Tropa de Elite 2 não é um filme que se assista pura e simplesmente, pois a todo momento somos sugados para dentro da tela... Ou seria a tela que insiste em pendurar-se nas nossas vidas? Lotado de referências tipicamente nacionais de um Rio de Janeiro que que está em toda parte do Brasil a despeito da insistência de muitos em não perceber.
Não há como se sair indiferente dessa projeção, é um dedinho que nos toca no ombro, u'a mão que nos dá na cara para logo após socar-nos o estômago e sem piedade, num golpe final, olhar bem nos nossos olhos e cinicamente sorrir. Saí do cinema espancada, abatida, com sentimento de revolta, pronta a explodir qualquer comício que passasse na calçada.
Desta vez José Padilha pôs o dedo na nossa cara e relembrou que nenhum de nós é inocente.Mais de seis milhões e meio de pessoas viram o filme, o que mais se teria a dizer? A minha visão de mulher que diante de um jornal, entre uma foto chocante de crime/tragédia e outra de políticos/sorridentes em campanha, recorre às cenas do próximo capítulo de uma novela qualquer como recurso para não enlouquecer com a impotência e letargia dos nossos tempos. Hoje a vida é tão rápida! Os recursos tecnológicos nos deixam por dentro de tudo e em tempo real... E justamente agora, encontramo-nos apopléticos, sem saber para onde ir e sem perceber para onde estão nos levando. Deixamo-nos enganar com gosto, só para não saltarmos da condição de vítimas ou de famosos "massa de manobra" para o papel de quem molda seu próprio destino. Nunca precisamos tanto evocar nossa porção Capitão Nascimento, nunca ele foi tão ficcional...
No princípio eram as drogas e o tráfico. E a polícia corrupta viu que tudo isso era muito bom!Acharcou traficantes, elementos enriqueciam, arquivos eram queimados e no saldo das prestações de contas , não havia porque se importar com os inocentes... A rede cresce e engrossa até criar contornos diante dos olhos do nosso herói que ervas daninhas se combate como pragas, eliminando-se! Surge a lenda e acaba o filme 1.
O que Tropa de Elite 2 tem de melhor, é a humanidade do seu herói, a babaquice dos seus cidadãos, a implicância com os intelectuais defensores radicais dos direitos humanos na base do “é dando que se recebe” e com aqueles que pensam ter mais direito aos direitos humanos que suas vítimas e finalmente, a profusão de frases candidatas a bordões que alegremente continua.
Com uma fotografia funcional que participa como personagem da trama, a qualidade do filme é inquestionável aliada a um roteiro preciso, amarrado, coerente.
Rimos, quase choramos, nos indignamos, prendemos a respiração, xingamos e quando saímos do cinema nos surpreendemos pensando.A sociedade a qual as instituições deveriam servir, delas se servem.
Os políticos, cargos para o serviço e satisfação da sociedade, dela se servem.
A polícia que existe para servir e proteger a sociedade nela tem seu maior antepasto.
O poder se alimenta da desgraça das pessoas.
O sistema precisa fomentar desgraça para para que suas manifestações de poder sejam inquestionáveis.
O cidadão, desculpa para tantas ações e legislações, é no fundo apenas aquele que irá manter com sua ignorância, ingenuidade e fruto do seu trabalho formal ou não, todo o peso de um sistema faraônico que arrogantemente irá lhe roer até os ossos e pagará cada vez mais caro por isso.
Ali entendemos exatamente o que é a lei do mais forte e que evoluir não faz o menor sentido. A marginalidade diante da polícia só tem um destino que certamente não é a reabilitação...
Não há defesa pra ninguém.
Ninguém é inocente, numa sociedade onde se vive por alianças para fortalecimento individual e as possibilidades de ganho sempre passam a existir e ter importância por si só. A ganância não olha para ética e o poder existe para deleite de todos aqueles que pensam estar um milímetro acima do que é chamado de povo. (O brasileiro tem um dificuldade de se ver como povo, como todo, não? As críticas são sempre feitas em 3ª pessoa).
Todos ali naquela película, tem um preço e a política não olha para nada nem ninguém que não seja suas próprias vaidades.
Não importa o que o herói possa fazer, o sistema existe e se reinventa e se alimentará das necessidades que se não existirem, ele criará. Osistema se reinventa, daptando-se e lançando mão do que teoricamente seria ferramenta para sua própria mudança ou destituição.
Por sorte, por piedade jamais por acaso, no início do filme somos avisados que é uma obra de ficção, o que nos faz rir das referências tão claras do jornal que manda profissionais para morte; Cúmplices de autoridades políticas orquestradoras de candidatos políticos, financiados pela grana de uma nova modalidade de crime;
Do apresentador de TV invejado pelo governador pelo número de opinião capaz de formar;
Do agente carcerário que não vê nada demais no inferno que se desenha dentro dos presídios;
Do intelectual defensor dos Direitos Humanos que vê tudo demais nos infernos prisionais ignorando que entre mauricinhos de faculdade e bandidos nas unidades prisionais existe o segmento que dever-se-ia denominar cidadão para o qual todos os esforços das autoridades, serviços e servidores deveriam ser direcionados e não exatamente o contrário como nos mostra o soco na cara de José Padilha.
Temos a chance de perceber como é a política de governar para si mesmo e percebemos que jamais tivemos outra forma de política...
Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro – sua exibição deveria ser indicada a passar nos próximos horários eleitorais gratuitos, apenas isso.
No mais, foi um alívio ver no filme de ficção, que num país onde se apregoa que milhares de empregos são gerados a cada momento, existe um herói desempregado, humilhado, incompreendido. Alívio, porque conheço pessoas reais nessa condição e elas não serão ouvidas enquanto não puderem apresentar vantagens, o que pode nos dar um alento de esperança no futuro.
Não sabemos de onde vem o tiro. mas ainda podemos de certa forma ter esperança!
Nota 10, sobre tudo pela coragem da cena final, o rasante panorâmico por sobre a origem e finalidade dos problemas mostrados no filme, que é a sua própria razão de ser, podendo também ser a solução. Não se deve assistir a este filme pensando em tratar-se de uma história fictícia numa determinada cidade, pois que cidade e governos locais nada mais são que miniaturas de um país... Afinal, nem mocinho nem bandidos disparam o gatilho sozinhos muito menos por nada...
Site oficial: http://www.tropa2.com.br
Tropa de Elite 2. 2010. Brasil.
Direção: José Padilha
Roteiro: Braulio Mantovani e José Padilha
Elenco: Wagner Moura (Nascimento); Irandhir Santos (Fraga); André Ramiro (Mathias); Pedro Van-Hel (Rafael); Maria Ribeiro (Rosane); Sandro Rocha (Russo); Milhem Cortaz (Fábio); Tainá Müller (Clara); Seu Jorge (Beirada); André Mattos (Fortunato); Jovem Cerebral (Braço)
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