6 de nov. de 2010

A Suprema Felicidade

Eu  gosto do Jabor, aquele
cheio de verbos, empolgado. Quando leio seus textos, até consigo ouvir sua voz
e ver seu dedo enérgico em riste a cortar os ares. Então, esse excesso de verbos transpassaram para o filme A Suprema Felicidade...


Achei bonita a produção, a reconstituição de  uma época onde tudo era tão importado, tão
estrangeiro principalmente a sensualidade.  Se imediatamente ao sair do cinema, me
perguntassem  sobre o que trata o filme, minha
resposta imediata seria... Sobre o fim das coisas! Sobre o que mesmo
considerado correto está errado, ou não deu certo...  Sobre os caminhos que a iniciação sexual  nos idos 50...
Se tivessem me contado que o filme é autobiográfico, talvez
eu o entendesse melhor. A mim pareceu que os argumentos que compõem o filme
seriam suficiente para umas três produções.
A relação de Paulo (Jayme Matarazzo ) e seu avô Noel (Marco Nanini),
o relacionamento dos
pais de Paulo,
 a iniciação sexual de Paulo.
Sendo uma biografia entende-se esse
tudo ao mesmo tempo, é assim que a vida é. 
Como se fossem vários episódios compondo um mesmo filme, as cenas se
vistas isoladamente já depreendem em si um valor, um fato, uma mensagem. Por
isso  cheguei a pensar que Sofia (Mariana
Lima)  a mãe de Paulo  teria enlouquecido, seria a informação de que
mulheres reprimidas e castradas surtam mas voltam  logo ao normal, ou simplesmente uma  reminiscência do diretor?  Ou ainda uma anotação: ‘Olhem, naquele tempo
era assim, as mulheres eram escolhidas pela  beleza e carisma e acabavam verdadeiras
trancafiadas em nome da oral e dos bons costumes’...
O comprador de quinquilharias (Emiliano Queiróz) que não
aceita as recordações de família fala de um comportamento ético que se perdeu
no tempo. O pipoqueiro  falastrão, Bené
(João Miguel) que ainda existe em algum subúrbio longínquo dá um tom divertido.
 
As imagens são belíssimas mas algumas passagens me  deixaram no ar e assim talvez seja na obra
porque assim é na nossa vida. Mas que algumas cenas poderiam não ter existido,
com certeza, como por exemplo,  a cena em
que aparece um teco-teco a fazer malabarismos e Sofia feliz e saltitante grita:
”ele faz isso por mim!” E  abraça o filho
que nesta cena tem  8 anos embora ela
traga a caracterização  de quando
ele  tem 19...
Talvez  Jabor tenha
aproveitado  o filme para uma terapia,
para incendiar seus navios e contar como era bom poder freqüentar bordéis,
pagar pelo sexo e ainda escolher com quem 
fazê-lo. Talvez tenha ocorrido algo similar à cena do eclipse e isso
justificaria seios nus fora de hora.
Talvez tenha querido dizer que a suprema felicidade não está
na eletrônica e informações full time em tempo real, mas em a partir da nossa vivência
poder fazer escolhas de acordo com o nosso afeto e fé. Que ser criado em
colégio de padres não era uma boa contribuição à religiosidade das pessoas, que
freqüentar prostíbulos e bordéis não faz de ninguém um tarado. Que  a despeito de tanto glamour importado os
mortos eram carregados em carroça à luz do dia em nome de um  atraso científico na capital federal e no
país, mas que não era  isso que tornava
as pessoa infelizes.  Que Paulo sempre
gostou de meninas complicadas,  principalmente por seu amor começar a partir
dele mesmo em sua imaginação, sonhos e fantasias. Que tanto faz catolicismo ou
espiritismo, religião é algo pra envenenar a realidade das pessoas.


Nanini está magistral como Noel, o avô de Paulo – mas quando
foi que este ator foi menos que 
maravilhoso? Dan Stulbach é de uma competência emocionante mostrando que
amar não é o suficiente para que se seja feliz ou para fazer alguém feliz.  Elke Maravilha no papel de ex-prostituta
casada com o avô de Paulo,  bem que
poderia ter um aproveitamento melhor, mas é que me parece que Jabor estava a
fim de falar mesmo do universo masculino....Cabeção, o amigo de Paulo ao se
perceber homossexual, ao demonstrar (para a platéia, porque a anta do Paulo só
pensava  em Deise, a maluquete médium Maria
Flor) que amava Paulo some num cenário enfumaçado como se fosse pro tal reino
dos céus chato e carola apregoado pelos padres... Entendo Jabor, você nunca
teve tendência a ser gay e que deixar isso bem claro nesse filme que não é  autobio gráfico,mas era assim que se fazia com
os amigos naquela época , jogava o cara na névoa do esquecimento? Não sei , mas
é fato que depois de tudo,  o que fica são
impressões que resultam no perfil que criamos de nós mesmos. Não tem como não
ter saudade da nossa infância, não tem como no final de tudo avaliarmos que
fizemos o melhor com o sempre pouco que temos no momento de decidir.  Não tem como pensar que neste A Suprema
Felicidade, ninguém era feliz nem alegre... O mais feliz se confessa apenas alegre e conta teve 10 minutos de suprema felicidade.
 Paulo era um cara
intenso, curioso com pressa de  viver,
fora o avô e as putas não tinha muito com o que se alegrar, saber que a
felicidade não existe, com sorte somos alegres até que não foi tão ruim, chato
foi a decepção que me acompanhou na saída do cinema eu preferia como Paulo  acreditar que a felicidade existe se sair procurando por ela. Divertidas  as participações cenas com os padres  (Ary Fontoura, Jorge Loredo e Raphael Molina) e suas maldições infernais.

Mas sei lá, achei esse Paulo um temendo de um egoísta pelo seu comportamento alheio à família, por representar o jovem de sexo masculino de uma época e as  em que as garotas segundo Jabor "não davam" e vagar pelos bordéis sempre a escolher e não comer ninguém e terminar por acabar com a fonte de renda de Marilyn e sua mãe. Aos egoístas, mesmo os poucos 10 minutos de felicidade suprema será negado talvez por isso um filme tão nostálgico onde ninguém consegue realmente estar feliz ou alegre...

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