O mundo
nunca será o mesmo, talvez nem parecido. O mundo não vai mudar para melhor. Um
mundo melhor pressupõem pessoas melhores e mudança para melhor inclui...
Mudanças!
Ainda nos
comportamos como pessoas diante da expectativa de um retorno à normalidade o
que significa que aguardamos o momento de voltarmos a ser iguaizinhos ao que
éramos antes.
As empresas
patrocinadoras comportam-se com o mesmo padrão bozolístico de retomar as
atividades para seguirem com as explorações, apropriações. Seguem o padrão da
audiência - cliques importantes para as marcas. Investem num arremedo de
responsabilidade social, sem transparência. O melhor marketing não deveria ser
a entrega da arrecadação para o público selecionado? Não consegui ver ainda
nada disso, mas como ando meio afastada da internet, posso não ter visto por
culpa do meu isolamento.
Se no início
da quarentena, que já é uma sessententena, as pessoas brincavam dizendo que
passariam dias nas ruas sem voltar para casa, agora a ficha cai que talvez
nunca mais possamos nos aglomerar como antes, nos abraçar, beijar e agarrar
como sempre podíamos. Como canta o Lulu, "ainda vai levar um tempo",
muito tempo.
Por isso, já
não sabemos quando "Amor de Mãe" poderá ser gravada e exibida de novo, eu não
sei quando poderei retomar as filmagens do meu curta A/Corda e ninguém sabe do
que poderá voltar a fazer, se poderá concluir seus projetos.
Mas tudo
continua numa tentativa de manter igual, na virtualidade, a antiga realidade,
numa aposta que isso vai passar logo.
Não, não
vai.
No máximo
poderá ser reduzido o risco de contaminação e morte. Não mudou a realidade que
os "bucha" são os descapitalizados.
Quem são as
pessoas que podem se manter em isolamento físico? - porque socialmente ninguém
está isolado, muito pelo contrário.
As pessoas
estão aprendendo a se mostrar na internet, cantando à capela, cozinhando
receitas, fazendo edições dos seus vídeos. Todos estão se adaptando à nova
realidade e isso ninguém vai esquecer ou deixar de fazer por mais que o mundo
volte a ser o que era, o que já é o suficiente para percebermos que jamais
seremos os mesmos outra vez.
Então que
continua-se a manter a postura de elevar o já elevado, oferecendo o bônus da
preguiça de adaptação que os incensados midiáticos, só eles, podem ter.
- Como assim
Rozzi Brasil?
As lives que
começaram espontâneas e no improviso da reclusão obrigatória e necessária,
virou show pocket, a visibilidade voltada para quem já tem (muita)
visibilidade.
Não seria o
momento de os patrocinadores darem oportunidade para os talentos?
Remunerando-os por seus serviços? Sem encher casa de artistas com produção
expondo a todos?
Quem sabe
faz ao vivo e quem faz no improviso faz muito mais.
Continuamos
vivendo em bolhas excludentes pelo princípio de quem tem, continua tendo e quem
não tem, fica com a oportunidade negada e nunca vai ter. Não importa o talento,
a capacidade, a genialidade ou originalidade.
Eu era
criancinha ainda, mas lembro dos (grandes) festivais que trouxeram à luz
dezenas de grandes artistas que atravessaram o tempo, trouxeram mensagens muito
importantes e obras magníficas e quando findaram com os festivais, como um
talento era descoberto? Como ele era trazido pras grandes cenas públicas?
Nenhuma
empresa interessada em um grande festival de música que revelasse, um pouco que
seja, dos milhares de talentos não aproveitados pelas raras oportunidades?
Agora que tudo se tornou por força da circunstância minimalista, transmitido
por celular, exigindo investimento mínimo. Nem assim o capital valoriza arte cultura
artista. São todos Regina Duarte!
Ainda vamos
continuar vivendo com o cenário artístico pontual, receptivo aos que já fizeram
seus nomes? (e que talvez nem estejam em dificuldade financeira tanto assim)
Vamos
continuar com a mídia que lança o artista, quase sempre desfigurando sua arte e
que após o investimento recuperado, quase sempre por um período curto, caixa
encerrado, dinheiro ganho e eles sumindo na mesma velocidade em que apareceram?
Vamos
continuar deixando no ostracismo o povo da nossa cultura, do nosso samba?
Invisibilizando
mulheres? Porque não são lindas ou jovens ou magras ou qualquer coisa que acham
que é o que o povo gosta de ver?
Negando a
validade da nossa Cultura com argumentos idiotas de que "é disso que o
povo gosta"?
Não
senhores! O povo não gosta de lixo. Veneram lixo porque vocês o impõem goela
abaixo. Clementina de Jesus não tinha o padrão de beleza que vocês exigem para
tornar uma mulher famosa e ela fez história. Grandes sambistas, gravaram tarde
e foram abraçados por um grande público e vocês continuam cegos de ver o que o
povo gosta.
Parem!
Apenas parem! Refaçam-se. Reinventem-se porque a nossa parte, estamos fazendo,
aliás, nunca deixamos de fazer.
Na foto:
Imagem de uma ostraca, objeto em que se escreviam os nomes dos condenados ao
ostracismo. Essa é a ostraca em que foi escrito o nome de Themistocles,
estadista e general grego
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