6 de mai. de 2021

Como Apagar Uma Estrela [1]





Estou lendo um livro que tem 49 anos. Exemplar 1061, da editora Sabiá, que virou Jose Olympio, que a Record encampou. Eu leio esse livro porque me identificava com a autora. Eu tinha menos de 8 anos e entendia que escrevia muito parecido com ela ou queria ser ela quando crescesse. Lia sua coluna no jornal às quartas-feiras e enquanto existiu. Alfabetização e letramento literário. Além disso, achava ela linda. E quando ela desapareceu, menos de 10 anos depois, sem morrer, não entendi nada. Por esses dias lendo teorias feministas, reportagens mulheristas, entendi tudo. Mas queria ter certeza...
No mês de março decidi me dar um presente: Todos os seus livros, 9 no total. Até que não fui infeliz na empreitada. Chegaram 7, o oitavo está a caminho e o nono não vai chegar. O único exemplar que encontrei disponível está custando mais de 400 reais naquele transe absurdo do Estante Virtual.
Existe uma grande diferença entre 8 livros entre 4 e 10 reais e um único livro do mesmo gênero a preço extorsivo. Sou capaz de trocar almoço e janta por um livro e um sanduba de pão com ovo, mas alimentar essa perversidade de um mercado de raridades fabricadas levianamente, não rola.
Ela era uma grande cronista, tremenda escritora, vendia livros aos montes. Belíssima. Eu penso que sua carreira declinou a partir de um episódio pessoal e depois disso, nenhuma reedição, nenhum relançamento, nenhuma atenção para o que ela fez depois e total apagamento para o que já estava feito, antes. Ela foi resumida à sua própria tragédia que em verdade era um direito. Direito que nenhuma mulher tinha. Naqueles tempos as mulheres não tinham o direito de falhar, mesmo que brancas, ricas, bem nascidas. O que é lamentável. Somos cruéis com os vencedores e crudelíssimos se forem vencedoras
Se eu não estivesse tão triste falaria mais sobre ela, mas se falo, certamente cairia em prantos. Deixa pra outro dia. 

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