Quando eu percebi que não
conseguiria ser cantora de rock, pensei seriamente em tornar-me arquiteta,
numa época em que calculadora era luxo.
Formada professora de nível fundamental, pra alimentar 2 coelhos numa cumbuca só : livrar-me das "Exatas" e realizar o sonho da minha mãe (ter uma filha professora), descobri que precisaria fazer um curso pra "pilotar" uma HP... Quem lembra das calculadoras HP?
Apaixonada
pelos casarios antigos, coloniais do Rio, o calçamento antiquado, as ruas
estreitas - vivia imaginando como as sinhás e suas saias cabiam em tão pouco
espaço e concluía que mesmo os escravos da casa grande viviam uma vida que
não valia a pena... Enfim, que nessa fase, pra sacramentar toda a minha
contraditória alma, eu não achava graça nos estilos modernos. porém gostava
muito de uma cristaleira... Sofás enormes e camas imensas. A antiguidade nos
oferecia espaço, a modernidade nos jogava uns por cima dos outros. Mas foi
avaliando a possibilidade de ser arquiteta que conheci, através de revistas e
livros (não tinha Google, ok?) Ludwig Mies. Ele dizia coisas como : "Menos
é mais", "Deus está nos detalhes". Usava cimento e aço e deve
ter sido o precursor da auto ajuda quando mandou frases como "É melhor
ser bom do que ser original" e "Eu não quero ser interessante. Eu
quero ser bom".
Bem,
certamente que a originalidade carrega pesado ônus, além de alimentar os bons
e os que se acham bons, pois que é possível sim, construir-se toda uma vida
muito original a partir de modelos copiados...
Nos
tempos atuais é tão importante ser bom quanto ser original, embora eu
reconheça que o reconhecimento da cópia seja mais imediato, me surpreendo
pensando que eu quero ser interessante, porque o meu trabalho é bom e tem
originalidade suficiente, para ser copiado. Coisas da vida, os melhores
passaram por isso!
Não fiz
Arquitetura, intuitivamente percebi que tinha outras formas de criar,
construir unindo o prazer ao trabalho, a beleza à funcionalidade, a criação
ao resultado, parti pra Pedagogia onde menos é mais que demais!
Deixei
o Rock na infância, tive uma adolescência castigada pela ausência de músicos,
dourada pelo sal e sol da Barra que ainda não era filhote de Miami, embalada
pela Disco Music, que tinha lá seus bons sons, mas carecia de humanidade. O
samba encontrou-me mulher feita, mesmo depois de ter me assediado inúmeras
vezes sem que nunca eu dissesse não, porém hesitante em dar-lhe um sim. Hoje
percebo que o samba me queria desde sempre e eu sempre ansiei por ele, no
entanto precisávamos nos compreender para que vivêssemos assim, como vivemos
hoje cordas e percussão, harmonia pura.
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27 de nov. de 2013
É melhor ser bom do que ser original
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