31 de dez. de 2021

EDUCAÇÃO


 Houve uma época da minha vida que eu dizia: Não posso liderar, não sei pra onde ir, como poderia conduzir? Era uma verdade, uma frase, um medo, uma realidade. Mais que retórica, sem nenhuma metáfora. A gente tende a acreditar no que dizem que a gente é.

Se vacilar, passamos a vida acreditando no que nos disseram que éramos. Pode acontecer de não aceitarmos desafios, de não irmos muito pra longe das nossas referências, pode ser que tenhamos um misto de amor não declarado e ódio não demonstrado por algum chegado e guardamos num canto porque não sabemos lidar. Pode acontecer de repetirmos um ditado, uma frase, uma palavra sem atentarmos o que aquilo significa pra quem ouve ou pra gente mesmo.

Cresci num lar humilde, à sombra de uma mulher incrível e jamais questionaria qualquer coisa que ela dissesse. Passei muito tempo pra entender que só quem pode saber de mim sou eu. Não adianta eu esconder as dores, fingir sorriso, mostrar vitórias, isso só vai funcionar quando eu souber valorizar cada feito e se eu não me valorizar junto, esses feitos rapidamente caducarão, perderão a validade e estarei vazia sem entender como.

Existe a hora de ler a cartilha e a hora de abandonar a cartilha. E algumas cartilhas devem ser substituídas por outras que só a gente não contemplada nas antigas, pode escrever.

Precisamos entender que não é o político que sabe o que a gente precisa, nem o modista que identifica o percentual de conforto do que a gente veste. Pagamos e escolhemos o que nos cabe. O estudo dessa gente é para nos atender, a educação é para favorecer o mundo. Ou pelo menos deveria ser. Não dá pra confiar em alguém que estudou só pra ter uma profissão que ganhasse mais. Educação não é isso. Ninguém se torna bem educado porque tem talento, ficou rico famoso ou porque foi teimoso e acertou na loteria, nem mesmo porque estudou. Educação é preparo para viver em sociedade. Ou pelo menos deveria ser.

Aqui, com texto totalmente desvirtuado e saído do roteiro, lembro do meu tio: Baixinho, magro, moreno pálido, cabelos muito pretos e lisos, olheiras tão escuras quanto os cabelos, grandes, profundas, características de família, chapéu na cabeça, roupa nitidamente vinda de outro corpo onde se ajustava bem porque nele nem caia bem. E tio Chiquinho numa atitude que me moía como se eu fosse vidro pra fazer cerol, tirava o chapéu da cabeça, trazia junto ao peito e dizia:

- Francisco. Mas pode me chamar de Chiquinho. Seu criado.

Essa foi a educação que ele recebeu, isso foi o que disseram que ele era e passei mais da metade da minha vida sem entender porque isso me incomodava tanto.

Mas agora eu entendi. 
2022 vai ser muito bom!

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