10 de ago. de 2009

Estar a salvo implica numa eterna preocupação: até quando?


Uma bala, uma menina, um dia de aniversário...
Seria perfeito se fosse bala confeito e não bala que atinge, bala que fere e mata.
Uma bala que num dia de aniversário atinge uma família inteira, o bairro todo, com exceção dos que atiraram, pois estes devem estar comemorando, não a bala perdida, é claro, mas sua própria sobrevivência.

Imagino que um assassino orgulhe-se do seu trabalho tanto quanto qualquer trabalhador ou talvez, simplesmente o tolere. Os mortos devem ser para eles uma coleção enfadonha, como o são as pilhas de papel na mesa do escriturário. .. No entanto, uma menina de 13 anos atingida no auge de uma fuga, é no máximo um acidente de percurso, de trabalho. Para eles a vítima é apenas um azar, quase que um desperdício na linha de produção. Para os pais é uma dor lancinante, imensurável. Para o fotógrafo uma cena tocante, um trabalho do qual ele deva se orgulhar, pois que colheu aquela dor aprisionando-a numa foto, deixando-a dor para sempre, como são as dores das mães. Toda dor de mãe tem os traços da Pietá de Michelangelo, porém se ela vai parar no jornal, é também um trabalho para o diagramador, para o editor, para o chefe da redação, para o operário da rotativa, para o fornecedor de tinta e papel, para o jornaleiro da banca... Para a polícia se torna um trabalho de investigação, para os bandidos, além de trabalho é uma preocupação e, para nós, comentário, pauta de conversa...
Impressão minha ou a nossa indignação ao longo dos tempos tornou-se apenas comentário? Nossos trabalhos são outros, nossos filhos e amores estão vivos e no fundo, deve haver um certo alívio quando chegamos ilesos em casa...

Estar a salvo implica numa eterna preocupação: até quando?
São tantos os sentimentos que tomam o lugar da indignação frente às notícias que somos obrigados a engolir na hora do jantar, na hora do almoço, no lanche da tarde, antes de dormir e como se não fosse suficiente, há ainda a olhadinha matinal no jornal que lemos pendurado na banca enquanto o ônibus não vem...

Vemos tantas reportagens de dor que de repente deixamos de sentir a dor alheia...
Assim, com mais ou menos tempo vamos nos esquecendo de um menino arrastado, de uma menina tombada na saída do metrô, de muitos gays espancados, de tantos políticos que só pisam nas ruas no período eleitoral e talvez até esqueçamos que alimentamos um pouco disso tudo quando liberamos aquela graninha pra fugir de uma multa ou acendendo um “back” só pra experimentar...

Tudo se torna tão corriqueiro que não sentimos a dor do outro, talvez até a provoquemos a fim de evitarmos a nossa.
Quantas balas perdidas de comentários maldosos disparamos ao longo das nossas vidas? Quantos julgamentos tendenciosos, desumanos e sem justiça praticamos ao longo do dia? Por exemplo, quando vemos a depressão de um amigo como preguiça ou frescura e o desemprego do colega muitas vezes como um castigo, afinal ele “deu mole” e respiramos aliviados: “antes ele do que eu”.
Nosso egoísmo engorda e sufoca o nosso coração! Não percebemos que cada vez mais tudo e todos estão juntos e misturados. “Héteros” cada vez mais gays, gays cada vez mais próximos do estilo de vida heterossexual, indo à igreja e adotando crianças. E por falar em crianças, estamos no mês dos pais e mesmo aqueles que não são pais, filhos não deixam de ser, um bom motivo para tentarmos ser pessoas melhores!
09/07/2009

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