Dois meio-irmãos (apenas por parte de mãe) são tão unidos que se tornam íntimos e de tão íntimos se tornam amantes. A mãe (Júlia Lemmertz) cedo percebe e mediante a dúvida de estar maculando a grande afinidade infantil dos irmãos ou mesmo despertar a “maldade” neles, deixa a cargo do filho mais velho a responsabilidade lhe contar caso venha a perceber algo ‘diferente’ nos seus sentimentos em relação ao irmão. Seu ex-marido e pai do filho mais velho, percebe e conversa com a ex-esposa que lhe diz que isso é coisa de criança, afinal eles são muito novinhos.
A platéia convive-se com os dois irmãos ainda meninos por um período tão longo do filme e eles se transformam em adultos de uma forma tão repentina, que possivelmente não se enxergue ali, os dois irmãos e sim dois amantes, de forma que o choque prometido ficaria por conta de héteros homofóbicos que porventura estivessem na sala de projeção (o que felizmente, não foi o caso da sessão que assisti, afinal, é mais do que desagradável encontrar homofobia em qualquer lugar que seja).
Para pessoas acostumadas ou curiosas em ver beijo entre iguais, propagandas de creme de barbear, notebooks iMac, ondas e praias ou quem sente saudades do bom e velho fusca conversível e para aqueles que não tenham muita pretensão que não a de se deleitar com a beleza física dos atores, o filme é o calmante certo para uma noite de sono tranqüila.
Para os gays que desejem desestressar, esquecer as durezas da vida, descansar do preconceito e dos amores impossíveis é a história perfeita! Imagine um mundo onde você possa buscar o grande amor da sua vida na maternidade. Que possa conviver com ele desde sempre, numa vida confortável, numa casa de luxo com toda a privacidade. Imaginou? É o paraíso “Do Começo ao Fim”.
Bem, para não parecer a história de Adão e Adão no paraíso: Pedro (JEAN PIERRE NOHER) é ex-marido de Julieta (Júlia Lemmertz) e ambos são pais de Francisco (JOÃO GABRIEL VASCONCELLOS). Pedro foi namorado de Rosa (Louise Cardoso) e Rosa mora na casa de Julieta, que agora casada com Alexandre (FÁBIO ASSUNÇÃO) tem o segundo filho, Thomás (RAFAEL Cardoso). Thomás é narrador em off do filme e começa contando que nasceu e demorou duas semanas para abrir os olhos fato que sua mãe não se importou, por pensar que quando ele estivesse pronto abriria. O bebê Thomás por sua vez só abriu os olhos quando viu o meio-irmão mais velho. Eis aí uma história, pois de predestinação!
Se por um lado temos a mãe que percebe o excesso de intimidade entre os irmãos e prefere fechar os olhos para isso, por outro, temos o pai que não sabemos exatamente o quanto enxerga desta situação. O roteiro tem uma maneira muito prática de eliminar as supostas dificuldades da vida conjugal dos meninos representadas pelas pessoas mais próximas. As que permanecem, se suspeitam não comentam. As que poderiam comentar ou gerar qualquer entrave, não existem. O pai,se percebe prefere amá-los à distância de modo a deixar espaço e privacidade para que desfrutem em plenitude o amor que sentem um pelo outro que chega às vias de fato com a doce libertação causada pelo desaparecimento da mãe.
Que mundo feliz!
Esses meninos não tiveram crise de adolescência, dúvidas angústias nem mesmo incertezas e inseguranças inerentes à sexualidade adolescente em ebulição face ao desejo por uma pessoa do mesmo sexo.
Que maravilha!
A primeira transa é desencanada, repleta de decisão quase um jogo que apesar de plasticamente viável e interessante, vem na sequência de uma cena que a faz ficar pouco provável. Por fim, o drama que chega com possibilidade de separação dos meio-irmãos-amantes, abre um pequeno leque de novas oportunidades que não empolgam.
Então ficamos assim:
Não faço idéia do que fazer com a informação que Louise Cardoso foi a namorada mais velha do atual marido da Júlia Lemmertz, mas aprendi que dois irmãos podem se amar e se entregar com tranqüilidade a esse amor. Dois rapazes bonitos e saudáveis chegam virgens aos 21 e 27 anos, aguardando o melhor momento para efetivarem sua maturidade sexual. Pai e mãe podem olhar esse amor com plena naturalidade e pessoas ao redor não terão a menor curiosidade e sequer tecerão comentários a respeito. É possível beijar alguém com o rosto repleto de creme de barbear. Neste filme ainda participamos de um teste de averiguação do nosso nível de canalhice, a partir da nossa imaginação conforme o que nos sugerem algumas cenas.
Este filme é o paraíso “Do começo Ao Fim”. A perfeição a serviço da imperfeição num mundo perfeito e improvável.
Interessante são as sessões lotadas com uma antecedência de dar inveja aos lançamentos de superproduções americanas. O Arteplex no domingo, sessão das 22:00 parecia Odeon às 21:00 na última sexta do mês!
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=HTTJysHADRA]Finalmente o público Gay vai ganhando seu mercado, conquistando seu espaço, mas seria realmente preciso lançar mão de um incesto pra falar de amor homossexual?
Por: Rozzi Brasil. Blog Eh-Ventos do Bem.
Do Começo ao Fim. 2009. Brasil. Direção e Roteiro: Aluisio Abranches. Elenco: JULIA LEMMERTZ – Julieta; FÁBIO ASSUNÇÃO – Alexandre; LOUISE CARDOSO – Rosa; JOÃO GABRIEL VASCONCELLOS – Francisco; RAFAEL CARDOSO – Thomás; GABRIEL KAUFMMAN - Thomás (criança); LUCAS COTRIM - Francisco (criança); JEAN PIERRE NOHER – Pedro; MAUSI MARTINEZ – Lucrécia. Gênero: Drama, Romance. Duração: 90 minutos.
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