12 de dez. de 2013

O QUE NÃO CONHECEMOS, NÃO EXISTE




















Ela nunca teve uma mochila e jamais usou um par de tênis e naquela roda informal de conversas e brincadeiras  entre amigas isso fazia dela uma “legítima” heterossexual.  A brincadeira da ativa e passiva, um mistério para aqueles que  tentam  entender a sexualidade a partir do  modelo  onde necessariamente “tem que “ haver um homem e uma mulher ainda que numa relação entre duas mulheres,  a mim parece apenas um  rasgo de preconceito além de muito interesse dos heterossexuais  e  curiosidade “ voyer” daqueles   que necessitam  ver  ainda que com a imaginação por sob as tintas dos ensinamentos impostos, uma expressão sexual que afinal não lhe causa tanto horror assim. Horror  temos das cenas de filmes de terror, das fotos de  animais estropiados que postam  nas redes  sociais,  pois essas fotos,  sim, nos indignam e aquelas  cenas nos fazem tapar os olhos em vez de espichar o pescoço e aguçar nossa imaginação.

Não costumamos ter curiosidade a respeito do que não nos interessa, tenho uns poucos amigos heterossexuais tão desprovidos de preconceito que jamais me fizeram qualquer tipo de pergunta nesse sentido, os mesmos que vão sem medo às minhas  festas de comemorações pessoais sem perguntar se “aquele pessoal” estará lá. Para eles nunca fez diferença a minha atividade íntima, são esses que realmente lamentaram quando os meus casamentos se desfizeram, foram com esses que eu pude contar a cada contrato de trabalho vencido,  quando perdi meus familiares mais chegados  e sempre parte deles as idéias para os open house a cada casa nova.  São eles que me pedem exemplares dessa revista e tem orgulho de mostrar os “meus bons textos”, sem nenhum constrangimento pelo público alvo dela.  Convidam-me  para os seus eventos familiares e quando estou  com namorada apresentam-na   de forma simples e  objetiva como uma amiga ou mesmo companheira.  Comportamento que me remete à célebre frase enfadonhamente disseminada na internet onde “simplicidade é o que há de mais sofisticado”. No geral são pessoas bem resolvidas, que não se prevalecem da sua situação econômica nem aguardam uma  fragilidade  e emocional para tirarem proveito daquela pessoa que em “estado normal” jamais lhe cederia um momento romântico ou erótico. São pessoas que tratam bem os homossexuais, melhor do que muitos da classe tratam os seus iguais. São pessoas que entendem que um casamento gay não mudará o fluxo do seu universo, se nele não há  esse tipo de desejo.

Você pode me perguntar porque esse tema em pleno mês de natal, é que  sendo essa a data de aniversário de um Cara que amou e protegeu uma prostituta por ela ser uma pessoa, curou pobres e leprosos, andou com todo tipo de minoria da sua época, sem recusar a ela seus milagres, me levam a pensar na hipocrisia dos festejos das  confraternizações sociais e
exortações religiosas.
Quero fazer essa simples homenagem a essas grandes pessoas, minhas amigas, muitas sem religião, alguns ateus, bastante deles  afrorreligiosos e todos tão cristãos! Sei que certamente se angustiam com a equação o orçamento x presentes para tanta gente e o sapatinho na janela para as suas crianças, mas uma angústia que nunca será maior do que a simplicidade e sinceridade  do amor que tem  em seus corações. Nada representa mais o amor do que  o respeito diferentemente de todos os discursos que ecoam por aí. 
O amor verdadeiro não está predisposto ao uso ou abuso. Quem se ama não depende de ostentar seu dinheiro e artigos que ele compra, quem  se ama não se importa com a falsidade, porque simplesmente não se preocupa com o que não carrega em si, uma vez que partimos das nossas vivências para avaliar o outro e o que não conhecemos, não existe.
Eu não tenho esperança que a humanidade se torne melhor, assim, voltada para o consumo, vaidade e vantagem disseminados em massa, mas eu acredito nas pequenas luzes que nos salvam de grandes escuridões.  Que nesse natal possamos lembrar e estar com aqueles que contribuem para que sejamos vistos mais como pessoas que somos e não uma projeção e alvo daquilo que desconhecem e sem saber desejam. Feliz Natal!

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