Mas todos nós ao modo das plantas, temos raízes. Raízes que em determinado momento nos darão de beber e fortalecerão determinados pensamentos que culminarão em atitudes e decisões.
Nascemos com uma carga genética herdada e seguimos registrando conhecimentos, idéias, manifestações e orientações de terceiros. Processamos tudo conforme nós mesmos a partir de certas individualidades mas é fato que somos “produzidos” por muitas “mãos”, ficando sob nossa responsabilidade o credenciamento, o nosso certificado de autenticidade , gerado por nossas reações diante das experiências da vida.
Um cidadão do mundo, por mais expandidas que traga suas raízes, terá sempre uma origem e esta é inexorável. Cortá-las é deixar morrer-se, enxertar-se é enriquecer.
Pensando dessa forma entendo porque, seja tão mal visto o discurso em terceira pessoa. Fala-se na terceira pessoa do singular quando tecemos a nós os elogios que os outros não fazem ou quando desejamos criticar o segmento do qual fazemos parte e de certo modo rejeitamos ou vislumbramos imperfeições, por exemplo quando um brasileiro decide falar mal do “povo brasileiro”, sempre ignorante, preguiçoso, que não sabe votar e por aí vai.
Recentemente
na mesa redonda da cozinha aqui de casa que é quadrada, perguntaram-me se eu
era a favor dos Black Blocs e respondi que sim. Espanto geral, abriu-se um
discussão interminável. Antes de falar sobre esses BBs, preciso dizer que
discordo de todos aqueles que citam o povo brasileiro em terceira pessoa. Povo brasileiro não são os miseráveis, pobres, 'desaculturados',
ignorantes e tudo o mais que rejeitamos. Povo brasileiro somos nós e todos nós
somos mestiços que como cidadãos temos milhares de obrigações e algumas dezenas
de direitos.
Povo brasileiro são também os ricos, os “mauricinhos” e
patricinhas” da zona sul e eles tem tanta culpa de serem o que são quanto o
menino pobre oriundo de uma comunidade. O que faz a diferença, tem origem na
herança política podre que recebemos junto com a certidão de nascimento e o
destino dos que não migram em definitivo para outros países: A falta de
oportunidade. Não se pode cobrar de um povo aquilo que não receberam condição
de pensar e perceber; como não se pode cobrar de uma semente não plantada o seu desabrochar... A classe média e/ou alta , por ter oportunidade e na maioria das vezes uma aprendizagem desviada da sensibilidade, expandida em torno do próprio umbigo e vício de farinha pouca meu pirão primeiro, não é menos nem mais povo brasileiro que qualquer deserdado da "sorte"
Nosso país tem o vício de resolver questões sob a caneta da lei, leis que quase sempre são punitivas contexto de um sistema nada educativo. Nossos governantes detem o poder com mão de ferro e sorriso acrílico através de alianças deformadas numa engrenagem torta. Temos muitos resquícios da monarquia valendo até hoje, percebi isso ao ver candidatos pré-históricos apresentando sua continuidade através dos seus herdeiros.
Num país onde o povo conhece o candidato e desconhece os partidos. Onde voto já foi negociado à base de troca tal qual exploradores portugueses negociaram com os índios seus espelhos em troca do nosso ouro, qual a dúvida que a educação seja a única solução?
Na mesa da cozinha aqui de casa, colocamos as
palavras na mesa. Aqueles contra as manifestações só me ouviram quando disse
que elas fazem parte de um processo e expressam um desagrado, muito parecido
com o daqueles que se expuseram lutando contra a escravidão num tempo em que
personalidades da Maçonaria eram influentes e a política era feita entre quatro
paredes. Claro que as manifestações do nosso desagrado, são necessárias, sem
ela estaríamos até hoje escravos habitando uma imensa de
extração. O que mudou, é que hoje a rua
tem voz, mas demorou para que o povo percebesse isso. Com horário marcado, jornada
de trabalho longa, tempo de trajeto maior ainda, prensado nos transportes
públicos ineficientes que enriquecem seus concessionários, o legítimo povo carioca da gema, enxerga as
manifestações como um transtorno. Vivem o dia-a-dia, exatamente aquela parte do
pão nosso de cada dia.
Quantos pensadores do povo desapareceram ao longo dos 40 anos de ditadura militar e quantos deixaram de florescer nas as sucessivas intervenções nos setores da educação e cultura? Quantos deixaram de pensar, acreditando que se “deu no jornal” e “falou na emissora famosa é verdade absoluta e indiscutível?
Não se cobra carinho, direitos para um povo quando sentimos vergonha de estar ao lado dele.
Quantos pensadores do povo desapareceram ao longo dos 40 anos de ditadura militar e quantos deixaram de florescer nas as sucessivas intervenções nos setores da educação e cultura? Quantos deixaram de pensar, acreditando que se “deu no jornal” e “falou na emissora famosa é verdade absoluta e indiscutível?
Não se cobra carinho, direitos para um povo quando sentimos vergonha de estar ao lado dele.
Assim, não acho justo dizerem que as
manifestações não genuinamente populares por abrigarem meninos de classe média
alta, pois que eles são povo também.
Não acho certo no meio de 1 milhão de
pessoas a ênfase ao que fazem 300.
Não
acho certo as câmeras insistirem na depredação que acontece ao final das
manifestações sem mostrar famílias, crianças e idosos que também marcham
engrossando o coro dos descontentes.
Portanto nenhuma novidade e a pergunta que eu me faço, não é mais fácil deter
um mascarado do que alguém sem máscara?
Nossos militares tem uma nódoa feia no currículo,
quando em 31 de abril de 1981, no show em comemoração ao Dia do Trabalhador, no
Riocentro, um sargento e um capitão (atualmente coronel) tentaram explodir duas
bombas no local imputando a responsabilidade à esquerda, com o objetivo de
paralisar a anistia em andamento e desencadear uma nova onda de repressão
política.
Muitos dos nossos jovens afirmam que jamais houve ditadura no Brasil, a maioria
de nós afirma não gostar de política e delega aos políticos tudo o que diz
respeito a ela. Parece-nos normal um partido de esquerda fazer aliança com um
partido de direita, o saco de gatos resultante disso é o trabalho que o
governante terá pela frente, dividindo cadeiras no poder como se vivêssemos no
tempo das Capitanias Hereditárias. O povo que cedo abandonou a escola, alguns
que nem entraram nela, outros que não entende que minorias não existem, que se
preocupam mais com a ida para o trabalho e o retorno dele são os que definem aqueles que dirigirão o nosso país.
O nosso
país é o lugar onde vivemos e nele está a nossa vida, nele muitos perderam a
vida por discordarem da prepotência e autoritarismo que levou à falência do
ensino público, a censura das manifestações artísticas, que não permitiu a
continuidade das liberdades adquiridas com a Abolição, Independência,
Proclamação da República e tantos outros retrocessos. O Brasil PE grande mas
não PE um universo distante e política é o que fazemos desde a hora que
acordamos até o momento que vamos dormir. Política é a nossa relação com as
coisas com as possibilidades. Tivemos um
presidente que se elegeu dizendo que não daria o peixe mas ensinaria o povo a
pescar... Política é interpretar propostas, promessas, resultados e principalmente o que nos dizem
os informativos dos jornais e Tvs.
Texto não publicado na Revista S! por ter ultrapassado o espaço
Texto não publicado na Revista S! por ter ultrapassado o espaço
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