O maior castigo que
um ser humano pode sofrer é o desprezo e o esquecimento. Aturamos ser odiados e caluniados porque
podemos nos defender, xingar de volta , processar e de certa forma lucrar com
isso. Mas como reagir diante do desprezo e da indiferença?
Nossa sociedade machista tem o dedo em riste, pronto para acusar e para deletar pessoas, desde o tempo que a
informática ainda não existia, não obstante que o acusado tenha feitos e valores, principalmente no que diz
respeito à mulher. Pequenas sutilezas
que ampliam uma inverdade até transformá-la em verdade absoluta. Sobre Lota Macedo Soares, é dito que era uma autodidata e isso, se por um lado releva o seu talento para a Arquitetura, pode lançar dúvidas sobre a sua competência. No entanto a moça filha de brasileiros, nascida em Paris que veio para o Brasil com 5 anos de idade, “começa a ter aulas de arquitetura com Carlos Leão e em 1935 entra para o curso de pintura na Universidade do Distrito Federal, ministrado por Cândido Portinari”.
Ok, que isso não lhe concedeu diploma, mas não justifica a total omissão do fato de ter estudado.
Lotta teve “um relacionamento diário com Enrico Bianco, Burle Marx, além de vários outros artistas e intelectuais. Produz um work shop com Mário de Andrade, em 1937, participa com Portinari dos afrescos do atual Palácio Capanema, marco da arquitetura modernista, onde compartilha idéias com Lúcio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Moreira”.
Entre o exílio do seu pai e a transferência de todos os seus bens para o nome de um amigo a fim de que não fossem seqüestrados pelo governo, fato que gerou o desentendimento familiar entre eles, essa mulher de temperamento marcante, viveu abertamente a sua orientação sexual, viveu tórridos romances, protagonizou por 15 anos um triângulo amoroso, mas foi a sua paixão pela arquitetura e o ideal de transformar o Parque do Flamengo num a área de cultura que o Brasil ainda não tinha, que mudou o curso da sua história.
Não tivesse abandonado a casa de Samambaia, onde de certa forma recuperou o psicológico detonado de Elizabeth Bishop, não teria necessitado da assessoria de Mary. Poderia ter vivido muitos mais anos da sua vida feliz no paraíso de Petrópolis, com Elizabeth Bishop sob controle.
Alguma coisa na vida do ser humano precisa dar certo para que ele tenha um mínimo de felicidade e vontade de viver.
Elizabeth sentia-se sozinha em Petrópolis e veio para a capital, voltou a fazer do álcool companhia; a falta de tempo de Lota que se dedicava ao trabalho, os ciúmes de Elizabeth por Lota conviver constantemente com sua ex que lhe assessorava, as incompreensões e ataques dos políticos e burocratas de plantão da época ávidos por se apropriarem da obra da vida de Lota, mais um cenário político conturbado e disputas em família pela herança doada pelo pai, tornaram-se uma combinação por demais explosiva para aquela mulher que como qualquer um, ainda que sendo forte e decida tinha suas fragilidades.
Um pecado do filme Flores Raras, que segundo o seu
diretor, trata das perdas, foi exatamente deixar de mostrar com nitidez outras
perdas de Lota Macedo Soares. Focando a narrativa no relacionamento dela com
Elizabeth, apenas situando historicamente seu empenho e não mencionando a impossibilidade que assinasse a obra da sua
vida.
Elizabeth Bishop, poeta inglesa teve amplamente seu centenário comemorado no seu país. No Parque do Aterro do Flamengo, não existe uma placa sequer mencionando que Lota, sua criadora também deveria ali ter suas comemorações.
Lota Macedo Soares e repito esse nome quantas vezes aqui seja possível, foi uma personagem varrida da história, como um mal, num tempo que nem mesmo dinheiro, berço, cultura, talento, eficiência eram suficientes para tornar uma mulher visível.
No nosso cotidiano vemos essa história se repetir, é como se uma mulher nunca fosse boa o suficiente se não estiver pronta para consumo e uma lésbica ocupasse na hierarquia da nossa sociedade os degraus inferiores, não obstante seu talento e capacidade, pois se as mulheres hoje são vistas como mercadorias para consumo, afinal para que serve uma lésbica?
Se as mulheres exigentes e ciosas do seu
trabalho, são taxadas de mal amadas e mal comidas, se as feministas recebem o
rótulo de feias, mal amadas e mal humoradas. Se começa a ser percebido algo de
errado com as meninas que não fazem os
tais “quadradinhos de 8” (ou qualquer algarismo que seja) e se não há contextualização ainda que equivocada
para as lésbicas, num mundo onde mesmo o entretenimento do segmento LGBT, só
visualiza os sexo masculino, onde gays são
notórios por suas habilidades em algumas profissões ou simplesmente pelo
estereótipo de ser o melhor amigo da mulherada, a diversão dos programas
humorísticos, a diversão da galera.Elizabeth Bishop, poeta inglesa teve amplamente seu centenário comemorado no seu país. No Parque do Aterro do Flamengo, não existe uma placa sequer mencionando que Lota, sua criadora também deveria ali ter suas comemorações.
Lota Macedo Soares e repito esse nome quantas vezes aqui seja possível, foi uma personagem varrida da história, como um mal, num tempo que nem mesmo dinheiro, berço, cultura, talento, eficiência eram suficientes para tornar uma mulher visível.
No nosso cotidiano vemos essa história se repetir, é como se uma mulher nunca fosse boa o suficiente se não estiver pronta para consumo e uma lésbica ocupasse na hierarquia da nossa sociedade os degraus inferiores, não obstante seu talento e capacidade, pois se as mulheres hoje são vistas como mercadorias para consumo, afinal para que serve uma lésbica?
Para que afinal, serve uma lésbica, ciente, determinada e jamais embalada para consumo?
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