24 de mai. de 2008

Por que precisamos ser unânimes na aprovação da maioria?





Na fila de uma das cults e incensadas salas do circuito Estação, uma moça vê o cartaz do mais novo filme de Woody Allen e comenta com seu amigo: “-não suporto Wood Allen.” Atrás deles um rapaz comenta com o amigo (dele) “-Essa fila não anda e a gente tem que ouvir isso! Bem, é melhor ouvir do que ser surdo...”.

Woody Allen é um grande diretor, ninguém teria uma carreira tão longa e bem sucedida se não tivesse lá seus méritos, então, isso não se discute. Mas que ele tenha que ser venerado por todos os seres viventes, cinéfilos ou meros freqüentadores das salas de projeção, pode ser digno de controvérsia.

A pergunta que não quer calar é por quê? Por quê precisamos ser unânimes na aprovação da maioria?

Nos anos 80 as academias começaram a ter destaque na vida de ricos mortais e depois de saudáveis-ricos-mortais e de repente de todos-os-mortais ricos ou não, saudáveis ou não. Vamos combinar que usuários de “bombas” e “ratos de academia” estão menos preocupados com a saúde do que com seu perfil estético e o lucro que advém deste perfil estético-atlético-adquirido e essa fugaterapia-ocupacional. Por quê?

A academia que inicialmente era coisa de rico e vídeo de Jane Fonda apareceu na novela de Gilberto Braga. Claro que com essas credenciais tinha que trilhar um caminho de sucesso e depois popularizar-se como a parabólica, o vídeo cassete, o celular e todos os seus filhotes de última geração...

Sabemos onde o gosto alheio surge como uma tendência e vemos como ele se expande como uma moda. Só não conseguimos identificar, onde e como o gosto e a opinião alheia infiltram-se na nossa vida, nos fazendo correr atrás de sonhos e padrões que por natureza não teríamos jamais, ou seja, criam uma necessidade que não temos e transformam-se em imposição.

É bom ser magro? Pode ser que seja, mas não é bom ficarmos tristes por não termos sido abençoados com o dom divino da magreza. Não é legal ficarmos desesperados por não possuirmos a virtude da disciplina de seguirmos uma boa dieta. É péssimo deixarmos de gostar de nós mesmos porque não saímos da mesma forma que gerou a Barbie ou a Suzy ou a Bündchen...

Onde foi que você começou a concordar com a história que a mulher perfeita não tem celulite, tem cabelos progressivamente maleáveis, pernas Hickmann e sabe sambar globelezamente?.

Quando foi que você percebeu que bicha legal é a que não tem pinta?
Que lésbica de nível é a que segue o estilo “lesbian chic”?.

Sucessos de bilheteria e recordes de vendas,elevam pessoas - operárias de seus ofícios- à categoria de gênios. Nem por isso elas deixam de ser questionadas pela galera “do contra”, que por ter outras preferências, abominam o que se torna referência e agrega faturamento. Até parece que não é objetivo de quem trabalha (não importa em qual segmento) obter reconhecimento e por tabela fama e s-u-c-e-s-s-o!

Sucesso é uma coisa interessante, alguns que chegam a ele se tornam intocáveis e são aplaudidos, não apenas pelo que fazem mas também pelo que já fizeram, não importando o que irão fazer. Outros não poderão jamais por o pé fora da faixa... Viram ícone de maldição e o normal é sofrerem o atropelamento constante da crítica.

As novidades instigantes, cobiçadas geradoras de moda, podem ser rebeldes, contestadoras e muitas vezes são contestadas num primeiro momento, mas uma vez abençoadas, copiadas, seguidas à exaustão, caem em desuso, ganham um rótulo de brega, no entanto se tem alma jamais perderão seu valor. Taí o Roberto Carlos, que depois de ser vanguarda com a “Jovem Guarda” e lançar novos artistas,moda em roupas, acessórios, música e também vocabulário, hoje, só deixa de ser brega quando cantado por Eliana Printes, Rita Ribeiro, Isabella Taviani, Simone, Skank,Barão, Bethânia, Ana Carolina e tantos outros bons, cults, modernos e modernosos. Resumindo: Ser desvalorizado por seus contemporâneos, não significa ser desprovido de valor e validade.

A pergunta é: Por quê? Porque alguns dos nossos gostos precisam ser exercitados no escuro, escondido como quem assalta uma geladeira durante o regime?
Por que algumas das coisas fora da nossa preferência precisam ser exaltadas por nós em público como se fossem importantes pra nós?
Assim como uma estante lotada de livros que nunca lemos.
Como “colar” num famoso e parecer íntimo dele.
Como “grudar” naquele ser lindinho pras pessoas acharem que estamos “namorando”.
Como arrebentar o cartão de crédito pra ter uma roupa que só nos faz bem aos olhos dos outros
E já que falamos em roupa, é como entrar inteiro no armário quando é apenas uma parte da nossa vida íntima e pessoal que a sociedade não aprova...

Se temos a oferecer muito mais que o sexo e possuímos conteúdo muito além da sexualidade, pra quê o foco na opção/condição sexual?
Será que isso não amplia o poder “dos outros” num assunto que só a nós diz respeito? Será que isso não nos faz cúmplices do preconceito que tanto combatemos?

É um pouco como passar pela dor-de-corno ouvindo “Detalhes”, ter um “Amigo de fé, irmão camarada” mas dizer pra todos que detesta Roberto Carlos.
Tipo assim: Ter várias prateleiras lotadas de Caetanos antigos que se acha barulhento, Caetanos novos que não se entende picas, ao lado de Miltons que é tudo de bom, mas não conseguimos ouvir todas as músicas de um CD que não seja coletânea.

Um comentário:

  1. Este é o texo integral. Às vezes eu escrevo demais, às vezes tem espaço de menos... As duas situações me parecem muito positivas!

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