furo para mídia.
Coroando tudo, não consigo perceber igualdade na pressão do jato que não sei se lava em todos os lados e manchas da sujeira com a mesma precisão. Vazamento para conscientização da população? Ora, eu sempre soube que todo mundo sempre soube de tantas e todas ou dos muitos casos de corrupção. Desde os tempos que Jô Soares fazia humor e perguntava " Mas só eu? Cadê os outros?" Pode ter faltado atitude, conhecimento jamais. Sim posso estar errada, mas vejo lenha na fogueira e não é que eu deseje água fria na fervura. Nosso país carece de equidade e não de incentivo ao desespero.
Não sou apolítica, sou uma cidadã que ficou "de saco cheio" da política, isso já faz um tempo e tornei-me apartidária como a grande maioria, que se fossem pelos partidos políticos já estariam se insurgindo há tempos frente às coligações que são feitas para se vencer eleições . Quem pode ter tanta paciência com a política brasileira?
Depois da euforia lá nos anos 80/90 de ver voltar os exilados, a alegria de portar um título de eleitor e ter partidos políticos em todas as cores para escolher, foi me nascendo uma certa melancolia por sentir que a democracia que nascia, não era exatamente livre e democrática. A obrigatoriedade do voto é um descrédito à população e, faz tempo que não me sinto representada por ninguém que esteja por aí. Votar assim, não me parece democrático.
Se não sou polítizada, não chego a ser ignorante,  sei que não sou analista política e acho a história política do nosso país tão complexa, tão cheia de nomes,  nuances, relevos e com tantas entrelinhas que penso, há de se ser muito foda pra compreender o que no meu raciocínio é ou deveria ser simples à beça:
Um politico eleito é como um trabalhador que precisa executar bem o seu trabalho, da forma correta para que os objetivos da "empresa" (no caso nós cidadãos) que o remunera para isso sejam atingidos. Não é simples? O povo não "vai de" partido, "vai de" emprego, trabalho digno, escola, hospital, saneamento básico, segurança, transporte, essas coisas que oferecem dignidade e qualidade de vida todas tão conhecidas dos políticos que é prometendo-as que eles se elegem.
Tive alguns empregos na vida, de uns eu gostava, de outros não. Mantinha-me fiel ao trabalho porque custeava minhas necessidades às vezes também alguns luxos e alegrias porque trabalhador não é escravo.
No entanto, alguma coisa deu errado no sistema como um todo. Por exemplo, o jogador de futebol, atacante, é um trabalhador que é pago para fazer gols, mas com alguns chegando ao estágio de endeusamento, fama e alguns feitos, não importa tanto se ele faz gol ou não, quem perde o emprego é o técnico.
Políticos deveriam vir "de fábrica" com o sentido humanitário e ético muito afinados, desenvolvidos, mas parece que o sistema pode corromper a genética. Cargo político não deveria apenas ser um emprego, acho até que deveria ser um voluntariado.
Mas daí, que o cargo político reveste a criatura com uma aura de poder, talvez algo remanescente do tempo das realezas, que aqui foi adaptado à moda dos capatazes, capitães do mato, coronéis. O que os partidos políticos tem feito além de dividir os ministérios como se fossem sesmarias?
Na casa da minha infância, Getúlio Vargas era idolatrado, foi na escola da minha adolescência que soube que era um ditador. Fiquei constrangida por minha família, que jogou, numa certa conversa, na minha cara como fato incontestável que foi ele, mesmo ditador, que "livrou a gente da escravidão, criando o salário mínimo e gerou empregos com a CSN de Volta Redonda e que era homem de colhões e muita vergonha na cara, ao ponto de sair da vida para entrar na História por não compactuar com estrelismos e baitolices de vermes que pisam na cabeça do povo como se fosse pedra de passeio por meras vaidades pessoais". Nesse dia entendi porque os insetos, pequenos besouros que comiam as plantas da minha avó eram chamado de "Lacerda".
Então, eu que tinha de cantar, em forma e posição de sentido, o hino nacional, todos os dias no pátio da escola e, no caderno, a cada dia tinha que escrever um cabeçalho onde apareciam dentre muitas informações o nome do presidente do país, lembro bem de Médici e Geisel. Figueiredo me encontrou normalista e sem essa obrigatoriedade escolar, mas ainda tínhamos de saber um a um os ministros e suas pastas tão bem quanto as capitais do Brasil e a tabuada.
