12 de dez. de 2013

Black Block na Mesa Lá de Casa

Ia começar esse texto dizendo que somos árvores, acontece que nem todo vegetal é uma árvore e muitos de nós não possuímos a envergadura de um jequitibá... 
Mas todos nós ao modo das plantas,  temos raízes.  Raízes que em determinado momento nos darão de beber e fortalecerão determinados pensamentos que culminarão em atitudes e decisões. 

Nascemos com uma carga genética herdada e seguimos registrando conhecimentos, idéias, manifestações  e orientações de terceiros. Processamos tudo conforme nós mesmos a partir de certas individualidades mas é fato que somos “produzidos” por muitas “mãos”, ficando  sob nossa responsabilidade o credenciamento, o nosso certificado de autenticidade , gerado por nossas  reações diante das experiências da vida. 
 Um cidadão do mundo, por mais expandidas que traga suas raízes, terá sempre uma origem e esta é inexorável. Cortá-las é deixar morrer-se, enxertar-se é enriquecer. 

Pensando dessa forma entendo porque,  seja tão mal visto o discurso em terceira pessoa. Fala-se na terceira pessoa do singular quando tecemos a nós os elogios que os outros não fazem ou quando desejamos criticar  o segmento do qual fazemos parte e de certo modo rejeitamos ou vislumbramos imperfeições, por exemplo quando um brasileiro decide falar mal do “povo brasileiro”, sempre ignorante, preguiçoso, que não sabe votar e por aí vai.


Recentemente na mesa redonda da cozinha aqui de casa que é quadrada, perguntaram-me se eu era a favor dos Black Blocs e respondi que sim. Espanto geral, abriu-se um discussão interminável. Antes de falar sobre esses BBs, preciso dizer que discordo de todos aqueles que citam o povo brasileiro em terceira pessoa.  Povo brasileiro  não são os miseráveis, pobres, 'desaculturados', ignorantes e tudo o mais que rejeitamos. Povo brasileiro somos nós e todos nós somos mestiços que como cidadãos temos milhares de obrigações e algumas dezenas de direitos. 
Povo brasileiro são também os ricos, os “mauricinhos” e patricinhas” da zona sul e eles tem tanta culpa de serem o que são quanto o menino pobre oriundo de uma comunidade. O que faz a diferença, tem origem na herança política podre que recebemos junto com a certidão de nascimento e o destino dos que não migram em definitivo para outros países: A falta de oportunidade. Não se pode cobrar de um povo aquilo que não receberam condição de pensar e perceber; como não se pode cobrar de uma semente  não plantada o seu desabrochar... A classe média e/ou alta , por ter oportunidade e na maioria das vezes uma aprendizagem desviada da sensibilidade,  expandida em torno do próprio umbigo e vício de farinha pouca meu pirão primeiro, não é menos nem mais povo brasileiro que qualquer deserdado da "sorte"

Nosso país tem o vício de resolver questões sob a caneta da lei,  leis que quase sempre são punitivas contexto de um sistema nada educativo.  Nossos governantes  detem o poder com mão de ferro e sorriso acrílico através de alianças deformadas numa engrenagem torta. Temos muitos resquícios da monarquia valendo até hoje, percebi  isso  ao ver candidatos pré-históricos apresentando sua continuidade através dos seus herdeiros.
Num país onde o povo conhece o candidato e  desconhece os partidos.  Onde voto já foi negociado  à base de troca  tal qual  exploradores portugueses negociaram com os índios seus espelhos em troca do nosso  ouro, qual a dúvida que a educação seja a única solução?


Na mesa da cozinha aqui de casa, colocamos as palavras na mesa. Aqueles contra as manifestações só me ouviram quando disse que elas fazem parte de um processo e expressam um desagrado, muito parecido com o daqueles que se expuseram lutando contra a escravidão num tempo em que personalidades da Maçonaria eram influentes e a política era feita entre quatro paredes. Claro que as manifestações do nosso desagrado, são necessárias, sem ela  estaríamos até hoje  escravos habitando uma imensa de extração.  O que mudou, é que hoje a rua tem voz, mas demorou para que o povo percebesse isso. Com horário marcado, jornada de trabalho longa, tempo de trajeto maior ainda, prensado nos transportes públicos ineficientes que enriquecem seus concessionários, o legítimo  povo carioca da gema, enxerga as manifestações como um transtorno. Vivem o dia-a-dia, exatamente aquela parte do pão nosso de cada dia.
Quantos pensadores do povo desapareceram ao longo dos 40 anos de ditadura militar  e quantos deixaram de florescer nas  as sucessivas intervenções nos setores da educação e cultura? Quantos deixaram de pensar, acreditando que se “deu no jornal”  e “falou na emissora famosa é verdade absoluta e indiscutível?
Não se cobra carinho, direitos para um povo quando sentimos vergonha de estar ao lado dele.
Assim, não acho justo dizerem que as manifestações não genuinamente populares por abrigarem meninos de classe média alta, pois que eles são povo também. 
Não acho certo no meio de 1 milhão de pessoas a ênfase ao que fazem 300. 
Não  acho certo as câmeras insistirem na depredação que acontece ao final das manifestações sem mostrar famílias, crianças e idosos que também marcham engrossando o coro dos descontentes.



Portanto nenhuma novidade e a pergunta que eu me faço, não é mais fácil deter um mascarado do que alguém sem máscara?            

Nossos militares tem uma nódoa feia no currículo, quando em 31 de abril de 1981, no show em comemoração ao Dia do Trabalhador, no Riocentro, um sargento e um capitão (atualmente coronel) tentaram explodir duas bombas no local imputando a responsabilidade à esquerda, com o objetivo de paralisar a anistia em andamento e desencadear uma nova onda de repressão política.
Muitos dos nossos jovens afirmam que jamais houve ditadura no Brasil, a maioria de nós afirma não gostar de política e delega aos políticos tudo o que diz respeito a ela. Parece-nos normal um partido de esquerda fazer aliança com um partido de direita, o saco de gatos resultante disso é o trabalho que o governante terá pela frente, dividindo cadeiras no poder como se vivêssemos no tempo das Capitanias Hereditárias. O povo que cedo abandonou a escola, alguns que nem entraram nela, outros que não entende que minorias não existem, que se preocupam mais com a ida para o trabalho e o retorno dele são os que definem  aqueles que dirigirão o nosso país.
O nosso país é o lugar onde vivemos e nele está a nossa vida, nele muitos perderam a vida por discordarem da prepotência e autoritarismo que levou à falência do ensino público, a censura das manifestações artísticas, que não permitiu a continuidade das liberdades adquiridas com a Abolição, Independência, Proclamação da República e tantos outros retrocessos. O Brasil PE grande mas não PE um universo distante e política é o que fazemos desde a hora que acordamos até o momento que vamos dormir. Política é a nossa relação com as coisas com as possibilidades.  Tivemos um presidente que se elegeu dizendo que não daria o peixe mas ensinaria o povo a pescar... Política é interpretar propostas, promessas,  resultados e principalmente o que nos dizem os informativos dos jornais e Tvs.
Texto não publicado na Revista S! por ter ultrapassado o espaço

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