Março é o mês da mulher. Meu editor pediu que escrevesse
sobre as grandes mulheres de todos os tempos. Mas como conseguiria eu fazer isso,
se empaquei diante da notícia de morte do pequeno Alex que teve o fígado
dilacerado por espancamento? Espancamento constante e diário. Espancamento para
que ele aprendesse a ser homem, para que deixasse de gostar de lavar a louça,
para que aprendesse a andar como homem, para que mesmo criança perdesse o gosto
por cantar e dançar.
Alex foi mandado pela mãe, da Paraíba para o Rio para viver com seu pai a fim
de que
Alex, o menino morto pelo pai, teve o fígado dilacerado pelos constantes espancamentos |
pudesse frequentar a escola. O pai de Alex tem antecedentes criminais,
envolvimento com o tráfico de drogas, mas o que foi nocivo e fatal para o
pequeno Alex é o pensamento vigente de que um homem tem que ter jeito de homem.
Pai e mãe de Alex tem um outro filho que gosta de lavar a louça e que já foi
espancado por isso e mudou-se, indo morar com parentes.
A sociedade no geral declara nas redes sociais que são compreensivos com os
gays, alguns até tem amigos gays porque são “discretos”. Meninas lésbicas tem
lá o seu quinhão de paz quando não são masculinizadas, porque "ainda tem jeito",
precisam superar um “trauma” ou encontrar um homem que lhes mostre “o que é
bom”, quando fazem o estilo “butch” recebem os piores apelidos.
Homens quando transcendem a trajetória da pobreza,
escolarizados e ricos conseguem algum respeito por parte da nossa hipócrita
sociedade, mulheres vitoriosas na carreira, independentes na vida, ganham novos apelidos pejorativos,
independentemente da opção sexual. Mulheres ainda que competentes, capacitadas
e poderosas, precisam ser bonitas, jovens e magras para ganharem um respeito
altamente desrespeitoso.
E aí, para não fugir da pauta proposta pelo José
Carlos, tivemos grandes mulheres algumas lésbicas que foram parar na vala comum
do ostracismo. Tivemos grandes mulheres heterossexuais que amargaram os mais
desprezíveis julgamentos.
Ainda se cobra da mulher uma postura antiquada,
proliferam as piadas sobre virgindade, sobre o amor feminino pelo status
econômico dos homens. As heroínas que deram origem à comemoração do Dia
Internacional da Mulher, eram operárias que reivindicando salários iguais aos
dos funcionários masculinos, foram trancafiadas na fábrica em chamas durante o
ato de protesto.
A reflexão sobre a condição feminina precisa ser muito maior
que as comemorações. O poder instituído
não vacila em usar de todo o tipo de violência para enquadrar um ser humano na
forma da nossa hipocrisia social arcaica. O homem que matou o próprio filho a
pancadas, queria “apenas” que ele tivesse “jeito de homem”, para a mulher não
basta ter jeito de mulher, ela tem que se enquadrar no modelo secular de
subserviência, prestar obediência, agir como propriedade.
Esse machismo é tão
arraigado, que faz com que mães criem seus filhos de modo a dar sequencia a
esse equívoco sexista. São as mulheres que criam os homens e lhes transferem
conceitos que mais tarde serão usados contra elas.
A liberdade sexual trouxe novos ônus e não dispensa o crivo
da crítica que faz da mulher independente uma vadia. A violência contra a
mulher é sempre entendida como responsabilidade dela própria seja por suas
roupas, seus hábitos ou estar em lugares errados em horas inapropriadas. Tal
qual o gay, por mais que a mulher consiga espaço, terá carência de respeito. Há
na nossa sociedade um profundo desprezo pelo feminino, não importando em que
corpo ele habite.
Adorei!!!Alias como tudo que escreves!!!
ResponderExcluirMas que surpresa maravilhosa! Um comentário!!
ResponderExcluirObrigada Elvina!! Beijo grande