28 de mar. de 2016

A VIDA NÃO É TÃO CARA QUANTO OS ÔNIBUS INCENDIADOS


No domingo estava indo para Paquetá e o ônibus deu uma volta tão grande que perdi a barca. Perdi também o samba e o encontro com amigos que não vejo há muito tempo. Era um tiroteio entre polícia e bandidos. Voltei pra casa. Em casa me avisaram que se eu fosse para a Freguesia, não passasse pela Cidade de Deus, pois estava havendo tiroteio por lá.
Segunda-feira eu estava indo para Madureira, quando recebi mensagem pelo whatsApp que estava havendo tumulto por lá. Voltei para casa.
Postei sem saber direito o que era, numa de informar aos amigos de lá.
Em casa, li que o tumulto deu-se porque um menino de 4 anos fora atingido por uma bala perdida na domingo de Páscoa e veio a óbito na segunda-feira. De lá pra cá isso não sai da mina cabeça. Penso no tamanho de uma criança de 4 anos, no estrago que uma projétil é capaz de fazer no seu corpinho e não consigo deixar de ficar abalada. Fiquei chateada por ter sido impedida no meu direito de ir e vir? Fiquei, mas isso acontece muito mais do que se possa imaginar, seja porque o ônibus não para, seja porque o ônibus demora pra caralho, seja porque de uma hora para outra grande parte da cidade ficou dependente de uma única linha reta que corta os bairros como uma feia cicatriz e as opções são proibitivas para quem não está em início de mês. Eu não tenho filhos, mas não consigo evitar o pensamento que poderia ser um filho meu ou parente querido e mesmo não sendo, não consigo ter a distância necessária para esquecer essa morte e suas circunstâncias e aqui do meu ambiente ainda e por enquanto seguro e fresquinho, assistindo a tragedia alheia pela TV me por a julgar e decidir que a policia deva meter o cacete e mandar bala. Eu teria que ser outra pessoa para adubar esses pensamentos, eu deveria não saber que existem inocentes presos e culpados livres. Talvez eu tivesse que esquecer que nessas guerra urbana em que vivemos, nem sempre os inocentes sobrevivem. Já vai fazer um ano que eu semanalmente comento nas minhas redes sociais o absurdo que se tornou esse novo desenho que a prefeitura está fazendo com o transporte público municipal. Centenas de pessoas num raio até pequeno do sub-bairro em que moro estão sem condução, precisando caminhar cer de um quilômetro e até mais. Uma das principais ruas, por onde passavam cerca de 11 ou 12 linhas de ônibus ficou reduzida a 3, todas vindas do mesmo lado, obrigando os moradores a tomarem 2 ou 3 ônibus para um percusso muito pequeno, sem desprezar a caminhada pois não há lina alimentadora nessa região. Fico pensando nas mães com crianças, nos idosos, nos deficientes físicos, nos dias de chuva. Comento e ninguém se importa. Certamente a grande maioria dos meus contatos de rede social não precisam usar ônibus todos os dias Ou quem sabe, o cerceamento do direito de vir e vir quando comandado do alto, de dentro dos gabinetes seja uma coisa boa. O que eu ainda não consegui assimilar porque tantas pessoas que nem usam ônibus, que andam nos seus carros ou táxis estão tão incomodados com a depredação do patrimônio público ao ponto de acharem essas perdas muito mais graves que a morte de um menino de 4 anos, de acusarem as pessoas da comunidade de bolsistas, bandidos como se tudo isso explicasse o problema. 
A sensibilidade das pessoas está tão prfunda quanto a espessura do display dos seus celuares.
É um pensamento que eu vou procurar desenvolver melhor e quem saiba eu consiga entender. A morte da criança todos lamentam, com os ônibus incendiados todos se comovem e acham absurdo. Por enquanto eu só acho que as pessoas estão vivendo demais a relação com os outros através das telinhas de leds. Houve um tempo que a morte nos afetava, balas perdidas nos atingiam mesmo quando matavam outros. Hoje todos são cientistas politcos, polarizados agarrados a valores que não percebem são exatamente os mesmos dos políticos corruptos. Hoje todo mundo é juiz, capaz de saber ouvindo a TV enquanto janta quem são os bandidos e os dependentes de bolsa-família. Hoje todos se importam com os ônibus que não usam, com o hospital que não frequentam. Sim, é preciso que alguma coisa esteja em ordem no país.

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