14 de nov. de 2008

Tempo


Há um ano um texto saiu do meu teclado como e-mail e chegou ao destinatário como carta e foi publicado como crônica e foi lido por mim como poesia. De lá pra cá, tenho o compromisso mensal de dividir com tantos o que penso e o que sinto e isso, de certa forma, me tornou mais responsável, mais cuidadosa com as palavras que digo escrevendo ou falando.

As surpresas da vida são deliciosas! E se a princípio não percebemos, é questão de tempo e neste caso tempo é tempero. O tempo é uma iguaria e nós somos degustadores e chiefs. O tempo ensinou-me a gostar de cebola... Eu não como alho mas jamais o retirei da minha lista de temperos. Há coisas que são assim, não valem exatamente pelo que são, mas têm valor inestimável o sabor que transmitem. Com o tempo aprendi a apreciar cerveja. No início bebia drinks doces e caros, mas este gosto me deixava de certa forma, fora da fraternidade na hora de pagar a conta... Ninguém confundia meu copo e eu não o dividia com ninguém.Um dia percebi que velha frase “vamos tomar um chope”, não se aplicava a mim e não se aplica a ninguém, afinal, quem vai sair para tomar um único chope? E se o objetivo fosse beber, porque tão poucos bebem em casa sozinhos? A cerveja tem um gosto muito mais abrangente que o seu sabor, o barzinho é tão bom, quanto boas forem as pessoas que nos acompanham e suas conversas e seus “causos”.
Pra fechar esse raciocínio grastro-etílico: Em Portugal usa-se a expressão “saber” relacionada ao paladar. Algo assim como ” este arroz sabe-me sem sal”. Semânticas, gramáticas e morfologia das palavras à parte, provar, sentir, saborear nos levam ao saber, as experiências podem transformar o tempo em um excelente prato! O ambiente e as parcerias são temperos sim!
Nesses 365 dias e muitas letras depois, posso dizer a vocês que o contato com muitos que jamais vi me tornou uma pessoa melhor. Falar das paixões, das decepções, da fossa, das traições e perdões, das festas, dos encontros e desencontros ajudou a organizar o meu sentimento embora, nem tudo o que escrevi tenha sido vivido por mim, sabemos que podemos aprender com a experiência alheia.
O retorno dos leitores me chegou como carinho e me deu orgulho ser porta-voz de pessoas de várias idades, cores e de muitos lugares, porque este era o objetivo, falar de coisas comuns a todos. Por mais que tenhamos fracionado o mundo, a vida não se divide entre gays, héteros, negros, brancos, religiosos ou não. A vida se divide entre os que viveram, os que morreram e os que os que apenas passam por ela. A vida possui três reinos: vegetal, mineral e animal e se, deixamos o reino animal para sermos humanos, sejamos coerentes, sejamos o que se chama “gente” e lembremos sempre que o tempo conta para todos, mas o ser humano é único que conta o tempo e só “gente de verdade” pode transforma-lo em tempero!
Pra vocês que me lêem por aí, o meu carinho, obrigadíssima! Cc pra galera da redação, o poema mais lindo que Caetano já fez:


Ouve bem o que te digo
Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Quando o tempo for propício
De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
E eu espalhe benefícios
O que usaremos prá isso
Fica guardado em sigilo
Apenas contigo e comigo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Num outro nível de vínculo
Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Nas rimas do meu estilo

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Vou te fazer um pedido
Compositor de destinos
Tambor de todos os rítmos
Entro num acordo contigo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
És um dos deuses mais lindos
Oração ao Tempo, Caetano Veloso (adaptação livre)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade pra dar sua opinião.