26 de fev. de 2021

TEREZINHA



Tá foda. Quando estou me sentindo minimamente feliz ou um pouco satisfeita - com essas coisas todas acontecendo não dá pra ser feliz de verdade nem estar plenamente satisfeita - vem mais um catiripapo.

Dessa vez a porrada tem nome, sobrenome, digina e um pouco de história, que eu não tenho muita (história) porque diante dos relatos da Cristina Buarque, Tia Surica e talz, eu entendo que cheguei no samba na hora da xepa, mas uma xepa de samba é sempre muito melhor que o auge de um pagodez ou qualquer outra fase de sofrência.
Ela era número baixo. Tinha 87 ou seria 82? Não lembro. Eu não tenho memória privilegiada como ela tinha, seja lá com quantos oitentetantos sejam.
Tomava café da manhã na padaria: Uma Brahma bem gelada de dormida no gelo a noite toda e um sanduba de carne assada, considerado o segredo da sua longevidade e "inteirabilidade", pois que a danada da "Borboleta" lia sem óculos e sem ter que apertar os olhinhos. Eu morria de inveja disso.
Foi a criadora, fundadora e primeira presidenta (ou seja lá que nome tenha o cargo) do Departamento Feminino da Portela (e eu nem sei se outras escolas já tinham departamento feminino - corre o risco de mais um pioneirismo da águia), oportunidade oferecida pelo Carlinhos Maracanã, que ela chamava de Seu Carlos.
Me contou ela, que sempre teve paixão inexplicável e absurda pela Portela. Moradora da Tijuca, num tempo de casamentos feudais, ela atormentava o marido que não entendia bem a diferença entre Portela e Salgueiro, pra conseguir vir pra Madureira e muitas vezes veio escondida e sempre na marra.
Seu sonho era sair da Tijuca e morar perto da quadra da Portela.
Um dia a Portela ia pro Japão e ela foi proibida de ir pelo marido, que acabou na quadra ouvindo a solicitação do Seu Carlos para que permitisse que ela viajasse. E assim ela foi. Sempre reclamava da colega que pegou suas fotos do Japão emprestadas e nunca devolveu.
A Tia do Café. Minha parça de ir fumar um "cigarrinho ali fora". A parceirinha da Tia Surica de assistir Jequiti no cafofo nos dias de entre safra do samba, a porta estandarte do Bloco da Perereca Murcha Mais um baú de histórias periféricas portelenses, mais um monte de narrativas sem registro.
Eu tenho foto mas não tenho ânimo nesses momentos de catá-las. Eu fico mal comigo mesma porque ela estaria no Procuram-se Mulheres, mas não coube, era muita história e eu só tinha até 20 minutos. Procurei focar nas mulheres com carreira em andamento acreditando que o filme poderia de alguma forma ajudá-las e decidi deixar Tetê, para uma outra fita junto com a Verinha que foi a Primeira locutora, relações públicas e mestre de cerimônias de uma escola de samba, além cantora e compositora. Veio a pandemia, parei tudo porque essa minha gente é por demais presencial, mal tem redes sociais e estão em idade de risco relacionado à covid.
Enfim, agora não sei se fiz bem.
E pensar que quando eu tiver um pouco de normalidade e puder retornar aos meus espaços, vai ter muito vazio de ausências esperando pela alegria do meu retorno.
Que panorama é esse, onde até as coisas boas são emolduradas por coisas tão difíceis?
Não ver nossa Terezinha na quadra vai ser um aperto no peito e um ressalto para tantas ausências.
Tia Tetê, vai logo! Seja Luz!
Eu me viro.
E a gente vai te amar pra sempre.

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