1 de jan. de 2021

Teletrabalho e Trabalhadora brasileira. O que é bom pra quem?

 


Desde 2013 utilizo o sistema de teletrabalho, infelizmente mais conhecido no Brasil como home office. Nunca avaliei pontos positivos ou negativos, entendendo que isso se faz quando temos a escolha e eu não tive. Porém, estimulada pelo contexto vacina x pandemia x novo normal x pós-pandemia, amanheci propensa a esse exercício.

Particularmente, não acho o teletrabalho uma boa ideia. Como tudo na vida, há vantagens e desvantagens, como um ser pertencente ao gênero feminino, vejo muito mais desvantagens, seguindo o fluxo normatizado das coisas que “escapam ao controle” quando são direcionadas para as mulheres, afinal, vivemos num mundo organizado como, porque e pra quem?

O que a maioria das pessoas apontam como vantagem eu considero complicadíssimo: Flexibilidade. O respeito à carga horária depende muito da capacidade individual de organização e também do “semancol” dos chefes e patrões. Pode fazer bico, não estou criando “pelo em ovo”! Ainda percebemos bastante ativos procedimentos vários que nos remetem às políticas escravagistas, diariamente lidamos com notícias sobre vários tipos de assédios e abusos no trabalho, é fato que falta ao país aprender muito sobre respeito ao trabalhador, principalmente às mulheres e mais ainda às mulheres que trabalham e também às mulheres que estudaram para exercer as funções onde trabalham. Ufa! É cansativo.

Em 2019, a diferença salarial entre homens e mulheres, aumentou para 67,92%, após 7 anos de quedas consecutivas. Ou seja, homens sempre receberam salários maiores que as mulheres e em 2019 essa diferença aumentou. Claro que não vou comentar que provavelmente haja alguma relação com o tipo de presidente que hoje habita o palácio do Planalto, pois que ele trabalha incessantemente para o retrocesso de forma ampla, geral, irrestrita e galopante.

Se compararmos o salário com uma pizza, o salário dos homens equivaleria a 8 fatias e o das mulheres, aproximadamente, 5 fatias e meia.

Entrei nesse recorte para trazer a reflexão sobre nós mulheres brasileiras temos um problema e dos grandes, somados a tantos anteriores ainda não resolvidos. Há 19 anos vivendo no século 21, parece que ainda somos punidas por termos abandonado as convenções sociais que nos impediam o trabalho e nos entregavam como bem de consumo a um marido “provedor”. E se não resolvemos o trabalho doméstico, como “domesticar” o nosso próprio trabalho, dito, formal? Só aí já percebemos o tanto de preconceito quando o objeto trabalhista é feminino.

Acrescentando que o teletrabalho ocasiona para o trabalhador, despesas com aluguel, energia, gás, alimentação, limpeza, manutenção dos equipamentos, reformas, suprimentos — um dos grandes motivos para as empresas acharem o essa modalidade algo sensacional, afinal se livram de despesas e aumentam os lucros. No “pega pra capar” pandêmico nem se teve tempo de pensar e muitas trabalhadoras arcaram e continuam arcando com esses ônus que precisam ser negociados com os patrões. tíquete-alimentação revertidos para outras despesas enquanto se organizasse o restante, mas foi só um achismo bobo da minha parte.

Não precisar se locomover até o local de trabalho é a melhor coisa do home office, a natureza agradece! Ainda assim, para as mulheres que passaram séculos confinadas em casa, para as quais estar em casa é sinônimo de trabalhos domésticos ininterruptos, faz falta aquela fugidinha ao shopping ou ao chopp com amigas ou colegas de trabalho.

Por fim, temos que um trabalhador noturno por exemplo, quase sempre, tem o seu sono velado pela esposa ou mãe ou governanta, sempre uma mulher, claro e no dia-a-dia essa prática não é um beneficio que uma mulher vai se gabar de usufruir, o que impacta num dos aspectos vistos como positivo para o teletrabalho: uma flexibilidade dos horários. Em se tratando de mulheres que não possam contar com um suporte para as atividades de casa; de mulheres que têm filhos ainda pequenos sem entendimento que mamãe está em casa porque agora mamãe trabalha em casa; e mulheres que têm maridos incompetentes nas “prendas domésticas”, sem contar a parentada que sempre vai pedir um favor ignorando o respeito ao trabalho de uma mulher em casa. Essas variáveis ​​destroem a possibilidade de flexibilizar o horário ou a inviabilizam como a opção alternativa de trabalho noturno, que é ruim por dois lados: A comunicação com a equipe de trabalho ou cliente, embora a empresa te peça coisas fora do horário, interrompendo o jantar, você não pode fazer isso; E a vida familiar ficaria completamente comprometida, aliás a saúde e sanidade mental das mulheres estariam destruídas.

Portanto, pense bem antes de achar que uma pandemia pode ter sinalizado com o paraíso na forma de teletrabalho ou home office, isso seria verdade se esse sinal fosse visto como um aviso para a falência total e completa do sistema capitalista; relacionado para a valorização das pessoas e inclusão de novas mentalidades de civilizações que foram preteridas, esmagadas pela colonização dos mundos. Já pensaram o tanto de sabedoria afro-brasileira e originária que poderia ser usado numa nova configuração de sociedade?

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