3 de set. de 2009

(SIMPLESMENTE NÓS. CLARICES)

Eu leio desde menina coisas que me impressionam profundamente.
Eu escrevo desde menina por ser uma pessoa que se impressiona profundamente, contudo, não sou um ser impressionável, simplesmente por não ser facilmente impressionável, mas impressiono-me profundamente. Há um abismo tão gigantesco entre o fácil e o profundo que eles são quase antagonistas de uma mesma ficção.

Impressiona-me a vertiginosidade de alguns autores e como alguns textos escritos por pessoas tão culturalmente diferentes de nós podem ser parecidos conosco.
Impressiona-me a minha timidez em declarar coisas como se eu fosse provida de uma modéstia falsa, pois que tratando-se de modéstia tanto a falsa quanto a verdadeira, são incômodas. Porém a falsa modéstia é útil e a verdadeira é um traste inútil, inutilizante. E aí se dá a magia de pensar e analisar sem se comparar. A consciência de sermos plenamente únicos e por isso plenamente solitários sem no entanto precisarmos ser ridículos! Impressiona-me o despudor de Clarice Lispector que se delclara desapegada da intelectualidade, escolhendo a vaidade. Como é lindo ver uma mulher linda, realizada como escritora, feliz como mãe preferir uma boa foto a um grande elogio! Uma feminilidade que transcende à uma sensualidade sofisticada. Uma firmeza repleta de delicadezas, como se ser mulher não fosse nada demais!
Impressiona-me ouvir da própria Clarice que ela é simples! Como se ser Clarice Lispector fosse a coisa mais fácil do mundo!
Na nossa pobreza reinante onde cada vez mais recorremos aos arquivos, onde as coisas já nascem velhas ou cansadas, ou gastas ou duplicadas. Pergunto-me o que seria de Clarice Lispector nesse século aparentemente XXI?
Ela seu cigarro e seus textos que não eram para ninguém.
Meu filho lerá Clarice Lispector um dia? E se ler, entenderá? E se entender, gostará?
A gente anda tão empacotado, corrido, proibido. As doenças do corpo passaram a vir da alma mas continuamos indo ao clínico nos tratar e quando essas idéias assombrosas me assaltam, eu respiro aliviada de jamais encontrar o Jardim Botânico vazio! Esqueço um pouco o cenário absurdo onde personagens infantis tiveram que crescer e já não sei se é para levar nossas crianças a ler, se é para ajudar a vender ou porque simplesmente não há tanto assim de novo por nascer...
Hoje, ano 2009, teriam crescido as personagens infantis de Lispector? Gosto de pensar que não. Já é por demais traumatizante crescer, gosto de pensar que serei igual aos meus sonhos e eles não precisarão ser como eu... E fico impressionada ao ver aqueles que se movimentam com tanta elegância por entre minas e a despeito das explosões mantem-se inteiros!
A vida até hoje impressiona-me sobremaneira! Não a vida não me fascina. Nem por ela sou apaixonada, embora eu viva de forma apaixonada e seja passional de perdersenso e juízo. A vida me impressiona e seus mistérios sim, me fascinam, de tal maneira que não vivo a desvendá-los. Convivo com eles como parceiros que me acompanham na tarefa de viver. Viver é antes de tudo uma tarefa exercida por órgãos, pelos, músculos e espírito, componentes que vivem a se repor, que vivem para se desgastarem e se auto substituirem. E nós vivemos numa eterna contra-mão, porque se materialmente buscamos substituir o antigo pelo novo, a vida é o misterioso escambo do novo pelo antigo. Ela se se renova nas experiências onde um cérebro a cada dia mais velho lida com fatos novos a casa segundo. Uma verdadeira arte de sobreviver às perdas, onde o que não mais é assimilado pelo corpo passa a ser depreendido pela alma!

Somos navios soltos ao mar, resistindo às intempéries! Pequenos navios, pesados que crescem e quanto maiores mais difícil de flutuar... Há que ter habilidade para romper o desgaste físico e substituí-lo pela destreza de navegar...

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