14 de nov. de 2008

FOSSA

Quem tem menos de 40 deve achar esquisito o termo estar na“fossa”. Eu diria que estar na “fossa” é uma maneira elegante de dizer que se está na “M”, quando esse estado se dá por um motivo afetivo, sentimental. Motivações econômicas e práticas embora nos deixem tristes, são uma M e ponto, não dá pra ser elegante!
Então, “fossa” remete a um tempo em que havia uma elegância na forma de manifestar nossas tristezas do coração. Havia uma delicadeza pra transbordar nossa “dor de cotovelo” que vem a ser um eufemismo para inveja mesmo! Naquele tempo tínhamos letras que diziam “quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora”. “Meu mundo caiu e me fez ficar assim.” “Quando você me deixou meu bem/me disse pra ser feliz e passar bem/Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci/Mas depois como de costume, obedeci.”
Era o pessoal da fossa de antigamente os “góticos” ou “emos” ou “darks” de hoje? Não sei. Quem for jovem e entender dessas tribos por favor, mande e-mail pra essa coluna e me atualizem, será um prazer! O que sei é que algumas tristezas de tão tristes se tornam engraçadas. Porque o porre pra ser bom tem que fazer rir depois que passa e, fossa boa é a que passa nos deixando novinhos em folha depois, no maior estilo “reconhece a queda e não desanima/Levanta, sacode a poeira, dá a volta por cima! Quem acompanha o humorismo já deve ter percebido que as grandes piadas nascem de fatos muitas vezes, absurdos, constrangedores e até desastrosos, quem já assistiu espetáculos gays sabe disso. Ver uma Suzy Brasil tirando onda com a sua “belezura”, Uma Desirreé belíssima, mencionando a sua “Jacaré” city, Lorna Washington com as peripécias dos suburbanos e muitas outras grandes personalidades bem sucedidas no que fazem (lembrando que bem sucedido nem sempre é grande fama e fama nem sempre corresponde a um trabalho bem sucedido) pode não ter parado para pensar, mas vai entender do que falo. Certas coisas nos acontecem e doem tanto que ou partimos pro “araquiri”, ou, depois de provar um pouco daquela dor vamos ao riso, que se torna uma ferramenta de sobrevivência social. Resumindo: Quando não tem jeito, resta sorrir, é sorrindo que tudo parece passar ou melhorar, taí o carnaval que não nos deixa mentir sozinhos!
Existe na alma da maioria das pessoas. Uma inconformidade em ser triste, porque a tristeza não atrai e se aproxima é por pouco tempo. O triste em excesso quase sempre vira uma “mala” difícil de carregar, que sempre nos faz lembrar de um compromisso de última hora...
Grandes obras têm seu punhado de tristeza, e percebo que muita gente “fossilda” não é somente e/ou tão triste como a mídia mostra, porque a sobrevivência em meio às grandes tragédias pessoais nos tornam mais experientes e de certa forma inteligentes emocionalmente, quem não evolui não tem bom humor!
Então fossa é ou deveria ser um estado transitório ou com o qual se pode aprender a conviver até sorrindo enquanto não passa. No seu momento inicial (quando a pancada acontece) pode ser uma “deprê, um desespero e se não passar, se torna “baixo astral” e gente baixo astral sai das listas de convidados, passando a ter motivos eternos para a sua eterna tristeza.
A fossa, sua duração e conseqüência, estão relacionadas com a nossa capacidade de lidar com dificuldades, com a nossa habilidade para resolver problemas, mas fundamentalmente com o nosso gosto pessoal. Ficar triste é normal, fazer da tristeza um estilo é pessoal. Pode ser uma escolha, precisamos estar atentos para de um estado de tristeza, não nos tornarmos eternamente tristes se essa não for a nossa praia (praia? Gente triste vai à praia? Vai. Sozinho, quando está vazia, ouvir o som do mar e sofrer romanticamente. Por favor não confundir com gente alegre que não gosta de praia). Ser corno, assim como chorar e sorrir pode ser um ato, um fato, uma ocorrência, uma tragédia, uma experiência ou um prazer. Sim, porque mesmo não sendo agradável,existem pessoas que sempre procuram por isso e, como quem procura acha... É um motivo pra ligar pro amigo, pra se ter assunto, uma desculpa pra se encher a cara, cair na night ou sair chifrando aleatoriamente por aí.
Já que hoje estou didática, vamos a duas linhas de cultura: Elegia na Grécia antiga, era primeiramente um estilo caracterizado pela forma, eram cantos de guerreiros que incitavam à luta! Depois, tornou-se um estilo poético caracterizado pela tristeza dos amores interrompidos pela infidelidade e pela morte. Você não acha muita coincidência?! É, queridos e queridas, tristeza, fossa ou deprê são entidades que não podem viver no nosso corpo muito tempo pra não se transformar em possessão! Tem o momento de curtir, sim, mas a palavra de ordem é “saia desse corpo que não te pertence!”
Vinícius de Moraes, Carlos Drummond e Caetano Veloso produziram vários textos com títulos de elegia. Por exemplo. Elegia Desesperada e Elegia Lírica. E se falamos desses poetas, não estamos falando necessariamente de tristeza eterna. Estamos falando de vida e muito amor. Amor é coração, coração é corpo, corpo é vida e vida às vezes dói, mas por mais que tenhamos motivo de tristeza, a nossa grande alegria é ter todos os dias um dia novo pra viver. E não esqueça: gente baixo astral, é excluída de qualquer lista para coisas boas e a características dos inteligentes é o bom humor!
De que lado você quer estar? Se seu mundo caiu, aprenda a levantar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade pra dar sua opinião.