3 de jul. de 2012

Viver é Um Aprendizado Solitário

Geralmente eu escrevo sobre o que observo, raramente escrevo sobre o que vivo. 
Olhar de longe dá uma boa ajuda a idéia para que combine com a ação. 

Existe muita gente pensando que está enganando o outro, só porque exibe uma imagem que
lhe convém e segue enganando a si mesma. 
Busco não desmascará-las porque sei que elas estão tentando ser aquilo que gostariam de ser. Impostoras de si mesmas,  cover daqueles que admiram muitas vezes desdenhando. Imaginam-se grandes, pagam por um afeto falso porque não resistiriam a um amor de verdade. Aquele amor do tipo raiz de bambu chinês que vive oculto sustentando a flexibilidade que suporta ventanias e temporais.

Pela minha vida já passou todo tipo de pessoas, todas que eu permiti. Para todas elas me entreguei, não sou pessoa de meio termo, transito com alguma tranquilidade na fronteira do radicalismo. Tenho por princípio não participar do que não concordo, mas com o passar do tempo a paciência se esgarça como costura bem feita... Fui entendendo que livre arbítrio é um termo por demais religioso para caber no capitalismo que somos obrigados a viver. Religião tornou-se uma palavra proibida nos momentos em que precisei pensar com o coração. Quem é brasileiro e nasceu junto com a ditadura sabe que fomos criados com doses constantes de dois comprimidos partidos ao meio: a moral mãe da vergonha e avó do que os outros vão pensar e a vitamina atrofiada de uma liberdade que não se sabia exatamente onde iria nos levar. Temos na alma uma nódoa do paternalismo, e vivemos no momento de dificuldade a esperança vã que uma super-herói irá nos salvar.

Admiramos olhos azuis, altas estaturas e cabelos lisos, achamos bonito o som de qualquer idioma que não possamos entender e crescemos atribuindo às dificuldades e falta de oportunidade nossa incapacidade de atingir o tão cobrado sucesso.
Se eu tivesse me mantido no subúrbio, teria hoje brigas em família e poderia dar a última palavra, por deter a admiração de quem ousou quebrar barreiras. Mas eu acho que li demais e houve na minha cabeça uma expansão que impediu a minha mente de retornar ao tamanho original, aquele exato que deveria ter para conviver com certas coisas e pessoas. Fiquei assim, uma criatura engasgada, vivendo num território meio neutro, onde sou grande demais para uns, pequena demais para outros. Tornei-me estrangeira no meu próprio habitat. Por carinho me acovardo, por coragem me despeço. Fiquei assim sozinha. Forte demais para chorar as pitangas  e demonstrar fragilidades, sensível demais para punir ou escancarar verdades.

Consigo pensar com clareza, mas tenho um sangue quente demais para delicadezas desnecessárias.A idade vai-me ensinando a calar sobre o que deixei de acreditar. 
O tempo explica-me que devo silenciar sobre os meus pecados assumidos, sobre a ingenuidade que não se extingue, sobre opiniões que apesar de solicitadas não querem, na verdade, ouvir.

Há tantas coisas que o jovem não entende e não cabe a nenhum de nós explicar. Viver é um aprendizado solitário e solidão é ato que ninguém assume, como aquele convite para a reunião que você combinou que iria, mas na última hora deu preguiça. Dizer o que? Não fiquei a fim, preferi ver tevê? Jamais, as pessoas não entendem a solidão por opção,magoam-se, qualquer um se acha melhor companhia que ela. Talvez confunda-se solidão com tédio, eu nem os acho parecido mas compreendo que tanto um quanto outro possam existir na mais animadas das festas. Eles podem ser nossos, podem brotar do nosso interior, como podem ser trazidos assim, pela animação alheia que os exorciza de si mesmo... Essas coisas se aprendem vivendo, mas são melhores compreendidas quando vistas.













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