Minha família estava longe de ser perfeita e politizada, votavam por simpatia, conhecimento, às vezes até atendiam o pedido de algum amigo ou parente - nesse pedido quase sempre tinha uma promessa do político para o solicitante do voto. Essa família minha como muitas que conheci não faziam muita distinção entre Arena e MDB e quando o pluripartidarismo chegou, nada mudou pra eles que continuavam votando em indivíduos. Essa ignorância política não inclui burrice, analfabetismo ou status social, pois, já quase adulta vi gente fina, descolada e endinheirada votar no Collor porque o achavam bonito, ou porque era jovem. Vi alguns menos ricos e até desfavorecidos que votaram porque ele era "caçador de marajás". Já havia ali o desejo de ver punido aqueles que enriqueciam com um cargo que antes de mais nada é prestação de serviço ao público.
Vi crises várias porque elas caiam direto na nossa mesa. Lembro de ter ido com mãe ou irmã pra fila do óleo, do feijão, da carne, produtos que escasseavam, encareciam e eram racionados mas não foi só isso, faltou muita coisa como farinha de trigo, o pão ficou caríssimo, batata e coisas menos importantes, sendo que nada substitui o pão, que é o "bate-entope" mais prático da cidade - por isso que emagrecer é mais difícil para quem não é rico, come o que enche, não necessariamente o que alimenta.
Vi o "gatilho salarial" do Figueiredo, os "fiscais do Sarney", o cruzeiro, o cruzeiro novo, o cruzado, o cruzado novo, a URV que era igual a 1 real. Vi o real em cédula! Vi as favelas nascendo, crescendo, cercando estrangulando o bairro. O povo indo morar cada vez mais longe do Centro. Morando em barracos ou contêiner colados às obras dos bairros que cresciam e depois serem enxotados pra longe. Vi desapropriações, demolições, o desmatamento dando vez às favelas e agora comunidades. Vi "polícia mineira", o "esquadrão da morte", "o mão branca" e quando eu via essas coisas descobria que não eram novidades, muita gente já tinha visto tudo isso antes.
Vi o meu primo ser preso inúmeras vezes até não voltar mais.
Ouvia minha mãe recomendando aos meus irmãos que não esquecessem a CTPS, mesmo que estivessem elas virgens como uma donzela (podiam provar que estavam pelo menos procurando emprego). Eles tinham que voltar cedo das suas diversões e não deveriam formar grupinhos nas ruas. Era bom que evitassem a Zona Sul, o Centro, bem como bairros asfaltados com movimento de carros porque às vezes a polícia atirava e era mais fácil jogar alguém à força dentro de um veículo. Eu era filha caçula e as recomendações era não falar com estranhos é às vezes nem com conhecidos.
As mães de jovens viviam com medo e o melhor era fazê-los andar na linha, calados e de cabelo curto. O melhor era não chamar atenção. Porque o Fulano, filho de Sicrana, brigou com um vizinho então, só de raiva, por vingança, Fulano foi denunciado como comunista subversivo e desapareceu. Também Rogerinho desapareceu depois de tantas vadiagens porque estava na esquina sem camisa, porque tinha cabelos longos e cacheados (pra que deixar crescer cabelos cacheados ou crespos?), porque batucava na mesa de um bar, porque era visto conversando com o viadinho da rua. Mais tarde Marquinho também desapareceria porque tinha modos efeminados. Os caminhos políticos destruíam vidas apolíticas e apartidárias.
E tudo isso aconteceu, tanto tempo passou e tão pouco mudou, parece que o mal cresceu e ninguém pensa no bem estar de ninguém. A política deixou de ser recurso e virou arma. Ninguém está realmente preocupado em punir corruptos culpados, mas há a sanha de ódio de ver humilhados alguns culpados. Ninguém pensa no que vem a seguir, a questão não é o problema dos brasileiros, mas talvez alguns dos incluídos na lista de quem causa esses problemas.
Eu ria do Brizola quando ele denunciava a emissora de TV, não avaliava que o povo que fez parte da minha infância acreditava piamente no que "deu no jornal" ou "deu na TV". Achava sim esquisito que um homem engravatado, bem arrumado tivesse sua palavra por mais absurda que fosse sem contestação. Pela roupa os humildes chamavam a figura bem vestida de doutor. O vereador era senhor doutor, ainda que não tivesse escolaridade alguma. Eu vi muita coisa que só agora percebo o contexto. Em 2013 fui às passeatas, aquelas do 20 centavos. Numa delas tomei uma carreira e me refugiei dentro do Souza Aguiar, de lá vi o gas lacrimogêneo subir, passei dias ouvindo o som das botinas atrás de mim, eu, praticamente uma senhora sem condição física, corri como uma atleta olímpica e via depois no noticiário badernas que não éramos nós, povo que foi às ruas que fazíamos.
Agora estou vendo um impeachment chegando patrocinado por um corrupto indiciado e que mesmo diante de provas diz que não tem conta no exterior. Tenho medo do que essa vida ainda vai esfregar na minha cara para que eu veja. Tô cansada de ver.
(Tia Adelaide)

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