No início da
pandemia muita gente surtou por ficar em casa. Daqui do meu canto me saí muito
bem, sem sair. Conheci as melhores e as piores faces de mim mesma.
Descobri que
sempre vivi em situação de pandemia, que sou uma sobrevivente, olhei atônita um
mundo de gente a se desesperar por cair numa situação que eu já vivia fazia
tempo ainda que melhor que muitos que ainda assim, quase ninguém se importa.
Dei meu jeito, minha mãe já dizia: "um corcunda sabe como se deita".
Fiz coisas
que eu não sabia que sabia fazer. Entendi, finalmente o que me dizia uma amiga
lá de trás, dos tempos do Orkut: "Você é uma livre pensadora". Dei de
pensar livremente. Logo eu, que sei, quando inventarem o leitor de pensamento
serei a primeira a ir pra fogueira. Já ardo mesmo, só pela dedução.
Espantei-me
muito com as pessoas, descobri pessoas que eu não imaginava dentro das pessoas
que eu conhecia, no entanto, como sempre, rapidamente deixei de me surpreender. Não existem
novidades no surto, no susto, no receio, no poder, na dor.
Depois de
uma certa idade, a gente não passou por tudo, felizmente, mas a gente já sentiu
praticamente tudo, infelizmente, inclusive a sensação de não sentir nada. Nada mais
caótico do que a emoção de não sentir, de não ter emoção sem a perda do ato se
emocionar. O ato existe mas é quase um vazio.
Emoção, como
a empatia é um dom, diferente de alguns dons, podem ser desenvolvidos sendo que
são admirados mas pouco copiados. Deveríamos priorizar copiar bondades, bons
gestos. Deveríamos.
Discordei da
expressão "isolamento social" logo nos primeiros dias que decidi me
confinar. Nunca conheci tanta gente ao mesmo tempo. Gente diferente, exatamente
por isso não conhecia quando tinha uma vida presencial.
Discordei da
expressão "novo normal" logo assim que a ouvi. Nada de novo na
política genocida, monárquica-nababesca-coronelesca-capitã-do-mato-brasileira
que normal, nunca foi.
Nada de
novo, muito pelo contrário, tudo de velho e pior, retrocedendo. Anormal
As pessoas
deveriam priorizar entender o sentido tão amplo quanto restrito e simples da
palavra dignidade. Aquela dignidade que tiraram dos originários e povos pretos
que sequestraram para o Brasil, inventando uma diáspora obrigatória.
Muito medo,
pouca piedade, muita um piedade, nenhuma empatia, logo nós, um povo que se
vendia como simpático.
Sequestraram
a dignidade do povo sequestrado e ele continuou a existir. Sequestraram a
Cultura do povo e ele continuou a existir. Sequestraram a religiosidade do povo
e ele continuou crendo.
Próxima etapa
do plano, fazê-los morrer. Em curso com sucesso, "passando a boiada". "De baciada".
A forma como
poder público assassina, leva ao assassinato e provoca suicídio do povo conta
com requintes de crueldade que...
Encerro por
aqui sem dizer metade do que vai na minha emoção. Melhor não
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