21 de set. de 2016

JUSTIÇA: FÁTIMA x ELISA

Aqui, agora conjecturando comigo mesma,  vejo o quanto essas personagens das histórias apresentadas pelo seriado Justiça (TV Globo 2016) nos mostram sobre conhecimento. O conhecimento é a ventura da vida que faz com que viver valha a pena. 
De todas as histórias não avaliei, com exceção da Fátima, nenhuma personagem que buscasse justiça em vez de vingança. A amargura que ocupa o espaço deixado por uma perda e que move o ser para o desejo de que o outro seja infeliz por ter imposto uma infelicidade. 

A resiliência talvez seja o único  instrumento que realmente faça a diferença entre aqueles que passam pelas grandes tragédias das perdas. Na outra história, veiculada às segundas-feiras, Elisa perde a filha assassinada por um playboy embriagado, machista, ciumento que começava a ficar pobre. Treinou tiro por 7 anos, tempo que Vicente ficou preso, no qual ela  acalentou o desejo de matar o assassino, porque não via justiça suficiente no tempo da pena. No entanto é preciso mais que talento para  matar alguém premeditadamente, é preciso vocação, índole.  Vicente, o assassino de Isabela, filha de Elisa, como ela mesma não tinham essa índole. 

Elisa era mãe, não aquela mãe de subúrbio como Fátima e essa era mais uma diferença entre essas duas personagens. Fátima era resiliente e tinha um objetivo concreto de cuidar da família, ser injustiçada não provocou mudança nesse objetivo nem em seu sentimento. Conhecer melhor Douglas, o responsável pelos 7 anos que ficou na cadeia por conta de um crime que ela não cometeu, deu-lhe ciência do erro que praticou: matar o cachorro ainda que tenha sido em defesa do seu filho a quem o cachorro mordeu. Fátima, a empregada doméstica, uma pessoa simples aparentemente com pouca instrução tinha a capacidade de aprender com a vida, com os erros e acertos. Tinha também uma ética que ficou muito claro quando deixa o trabalho de empregada doméstica na casa de Elisa por não querer participar do envolvimento da patroa com Vicente, pois era amiga da esposa dele. Que personagem bacana, dá pena, saber que não era real. Talvez por isso tenha merecido o final feliz que a autora lhe proporcionou, quem sabe, uma recompensa por tantas qualidades de caráter e por sua  luta por reunir novamente sua família e mantê-los no caminho da honestidade e dignidade?


Elisa conheceu mais profundamente o ex-noivo e assassino da sua filha e mesmo encontrando um homem carcomido pelo remorso, arrependido, empobrecido, buscando uma nova oportunidade de viver de maneira diferente, consciente que estava de ter sido uma péssima pessoa,  isso não foi o suficiente para o perdoar. 
Perdão diferentemente dos crimes de assassinato pode ser aprendido e praticado, mas certamente também depende da índole. Elisa não era afeita ao crime, nem perdão. Não perdoava nem a ela mesma. As mentes vingativas não são resilientes, o perdão é a principal estrutura que move nosso pensamento para o mesmo formato após uma tragédia.

Dividida entre as lembranças do seu relacionamento com a filha - e quem sabe se sentindo devedora - acusando a si própria por não conseguir executar a ação que para ela seria justiça, foi incapaz de se afastar de Vicente como era incapaz de esvaziar o quarto da filha. Arrastava correntes torturada. Elisa era uma mulher torturada, sem encaixe nela mesma que não se importava com as outras pessoas, sua solidariedade era a conta do chá, como fez quando Fátima foi tentar recuperar o emprego. Logo, permitir a morte de Vicente, vê-lo morrer lentamente, era a justiça que ela poderia praticar conforme o seu sentimento, apesar de se advogada e considero isso mais uma bola dentro da série. Uma faculdade pode não alterar os nossos valores, no máximo nos empresta conceitos que viveremos até a hora de praticá-los.  Fátima e Elisa eram diferentes por natureza e caminhos de vida, diferentemente da esposa do Vicente que era outra face da mesma moeda de Elisa.

Incrível esse seriado!

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