10 de mar. de 2014

Desrespeito, seu nome é mulher


Março é o mês da mulher. Meu editor pediu que escrevesse sobre as grandes mulheres de todos os tempos. Mas como conseguiria eu fazer isso, se empaquei diante da notícia de morte do pequeno Alex que teve o fígado dilacerado por espancamento? Espancamento constante e diário. Espancamento para que ele aprendesse a ser homem, para que deixasse de gostar de lavar a louça, para que aprendesse a andar como homem, para que mesmo criança perdesse o gosto por cantar e dançar.


Alex foi mandado pela mãe, da Paraíba para o Rio para viver com seu pai a fim de que 
Alex, o menino morto pelo pai, teve o fígado
dilacerado pelos constantes espancamentos
pudesse frequentar a escola. O pai de Alex tem antecedentes criminais, envolvimento com o tráfico de drogas, mas o que foi nocivo e fatal para o pequeno Alex é o pensamento vigente de que um homem tem que ter jeito de homem. Pai e mãe de Alex tem um outro filho que gosta de lavar a louça e que já foi espancado por isso e mudou-se, indo morar com parentes.

A sociedade no geral declara nas redes sociais que são compreensivos com os gays, alguns até tem amigos gays porque são “discretos”. Meninas lésbicas tem lá o seu quinhão de paz quando não são masculinizadas, porque "ainda tem jeito", precisam superar um “trauma” ou encontrar um homem que lhes mostre “o que é bom”, quando fazem o estilo “butch” recebem os piores apelidos.


Homens quando transcendem a trajetória da pobreza, escolarizados e ricos conseguem algum respeito por parte da nossa hipócrita sociedade, mulheres vitoriosas na carreira, independentes na vida,  ganham novos apelidos pejorativos, independentemente da opção sexual. Mulheres ainda que competentes, capacitadas e poderosas, precisam ser bonitas, jovens e magras para ganharem um respeito altamente desrespeitoso. 

E aí, para não fugir da pauta proposta pelo José Carlos, tivemos grandes mulheres algumas lésbicas que foram parar na vala comum do ostracismo. Tivemos grandes mulheres heterossexuais que amargaram os mais desprezíveis julgamentos. 

Ainda se cobra da mulher uma postura antiquada, proliferam as piadas sobre virgindade, sobre o amor feminino pelo status econômico dos homens. As heroínas que deram origem à comemoração do Dia Internacional da Mulher, eram operárias que reivindicando salários iguais aos dos funcionários masculinos, foram trancafiadas na fábrica em chamas durante o ato de protesto.

A reflexão sobre a condição feminina precisa ser muito maior que as comemorações.  O poder instituído não vacila em usar de todo o tipo de violência para enquadrar um ser humano na forma da nossa hipocrisia social arcaica. O homem que matou o próprio filho a pancadas, queria “apenas” que ele tivesse “jeito de homem”, para a mulher não basta ter jeito de mulher, ela tem que se enquadrar no modelo secular de subserviência, prestar obediência, agir como propriedade. 

Esse machismo é tão arraigado, que faz com que mães criem seus filhos de modo a dar sequencia a esse equívoco sexista. São as mulheres que criam os homens e lhes transferem conceitos que mais tarde serão usados contra elas.


A liberdade sexual trouxe novos ônus e não dispensa o crivo da crítica que faz da mulher independente uma vadia. A violência contra a mulher é sempre entendida como responsabilidade dela própria seja por suas roupas, seus hábitos ou estar em lugares errados em horas inapropriadas. Tal qual o gay, por mais que a mulher consiga espaço, terá carência de respeito. Há na nossa sociedade um profundo desprezo pelo feminino, não importando em que corpo ele habite.

2 comentários:

  1. Elvina Rodrigues24/03/2014, 12:27

    Adorei!!!Alias como tudo que escreves!!!

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  2. Mas que surpresa maravilhosa! Um comentário!!
    Obrigada Elvina!! Beijo grande

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