16 de mai. de 2020

A FICHA CAIU | PÓS PANDEMIA NOS SHOWS


O mundo nunca será o mesmo, talvez nem parecido. O mundo não vai mudar para melhor. Um mundo melhor pressupõem pessoas melhores e mudança para melhor inclui... Mudanças!

Ainda nos comportamos como pessoas diante da expectativa de um retorno à normalidade o que significa que aguardamos o momento de voltarmos a ser iguaizinhos ao que éramos antes.

As empresas patrocinadoras comportam-se com o mesmo padrão bozolístico de retomar as atividades para seguirem com as explorações, apropriações. Seguem o padrão da audiência - cliques importantes para as marcas. Investem num arremedo de responsabilidade social, sem transparência. O melhor marketing não deveria ser a entrega da arrecadação para o público selecionado? Não consegui ver ainda nada disso, mas como ando meio afastada da internet, posso não ter visto por culpa do meu isolamento.

Se no início da quarentena, que já é uma sessententena, as pessoas brincavam dizendo que passariam dias nas ruas sem voltar para casa, agora a ficha cai que talvez nunca mais possamos nos aglomerar como antes, nos abraçar, beijar e agarrar como sempre podíamos. Como canta o Lulu, "ainda vai levar um tempo", muito tempo.

Por isso, já não sabemos quando "Amor de Mãe" poderá ser gravada e exibida de novo, eu não sei quando poderei retomar as filmagens do meu curta A/Corda e ninguém sabe do que poderá voltar a fazer, se poderá concluir seus projetos.

Mas tudo continua numa tentativa de manter igual, na virtualidade, a antiga realidade, numa aposta que isso vai passar logo.

Não, não vai.

No máximo poderá ser reduzido o risco de contaminação e morte. Não mudou a realidade que os "bucha" são os descapitalizados.

Quem são as pessoas que podem se manter em isolamento físico? - porque socialmente ninguém está isolado, muito pelo contrário.

As pessoas estão aprendendo a se mostrar na internet, cantando à capela, cozinhando receitas, fazendo edições dos seus vídeos. Todos estão se adaptando à nova realidade e isso ninguém vai esquecer ou deixar de fazer por mais que o mundo volte a ser o que era, o que já é o suficiente para percebermos que jamais seremos os mesmos outra vez.

Então que continua-se a manter a postura de elevar o já elevado, oferecendo o bônus da preguiça de adaptação que os incensados midiáticos, só eles, podem ter.

- Como assim Rozzi Brasil?
 Respondo:

As lives que começaram espontâneas e no improviso da reclusão obrigatória e necessária, virou show pocket, a visibilidade voltada para quem já tem (muita) visibilidade.

Não seria o momento de os patrocinadores darem oportunidade para os talentos? Remunerando-os por seus serviços? Sem encher casa de artistas com produção expondo a todos?

Quem sabe faz ao vivo e quem faz no improviso faz muito mais.

Continuamos vivendo em bolhas excludentes pelo princípio de quem tem, continua tendo e quem não tem, fica com a oportunidade negada e nunca vai ter. Não importa o talento, a capacidade, a genialidade ou originalidade.

Eu era criancinha ainda, mas lembro dos (grandes) festivais que trouxeram à luz dezenas de grandes artistas que atravessaram o tempo, trouxeram mensagens muito importantes e obras magníficas e quando findaram com os festivais, como um talento era descoberto? Como ele era trazido pras grandes cenas públicas?

Nenhuma empresa interessada em um grande festival de música que revelasse, um pouco que seja, dos milhares de talentos não aproveitados pelas raras oportunidades? Agora que tudo se tornou por força da circunstância minimalista, transmitido por celular, exigindo investimento mínimo. Nem assim o capital valoriza arte cultura artista. São todos Regina Duarte!

Ainda vamos continuar vivendo com o cenário artístico pontual, receptivo aos que já fizeram seus nomes? (e que talvez nem estejam em dificuldade financeira tanto assim)

Vamos continuar com a mídia que lança o artista, quase sempre desfigurando sua arte e que após o investimento recuperado, quase sempre por um período curto, caixa encerrado, dinheiro ganho e eles sumindo na mesma velocidade em que apareceram?

Vamos continuar deixando no ostracismo o povo da nossa cultura, do nosso samba?

Invisibilizando mulheres? Porque não são lindas ou jovens ou magras ou qualquer coisa que acham que é o que o povo gosta de ver?

Negando a validade da nossa Cultura com argumentos idiotas de que "é disso que o povo gosta"?

Não senhores! O povo não gosta de lixo. Veneram lixo porque vocês o impõem goela abaixo. Clementina de Jesus não tinha o padrão de beleza que vocês exigem para tornar uma mulher famosa e ela fez história. Grandes sambistas, gravaram tarde e foram abraçados por um grande público e vocês continuam cegos de ver o que o povo gosta.

Parem! Apenas parem! Refaçam-se. Reinventem-se porque a nossa parte, estamos fazendo, aliás, nunca deixamos de fazer.

Na foto: Imagem de uma ostraca, objeto em que se escreviam os nomes dos condenados ao ostracismo. Essa é a ostraca em que foi escrito o nome de Themistocles, estadista e general grego

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