17 de mai. de 2008

ZONA DO CRIME



Ontem fui ao cinema...
Eu juro que queria ver "Homem de Ferro" ou Speed Racer", talvez eu esteja num "Eterno Retorno"(Friedrich Nietzsche)vai saber...
O fato é que me vi assistindo "Zona do Crime"...
Não vou negar que Carlos Bardem me atraiu.
Afirmo que outra atração é o filme estar ali pertinho e ser uma produção latina que acompanho e em algum canto da minha cabeça comparo, sem me dar conta, com os nossos nacionais.
Sim, eu sei que somos latinos a despeito da língua, até gostaria de ser um pouco mais andina, mas percebo que ninguém faz filmes como fazemos-isso, nem no bom nem no mal sentido, apenas no sentido que brasileiro tem jeito único de imprimir a película e gravar vídeos...
Tenho sempre a sensação de estar diante de uma doce e maravilhosa irresponsabilidade quando vejo moverem-se nas telas as nossas carinhas tão conhecidas e as que não são acabam por assim ficar. Mas a grande responsabilidade do meu ingresso computar para o histórico de audiência do filme é das malditas resenhas!

"Zona do Crime" (La Zona), o filme é bom, é ótimo. Mas dói. Era um filme mexicano e logo na 1ª cena que lembro, vejo... Cercada de um muro presidial dotado de concertina e tudo, uma favela...
E eu lembrei de um certo nosso ex-prefeito cujo sobrenome era um título de nobreza que aventou a possibilidade de aqui no RJ, contruir-se muros que separassem as favelas dos condomínios.Você lê Allan Kardec? Pois é. Imagina a cara que fiquei no escurinho do cinema.
Fala-se tanto de tanta coisa que me pareceu perceber em mim de repente que favela é um produto made in brazil... Como que naquele filme mexicanos tinha uma favela???!!!!

PAUSA PARA O TRABALHO - DEPOIS EU CONTINUO

O cenário me pareceu por demais familiar. Surpresas e choques não param aí. De um lado do muro e concertinas um condomínio de casas de luxo. Daquelas que só vemos na Barra ou (Malibu?).
Um assalto frustrado por uma velhinha aparentemente miliciana deságua em vários crimes de morte porque os outros crimes vão se sucedendo ao longo do filme que leva nossa emoção por uma montanha-russa.

Tem morte acidental com direito a arrependimento, tem morte proposital, suborno emocional, mãe da favela querendo o corpo do filho, despertar de consciência, adolescente babaca, diferença social entre adolescentes,truculência,questionamento a respeito de se armar cidadãos,indecisão, decisão,orgulho, vexame, amizade, senso de justiça e muita, muita sensação de impotência.
Correria, mentira, arrogância, manipulação política, desconfiança, autocracia, espancamento de mulheres e um linchamento.
Os seres em grupo protegem a si, ao seu status quo, seu espaço e seu orgulho. Existe uma polícia interna, particular do condomínio,seria de bom tom não confundi-la com milícia e não é apenas uma guarda particular. E para que um homem idoso que, num ato de legítima defesa mata um policial não seja punido e, mais que isso para que a polícia não "interfira" no bom funcionamento da ZONA (como é chamado o condomínio)corpos são ensacados, jogados no lixo, a viúva enganada e pressionada a mentir.

Enfim, o filme tem tudo que os jornais trazem para o nosso café da manhã, aquilo que quando não lemos, não conseguimos nos furtar de ouvir nos ônibus ou na pausa do café, só que organizado, numa ordem a dizer que cada um tem um lado seu para defender e e quem está do lado mais confortável vai fazer o que estiver ao seu alcance para defendê-lo ainda mais.
O filme levanta questões se você for questionador, se você é pessimista a mensagem que ele deixa vai te satisfazer. Se você é otimista, precisará vê-lo mais de uma vez e usar a imaginação para fazer o filme que diretor e roteirista não fizeram.BR>Eu que só queria um filme que me distraisse os neurônios, tive que ir pro boteco.


Poderia dizer que qualquer semelhança com fatos e locais brasileiros é mera coincidência, não fosse o poder do dinheiro, a ineficiência das armas, a humilhação da pobreza exatamente as mesmas coisas em qualquer parte.
Poderia dizer que aquelas pessoas são apenas personagens, não reconhecesse neles alguns daqueles que transitam muito perto e uns tantos que freqüentam minha TV.
Não percebesse tão familiarmente o egosísmo do "isso não tem nada a ver comigo" e a idéia que certas coisas só acontecem com outros.
Poderia dizer que há saída...Assim, por ter esperança que fosse apenas um filme, torci o tempo todo pelo pequeno, frágil, magro e assustado herói.Num dado momento da narrativa percebi que só um milagre poderia salvá-lo, mas sei que milagres ocorrem em superproduções de superpaíses, nunca num filme mexicano...


Valores como amizade lavam nossa alma em determinado momento.
A inocência do jovem que crê na justiça e sua tentativa desesperada de salvar um novo e coitado amigo que culmina com a sua morte bárbara, nas mãos de pessoas cuja a ganância de manter o que têm a despeito do que são e o que fizeram não permite que percebam que se trta de uma criança e, assustada.
Eles precisam de um culpado mesmo que este seja inocente...
Decepções da descoberta que o pai não é herói, muito pelo contrário e amargura com que um jovem pode enxergar suas oportunidades não são maiores que sua ética, seu brio, sua sensibilidade, sua solidariedade e uma correção que confirmam que o homem é fruto do meio, pero no mucho...
PAUSA PARA DORMIR - NÃO SEI SE CONTINUO...



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