1 de out. de 2020

MELHOR NÃO....

 


No início da pandemia muita gente surtou por ficar em casa. Daqui do meu canto me saí muito bem, sem sair. Conheci as melhores e as piores faces de mim mesma.

 Descobri que sempre vivi em situação de pandemia, que sou uma sobrevivente, olhei atônita um mundo de gente a se desesperar por cair numa situação que eu já vivia fazia tempo ainda que melhor que muitos que ainda assim, quase ninguém se importa. Dei meu jeito, minha mãe já dizia: "um corcunda sabe como se deita".

 Fiz coisas que eu não sabia que sabia fazer. Entendi, finalmente o que me dizia uma amiga lá de trás, dos tempos do Orkut: "Você é uma livre pensadora". Dei de pensar livremente. Logo eu, que sei, quando inventarem o leitor de pensamento serei a primeira a ir pra fogueira. Já ardo mesmo, só pela dedução.

 Espantei-me muito com as pessoas, descobri pessoas que eu não imaginava dentro das pessoas que eu conhecia, no entanto, como sempre, rapidamente deixei de me surpreender. Não existem novidades no surto, no susto, no receio, no poder, na dor.

Depois de uma certa idade, a gente não passou por tudo, felizmente, mas a gente já sentiu praticamente tudo, infelizmente, inclusive a sensação de não sentir nada. Nada mais caótico do que a emoção de não sentir, de não ter emoção sem a perda do ato se emocionar. O ato existe mas é quase um vazio.

 Emoção, como a empatia é um dom, diferente de alguns dons, podem ser desenvolvidos sendo que são admirados mas pouco copiados. Deveríamos priorizar copiar bondades, bons gestos. Deveríamos.

 Discordei da expressão "isolamento social" logo nos primeiros dias que decidi me confinar. Nunca conheci tanta gente ao mesmo tempo. Gente diferente, exatamente por isso não conhecia quando tinha uma vida presencial.

 Discordei da expressão "novo normal" logo assim que a ouvi. Nada de novo na política genocida, monárquica-nababesca-coronelesca-capitã-do-mato-brasileira que normal, nunca foi.

Nada de novo, muito pelo contrário, tudo de velho e pior, retrocedendo. Anormal

 As pessoas deveriam priorizar entender o sentido tão amplo quanto restrito e simples da palavra dignidade. Aquela dignidade que tiraram dos originários e povos pretos que sequestraram para o Brasil, inventando uma diáspora obrigatória.

 Muito medo, pouca piedade, muita um piedade, nenhuma empatia, logo nós, um povo que se vendia como simpático.

Sequestraram a dignidade do povo sequestrado e ele continuou a existir. Sequestraram a Cultura do povo e ele continuou a existir. Sequestraram a religiosidade do povo e ele continuou crendo. 

Próxima etapa do plano, fazê-los morrer. Em curso com sucesso, "passando a boiada". "De baciada".

 A forma como poder público assassina, leva ao assassinato e provoca suicídio do povo conta com requintes de crueldade que...

Encerro por aqui sem dizer metade do que vai na minha emoção. Melhor não

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