30 de dez. de 2008

A Cadeia Alimentar


Eu deveria escrever sobre as coisas que deram certo e aquilo que não deu tão certo assim, as alegrias e conquistas, as bolas fora, tristezas e frustrações de um ano que para muitos já passou da hora de acabar... Fazer um balanço, daqueles que as lojas fazem no final do ano, contabilizando venda, prejuízo e avaria... Assim, tão perto do dia em que encontraremos Papai Noel, senti saudade do tempo em que nessa época o grande barato era sonhar com o presente que tanto queria e escolher o presente possível. Sim, fui uma criança com noção de realidade, mas nunca me neguei o direito de sonhar. Imagine, sonhar com uma bicicleta e pedir uma caixa de lápis de cor? Seria o mesmo que namorar o Rodrigo Santoro e casar com Seu Madruga? Imaginar a Angelina Jolie e só poder bancar a Bete, a feia!

Sinceramente, considero a expectativa muito mais frustrante do que constatar que “deu erro”. Essa ansiedade já me rendeu transtornos impensáveis, porém, muito mais que perder, deixei de ganhar. Fazer escolhas é complicado quando não temos elementos para avaliar, mas desde quando diante dos dilemas da vida, temos oportunidades de escolher com propriedade? Não escolher, permitindo que os fatos decidam por si, também é uma escolha! Uma opção por não fazer nada que possa mudar nosso destino. Nessa reflexão natalina, lembrei de uma pessoa que me falou sobre a “cadeia alimentar”, expressão adaptada para chamar aquelas situações em que nada fazemos para mudar nosso destino, em se tratando de amor. Estar numa roda com várias pessoas, onde todas já foram namoradas umas das outras, é um caso típico de “cadeia alimentar” e, muitas vezes, nesta mesma rodinha, tem alguém que aguarda o fim do romance de um dos casais para declarar-se apaixonado, criando um tremendo barraco no grupo antes de “amigos”. Um outro exemplo, são aquelas pessoas que ficam com o que está mais perto, mais fácil, mais acessível, que começam a gostar de uma pessoa só porque aquela pessoa começou a dizer que gosta delas também...

Tem aquelas meninas, que se apaixonam pela lésbica visível, porque é "tiro certo” e 2 meses depois surgem com a reclamação de que "ela é muito macho e dá bandeira, compromete". Acho até que no sentido masculino, essa cadeia alimentar se desenvolve com o sexo pago ou combinado, daqueles que acabam após a relação, podendo ser retomado, (o sexo) em caso de “emergência”. Entre homens sexo é uma coisa, relacionamento é outra e amor nada tem a ver com nenhum dos dois. Bem, é público e notório que homem sempre é muito mais simples, enquanto que a mulher perde o maior tempo dando nome às coisas que a cercam, incluindo o tesão (que vamos combinar, já tem nome e sabemos bem o que é, certo?), mas isso é papo para outro dia. “Cadeia alimentar”, é a caça possível aqueles que têm medo do novo, que têm receio de uma aventura com o desconhecido sem perceber que arriscam outros valores bem conhecidos. Aquele que com medo de perder, tenta manter perto de si tudo (todos?) que com o tempo já deveriam ter seguido seu caminho. É uma forma de manter-se vivo com seu ego alimentado, criando polêmica, mantendo uma aparência de liberdade e até, despertando uma relativa admiração, sem no entanto, fazer uma escolha delineada do tamanho da sua vontade de ser feliz.

De certa maneira, poderíamos dizer que é o risco mal calculado de quem prioriza o romance ou a vaidade em detrimento de uma amizade, mas isso não é importante dizer agora. Importante é entendermos que a vida é feita de escolhas, não tem jeito! Na França diz-se: “Não se pode ter a manteiga e o dinheiro da manteiga” e aqui no Brasil: “Não cabem 2 proveitos num único saco”. Veja que a dificuldade é universal! Ver a “banda passar” é escolher não estar divertindo-se nela!
Que o Natal chegue com uma árvore repleta de frutos para todos nós e que nós não tenhamos preguiça de pegar aquele mais bonito só porque está mais difícil! Ho-ho-ho-ho!
Feliz natal! Incluindo aí, as escolhas dos presentes, das roupas, dos programas e porque não dos amores!
E, se for dirigir não beba, porque a multa não está fácil não e isso é somente mais uma escolha.

