17 de set. de 2015

O MEU BAR

Não sei se vocês sabem, mas há tempos fui uma feliz dona de bar. Bar este que um dia foi uma birosca. Antes era venda de cerveja na porta e acabou virando um restaurante que além de servir comida (rápida e demorada), servia para transmitir jogos de futebol em telões, no tempo que tela grande era coisa de cinema.
Também servia como um cineclube onde as pessoas deixavam na caixinha de sugestões o filme que queriam ver na semana seguinte. Aos sábados tinha um pagode com um grupo que podíamos chamar de Os Amigos da Vizinha e por fim, escondidinhas na garagem ficavam umas mesas cobertas com paninhos verdes e uma mesa de sinuca.
Foi nesse cenário de muro baixo com grade, guardando uma casa verde esquina, que eu finalmente lá por volta dos meus vinte e tantos anos, comecei a conhecer a humanidade (a desumanidade, também), ali eu tive os contatos mais consistentes com as pessoas. Ou seja, larguei da vida de menina que queria ir (e foi) para o convento, de garota protegida, filha caçula criada com todo puritanismo em nivel hard suburbano, para conhecer as pessoas do mundo, frequentadoras de bar. Logo eu, abstêmia e não fumante, hábitos que adquiri depois dos 30.
Em comum com os meus frequentadores eu tinha apenas o profundo gosto por uma prosa à toa. O balcão era quase um confessionário, Eu era ainda bem lindinha e tinha lá uns fregueses para os quais a cerveja era penas o pretexto de cantadas insistentes que eu deixa rolar, pra não perder o cliente nem o amigo. Deixava os coitados na ilusão da possibilidade remota e o pé de comigo-ninguém-pode completamente alcoolizado, pois não adiantava eu dizer pros camaradas que eu não bebia, sempre o segundo copo era cheio, esse copo era para mim e como eu não bebia, a plantinha me fazia essa gentileza. E que ninguém do Ibama leia isso, porque a planta continua saudável e verde e abandonou o álcool, diferentemente de mim. O que a gente não faz pra sobreviver!

O meu bar era um celeiro de filósofos, afinal, estamos no Rio de Janeiro, né? Dois inesquecíveis: Paulinho "Mecânico" cuja citação preferida por mim era: "Assim como são as pessoas, são as criaturas".
E o "Barriga", ex-bandido evadido da Mangueira, que de lá trazia como lembrança 2 relevos na canela e panturrilha que abrigavam duas balas calibre 32. Barriga chamava todo mundo de "Vizinho", falava com a língua meio presa, tinha um cabelo inacreditavelmente esticadinho, era esquisitinho pra caramba e dentre sues vários bordões, o meu preferido era:
"Se da, dá. Se não dá, não dá, mas bota uma Da Roça no meu copo, porque seco é muito difícil, vizinha!"
Pois, é. Confesso que vivi.

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