Ela nunca teve uma mochila e jamais usou um par de tênis e naquela roda informal de conversas e brincadeiras entre amigas isso fazia dela uma “legítima” heterossexual. A brincadeira da ativa e passiva, um mistério para aqueles que tentam entender a sexualidade a partir do modelo onde necessariamente “tem que “ haver um homem e uma mulher ainda que numa relação entre duas mulheres, a mim parece apenas um rasgo de preconceito além de muito interesse dos heterossexuais e curiosidade “ voyer” daqueles que necessitam ver ainda que com a imaginação por sob as tintas dos ensinamentos impostos, uma expressão sexual que afinal não lhe causa tanto horror assim. Horror temos das cenas de filmes de terror, das fotos de animais estropiados que postam nas redes sociais, pois essas fotos, sim, nos indignam e aquelas cenas nos fazem tapar os olhos em vez de espichar o pescoço e aguçar nossa imaginação.
Não costumamos ter
curiosidade a respeito do que não nos interessa, tenho uns poucos amigos
heterossexuais tão desprovidos de preconceito que jamais me fizeram qualquer
tipo de pergunta nesse sentido, os mesmos que vão sem medo às minhas festas de comemorações pessoais sem perguntar
se “aquele pessoal” estará lá. Para eles nunca fez diferença a minha atividade
íntima, são esses que realmente lamentaram quando os meus casamentos se
desfizeram, foram com esses que eu pude contar a cada contrato de trabalho
vencido, quando perdi meus familiares
mais chegados e sempre parte deles as
idéias para os open house a cada casa nova.
São eles que me pedem exemplares dessa revista e tem orgulho de mostrar
os “meus bons textos”, sem nenhum constrangimento pelo público alvo dela. Convidam-me para os seus eventos familiares e quando
estou com namorada apresentam-na de
forma simples e objetiva como uma amiga
ou mesmo companheira. Comportamento que
me remete à célebre frase enfadonhamente disseminada na internet onde
“simplicidade é o que há de mais sofisticado”. No geral são pessoas bem
resolvidas, que não se prevalecem da sua situação econômica nem aguardam uma fragilidade e emocional para tirarem proveito daquela
pessoa que em “estado normal” jamais lhe cederia um momento romântico ou
erótico. São pessoas que tratam bem os homossexuais, melhor do que muitos da classe
tratam os seus iguais. São pessoas que entendem que um casamento gay não mudará
o fluxo do seu universo, se nele não há esse tipo de desejo.
Você pode me perguntar porque esse tema em pleno mês de natal, é que sendo essa a data de aniversário de um Cara que amou e protegeu uma prostituta por ela ser uma pessoa, curou pobres e leprosos, andou com todo tipo de minoria da sua época, sem recusar a ela seus milagres, me levam a pensar na hipocrisia dos festejos das confraternizações sociais e
Quero fazer essa simples
homenagem a essas grandes pessoas, minhas amigas, muitas sem religião, alguns
ateus, bastante deles afrorreligiosos e
todos tão cristãos! Sei que certamente se angustiam com a equação o orçamento x
presentes para tanta gente e o sapatinho na janela para as suas crianças, mas
uma angústia que nunca será maior do que a simplicidade e sinceridade do amor que tem em seus corações. Nada representa mais o amor
do que o respeito diferentemente de
todos os discursos que ecoam por aí.
O amor verdadeiro não está predisposto ao
uso ou abuso. Quem se ama não depende de ostentar seu dinheiro e artigos que
ele compra, quem se ama não se importa
com a falsidade, porque simplesmente não se preocupa com o que não carrega em
si, uma vez que partimos das nossas vivências para avaliar o outro e o que não
conhecemos, não existe.
Eu não tenho esperança
que a humanidade se torne melhor, assim, voltada para o consumo, vaidade e
vantagem disseminados em massa, mas eu acredito nas pequenas luzes que nos
salvam de grandes escuridões. Que nesse
natal possamos lembrar e estar com aqueles que contribuem para que sejamos
vistos mais como pessoas que somos e não uma projeção e alvo daquilo que
desconhecem e sem saber desejam. Feliz Natal!
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