14 de set. de 2014

SEM TEMPO PRA DIZER ADEUS | DADÁ da MANGUEIRA

Dadá da Mangueira na Unidos de Villaa Rica - Ladeira dos Tabajaras
Algumas vezes Dadá da Mangueira, fez participação em eventos beneficentes produzidos por mim. Recusava ajuda de custo para transporte, levava sempre algumas pessoas com ela, dizendo que "era pra gastar" e ajudar no faturamento em prol das crianças.

Chegava, pagava entrada e quando eu dava pela coisa ela já estava lá ao meu lado sorridente e feliz.
Eu me constrangia um pouco com isso e ela dizia que enquanto ela pudesse, era só chamar que ela iria. As crianças e o samba eram duas paixões que tínhamos em comum.
Na quadra da Estácio quando ela chegava pra cantar, as crianças todas se chegavam pertinho dela, pediam foto e ela enquanto cantava brincava com os pequenos. Na Aliança dos Cegos batia muito papo com todos e não tinha quem não perguntasse quem era e ficasse fã.

Fora isso, foi uma das pessoas que curti de cara. Morria de rir com as suas brincadeiras, me emocionava com a preocupação que ela tinha para com o "velho" - seu marido. Ouvia seus conselhos de que eu deveria manter a minha alegria, nada de esquentar a cabeça, eu era boa e o o que era meu ia chegar nas minhas mãos, motivo pelo qual elas deveriam estar sempre limpas.

Uma energia transbordante, uma alegria contagiante. Convidei-a para gravar um depoimento, queria escrever e registrar sobre ela, porque não achava isso por aí.
Marido adoentado, minha separação e posterior mudança, ela mesma na primeira cirurgia que fez, alterações nos meus roteiros de trabalho e a gente se falava um pouco por telefone e o depoimento não rolou.

Às vezes pensamos que temos todo o tempo do mundo e aqueles que amamos, admiramos estarão sempre por perto. Mas não é assim. Que pena que não é. Ontem, numa apresentação fiquei sabendo da sua passagem. Um soco me atingiria menos intensamente. Nâo consegui saber muitas informações, apenas o essencial, ela tinha mesmo ido...

A noite perdeu a graça, chorei como não queria e hoje, olhos inchados, "cara de ontem", na festa ds crianças, muitas vezes lembrei dela. Seu desprendimento. Seu carinho pelos pequenos e seu dom de amadrinhar nós, adultos de almas inquietas e às vezes perdidos. Sua boca escancarada, o jeitão escrachado, a magreza rebolativa e seu famoso bordão:

"Dadá, não dá. Dadá empresta.
Obrigada por ter emprestado toda a sua generosidade e tanto de alegria.
Beijo onde você estiver, olha por nós e... Minhas mãos estarão sempre limpas para poder segurar qualquer um dos meus sonhos.

2 comentários:

  1. Que linda homenagem. Conheci Dadá no hospital onde faço quimioterapia e ela, embora frágil, contagiou a todos com sua alegria.

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  2. sim, era ela dessas!
    "Poderosa, divina,maravilhosa!!!"

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