22 de out. de 2016

Quem não tem uma história em que transformou sua abóbora em carruagem


As pessoas hoje estão numa de se registrar nos seus bons momentos para postar nas suas redes sociais. Antigamente, elas faziam carão, se produziam todas para ficarem bem vistas e talvez sair nalguma foto que só veriam um tempo depois, quando viam. As duas situações são exatamente idênticas, a diferença é a tecnologia que otimizou o tempo gasto para a gente "aparecer" e parecer feliz ou mandando bem, ou por cima da carne seca, ou "top" ou que "está podendo" ou poderosx. A linguagem também mudou bastante. Só o ser humano que mudou muito pouco ou talvez nada.

A gente "zoava" os japoneses porque eles fotografavam tudo, por exemplo, num show. Dizíamos que eles iam assistir ao show depois pelas fotos ou vídeos que faziam e, de repente, não agíamos assim, já naquele tempo,  porque ainda não tínhamos tecnologia barata o suficiente. Eram poucas as redes sociais, proliferavam os sites de relacionamentos, os chats, a internet era campo para os mais endinheirados que podiam trazer câmeras, notebooks  do exterior, além de poderem frequentar lugares "bons de aparecer" nas fotos e ter internet banda larga.

Daí, que nas redes sociais, a maioria publica o que vai "pegar bem", o que vai deixar os amigos bem impressionados. Às vezes acontece de algumas pessoas entrarem desaviadamente com um ânimo meio "sinistro", num momento frágil quase como se entrassem  num bar e, como o bar "é a igreja de todos os bêbados", abrem a alma, implicam com o vizinho, mandam indiretas. E como nas redes sociais todo mundo é lindo para compensar  ficam também ricos, fortes, sensuais, sedutores, essas coisas que são apenas uma questão de escolher como é o seu pileque. Eu, por exemplo, fico revoltada e tenho vontade de acabar com 50% da minha lista a fim de evitar brigas, sim, porque o meu estilo é: Não agradou, não agradei,  bóra trocar de botequim, antes que dê barraco.

A despeito de toda "maquiagem", a verdade é que redes sociais revelam tanto ou quanto um bom encontro ao vivo e descontraído, é só observar as reincidências nossas de cada dia, o acerto vai depender da nossa capacidade de observação e claro, tempo de postagens, do mesmo jeito que conhecer alguém demanda tempo e contato. Ainda assim, a gente acredita na felicidade que as pessoas demonstram on line e compra a idéia de o quanto "fulano está numa boa mas não me paga" e fica chateado porque ele (o fulano) está badalando e a gente em casa duro como uma pedra (ia falar pau de tarado, mas não é elegante). 
E quando a gente pensa: 
- "Olha aí a abandonada...  Numa foto cheidi homem" 
ou ainda:
- "Deprimida é o cacete, tá lá "quebrando tudo" na balada"!

Porque a gente sempre vai acreditar no que quer crer e ver da forma como deseja ver. Porque continuamos os mesmos. Observamos e concluímos sem fazer nem um pouquinho de força para ter certeza, o  julgamento é o mesmo e a condenação óbvia. Continuamos se não fofoqueiros, interessados na vida alheia. Continuamos dando "trela" para os boatos e ainda emitimos opinião e o ajudamos a ir mais longe.  Somos todo "Dona Fifi" só a janela que mudou.Agora é de led!

Um dia fui com um grupo fazer um job num dos hotéis mais bem vistos da cidade. Levei uma equipe para os serviços de copa e cozinha. As gurias antes de colocar o uniforme, escolheram os melhores cenários (ninguém escolheu a cozinha) fizeram selfies e postaram como se estivessem numa balada vip com legenda mais ou menos assim: "Vamos pegar pesado. A noite é nossa"!
Ao fim do serviço, fotografaram-se ao amanhecer, na praia, mar ao fundo, sol nascendo com legendas do tipo: "Acabadas mas muito felizes". Elas não mentiram.
É assim que é. Quem não tem uma história em que transformou sua abóbora em carruagem para ser a gata borralheira mais princesa do planeta? Eu ia dizer, quem nunca"comeu sardinha e arrotou bacalhau"?, mas, não é elegante. 

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