4 comentários:

  1. Mulher!

    Mal acabei de sair de um banho... meu tico-e-teco ainda leves... e me convida a um mergulho desse :D

    Bem, me pareceu que o texto tem endereço certo... o que posso dizer a essa pessoa, pelo pouco que conheci de ti, é que és uma grande mulher!

    Se dei bola fora agora... o texto é belo! Mas o senti triste...

    Beijão,

    p.s: já vi que não desabilitou o código daqui :D

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  2. Olá Rozzi, interessante o a descrição que você sobre " a caça para se alimentar ", nunca tinha parado para pensar no assunto, também nunca tive uma amiga lésbica, e a única que pensei era apenas o jeito dela , dei o maior fora quando fui tentar ajudar dando uma de cupido ...
    Mas me fala uma coisa as "caças" só acontecem dessa forma nos guetos ( certo ou errado ) estou tirando como base na relação homo ?
    Se for saia do gueto e vc me deixou meio confuso, se gosta ou não desta situação para mim não ficou muito claro....

    De qualquer um Feliz 2009 :)

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  3. Oi, Mariposo-L! Obrigada pelo comentario! Quanto as suas perguntas:
    Esse blog reune os textos publicados mensalmente na coluna Crônicas Urbanas do jornal O Sexo, uma publicação LGBTS do Rio de Janeiro. É um guia de lazer/prazer para tribo homo. Assim, às vezes recebo uma pauta sobre a qual devo falar ou combino com o editor sobre o que escreverei. Nada tão pessoal.
    "as "caças" só acontecem dessa forma nos guetos(certo ou errado).Em parte certo, em parte errado".O que seria o gueto hoje em dia? Saunas, boates, locais de frequencia exclusiva de homossexuais? Não temos muito disso por aqui voltado para o público feminino. Na verdade, a mulher não frequenta lugares bandeirosos. Essa caça ocorre com maior frequencia entre mulheres, talvez pelo medo de arriscar-se a receberem como uma resposta um "eu não gosto de mulher". Pra ir na certa, elas caçam aquelas cujo histórico já conhecem, o que leva para amiga comendo amiga ou ex-de amiga, isso que chamei de cadeia alimentar.

    Bem, na minha coluna eu procuro levantar discussões, ou provocar as pessoas para pensarem em determinadas situações que acabam sendo atribuidas como comportamento padrão dos homossexuais e aquelas coisas que fazemos seguindo o rebanho independentemente de ser gay ou não. O contexto social mais que rotular aprisiona, a vida urbana nos leva a viver muitas vezes, como marionetes e às vezes nem percebemos quem está comandando ou o tamanho do mico ou a perda de oportunidades para sermos felizes... Se questiono, fica implícito que não concordo, mas a minha opinião não importa, importa que todos percebam que sentimentos não é exclusividade heterossexual e senssibilidade não é somente um acessório para os gays.

    Quanto à sua amiga, realmente pode ser somente o jeito dela, há pessoas que não gostam de ajuda nesse sentido gays ou não

    bj grande. Parabéns pelo seu blog, bastante interessante.

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  4. Lella!
    É sempre uma honra a sua visita no meu blog! Então, este texto foi baseado numa situação que vejo acontecer com certa frequencia com pessoas da minha rede, mas não caço nesses territórios, nããããããooo!!!

    Quanto a achá-lo triste, deve ser porque é triste a falta de coragem de buscar a felicidade e não quebrar ciclos, né?
    Bj querida.

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