14 de jan. de 2022

NA PADARIA


 Na padaria tem um cara que não me parece funcionário mas está sempre por lá. Deve ser dono ou gerente. Quando ele me via com a camisa Lula Livre dava sempre um jeitinho de começar uma conversa bem alto com alguém (nem que fosse com ele mesmo) e dizer o quanto Lula tinha roubado e quão milionários eram seus filhos donos da Oi e da Friboi (agora que percebi a rima, será algum tipo de dupla sertaneja?).


Teve um dia, em 2018 quando me viu entrando já começou a falar sobre os "inc3st0s do Haddad". Nunca pude responder ou revidar porque o cara não falava comigo, falava pra deus, pro alto, pro nada às vezes para as funcionárias que fingiam interesse e concordância, constrangidas por mim.

Chegou a pandemia e a padaria era o único lugar que eu ia uma vez por semana, pra comprar cigarro e toda vez que eu passava álcool nas mãos depois de guardar o troco, porque nessa padaria, o cigarro é tratado como droga ilícita e o fumante como lixo esquerdista - não vende cigarro no cartão, o cara olhava pra TV que fica bem no alto no meio do salão, fixa numa pilastra e dizia:
- Palhaçada.
Então, ontem entrei na padaria, de máscara, porém tossindo, espirrando e fungando. De propósito. Pela primeira vez ele me olha na cara. Abaixa a cabeça e sai apressado como se tivesse visto uma assombração.

A moça do caixa:
- Ele não tinha tomado vacina. Está só com a primeira dose...
- Ah, tá. Quissifueda!

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