Pra quem
chegou agora, Procuram-se Mulheres é um curta produzido numa oficina de
audiovisual de nome #PorTelas que se propôs a ensinar cinema para pessoas
periféricas, da ZN residentes nos bairros adjacentes à Madureira. Três filmes
foram produzidos, #procuramsemulheres entre eles.
Sou a
diretora, fiz o argumento, escrevi o roteiro, selecionei as personagens, vendi
meu celular pra pagar pequenas despesas de deslocamento ao longo do curso,
sonhei. Descobri finalmente, que era cinema o que deus queria que eu fizesse
quando me despachou pra esse mundo e por isso o inscrevi em todos os festivais
que pude, cerca de 70 ou 75 e compareci a cada cineclube e mostra em escolas e
faculdades que me convidaram ou que consegui me convidar.
Das
exibições inesquecíveis, além da avant première, na quadra do GRES Portela, o
filme foi exibido no Mar - Museu de Arte do Rio em duas ocasiões culturais
"de ponta", incluindo o encerramento da edição 2019 Universidade das
Quebradas que então completava 10 anos, um curso de extensão que modificou o
que já estava novo em mim com a realização desse curta que é um documentário. Nunca
vou esquecer a emoção da exibição no Odeon, num dos festivais mais incríveis
que é o MIMO Festival. Estar naquele templo, no coração do Rio, minha terra
natal, num festival foda com correntes
fodásticos. Ganhei muitos aplausos, elogios e uma noite de insônia boa, a qual passei rindo sozinha ao lembrar de tudo. E
ainda competiu no mesmo festival em São Paulo.
Nada mal
para um filme de estreia que ainda teria duas viagens internacionais para
competir não fosse a pandemia. Dos 70 ou 75 festivais onde o inscrevi, foi
selecionado para 64, recebeu 2 troféus e 4 menções honrosas. Pensando-se que os
festivais são disputa acirradíssimas, que o número de produções de mulheres ou
sobre mulheres aumentou imensamente elevando ainda mais o sarrafo mesmo nessas
competições específicas, foi um feito e tanto.
Afinal, do
que trata o Procuram-se Mulheres?
Um curta de
17 minutos, documentário que fala sobre a ausência de protagonismo da mulher no
Samba; no Festival de Santa Maria foi identificado como um "filme que
denuncia o preconceito/machismo das compositoras no samba", uma coisa que
não pensei mas que gostei. Protagonizado por sambistas que além de contarem
"os pedaços" que passaram, sugerirem soluções, mostram um aperitivo
do seu trabalho na forma como ocorrem as nossas iniciativas no samba: sem
ensaio por puros entraves econômicos.
Feito o
filme, algumas de nós sonhamos em transformar a "fita" em música.
Botei a cineasta pra subir e cantei pra produtora descer. Não era uma tarefa
fácil. O samba vive de cachês pífios, bilheterias muitas vezes complicadas, passadas de chapéu
que agora tem o lindo nome de contribuição voluntária ou solidária. Nosso grupo
não era completo, algumas instrumentistas teriam que vir "de fora" e
o soco na boca do estômago ao pensar numa bilheteria insuficiente? O produtor
trabalha mais que todo mundo na execução de uma produção, e em caso de
infortúnio, sai de mãos abanando pedindo carona, mas precisa pagar o combinado.
Ainda assim, fui à luta embalada pela realidade do talento daquelas artistas e
pelo sonho que o Procuram-se se
desdobrasse em sambas mil e se investisse da Cultura que o fez nascer e desse
uma rasteira em tudo-estrutural que ele traz naquela roda de conversa. Foram
várias tentativas tanto internas quanto
editais que deram em nada, apenas no meu amadurecimento de encarar os nãos sem
desistir e continuar confiando no sonho e na realidade.
O primeiro
edital que nos contemplou, hoje me envia um e-mail e-mail óbvio e justo,
afinal, estamos em pandemia AINDA, por mais que as autoridades neguem, não se
importem e grande parte do povo queira se adormecer como se estivesse em transe
dominado pela droga pesada da ilusão. A pandemia, ainda que algo extremamente
nocivo e delicado, expõe o câncer que nossa sociedade sempre alimentou com o
preconceito, a indiferença. O ruim da pandemia, para os nossos governantes, foi
o silenciar das moedinhas tilintando nos seus ouvidos ambiciosos de feitores
arrumadinhos com gasolina paga, carro à disposição, dentista pago, cartão
corporativo e toda uma série de benefícios que o cidadão, se precisar usar tem
que pagar e eles, não. Daqui, de Nárnia, eu fico pensando o quão estão felizes
de ver a cultura se contorcendo e seus trabalhadores à míngua e até se
digladiando entre si na discussão de dentro ou fora de casa, colocando-se como
vítimas heroicas enfrentando risco do vírus e pregando, via discursos nas redes
sociais, nas costas daqueles que se
obrigam a ficar em casa uma culpa que ninguém tem. Ninguém exceto os governates
do Brasil, da cidade e do estado do Rio de Janeiro. Os equipamentos públicos
tendo a luz cortada e sofrendo depredação. Tudo o que esses vermes precisavam
era de um vírus que atacasse a respiração das pessoas, afinal vermes respiram
em qualquer lugar, não entendem, não consomem e não fazem arte nem nada com
arte.
#revolts
#vaipassar #potencia #resistência #procuramsemulheresoshow
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