21 de set. de 2009

PASSANDO ALIMPO


Eu deveria dizer pra você que eu sei que  viver dói.
Do quanto eu sei o tanto que crescer dói.
Deveria ter dito que só escreve bem quem sente a dor 
na mesma proporção que pode gargalhar alto e repentinamente.

Dissesse isso e talvez eu não tivesse ouvido que as minhas palavras são belas.
Eu não teria te respondido que prefiro as palavras certas, essas sim, são belas!
Dissesse eu tanta coisa que ia por trás dos meus olhos eu não teria me magoado.
Eu não teria permitido que você me magoasse.
Mas que diferença faz se quando magôo alguém me sinto ferida também?

Eu não me arrependo, porque sei em sã consciência que jamais te feri.
Eu achava que você era um pouco como eu.
Eu sei o quanto dói as dores de uma bipolaridade que hoje é um clichê de gente mimada.
Eu pensei que você estava no mundo dos incompreendidos que sofrem 
por não saberem ser claros o suficiente por mais que esclareçam.

Eu pensei que você estivesse no grupo daqueles 
que não se expõem 
porque a frágil fibra do coração é de aço, 
se não quebra, deforma-se ao expandir-se.

Eu pensei que você pensasse que o mundo é sinistro e maldoso.
Eu pensei que você vivesse de modo desconfortávelno mundo.
Eu pensei que você precisasse, como eu, de ter um momento 
ou alguém que fosse possível tirar a máscara do socialmente aceito 
e daquilo que as pessoas precisam ver na cara da gente…

Eu confiei em você.
Eu pedi que você jamais me traisse.
Você me traiu e pra te desculpar fiquei com a culpa, criei a desculpa
inventando que essa traição era coisa adolescente, 
uma forma de não ver os segredos expostos num briguinha qualquer de escola ou escolha.

Eu sei, a gente cresce e não esquece 
que atacar o outro é a melhor defesa, 
que é fácil bater em bêbado, 
que se o cão é manso nada demais chutá-lo.

A criança é perversa e bota o dedo na ferida 
ela não sabe o que é dor.
Muitos de nós crescemos assim.
Sem um nome certo para aquilo que sentimos, 
mas com o golpe certo para passar para o outro aquilo que nos incomoda…

Pra você foi simples assim.
Se muda.
Emudece.
Vai.

E é só chamar isso de crescer.
E é só dizer que isso é se proteger.
Adultos se protegem, porque  no outro se espelham

É facil dizer:
bati em você, mas não foi por você foi por mim…


Eu deveria ter contado que eu sei que há amores 
eles nos são impostos por laços 
que não necessariamente atamos 
que por isso se tornam nós que vamos ao longo da nossa obrigação de viver, apertando.

Eu deveria ter falado o óbvio:
amar os pais, mães e filhos somente por isso 
ou quem sabe pelo tempo convivido 
ou mesmo  pela barra pesada e forçada que temos que segurar. 
Que amigos escolhemos e isso faz deles os seres mais sagrados do mundo. 
Mas porque dizer o que é recorrente?

Eu deveria ter dito que eu não sou uma pessoa comum, 
mas isso qualquer um que me conheça sabe.
Eu não sei se vou dizer o quanto me dói sentir o que estou percebendo. 
Eu sofro pelo que não há e me dói o que não houve.

Pensar que aquela pessoa que eu via e me demonstrava precisar de proteção, 
esperar de mim compreensão é simplesmente uma pessoa 
sempre pronta a partir justamente quando as coisas dão certo 
ou simplesmente por que as coisas dão errado.

Eu não quero pensar que você foi uma fraude.
Eu não quero pensar que você é uma pessoa mimada 
daquelas que querem tudo e não sendo tudo, preferem o nada…

Eu preferi não dizer tantas coisas porque eu ia magoar você. 
Ainda que você tenha preferido um caminho de ironias e dissimulações.
De tudo isso fico feliz:
Você consegue ir pelo caminho mais fácil. 
Mas eu não sei se isso é bom, 
para mim não seria.

Ainda que você diga que veio a mim dizendo verdades, 
eu não entendo. 
Nada foi mais sem verdade quanto os motivos que você me deu.
Você jamais me reconheceu. 
A minha ingenuidade jamais te pareceu verdadeira 
e eu tola, achei que pudesse te mostrar, te convencer. 
Talvez você tenha desistido e vai se fácil esquecer.
Se fosse um amor eu esqueceria muito mais facilmente.
Se fosse dor eu me curaria rapidamente.
21092009 – 13102009

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