31 de dez. de 2020

PARECE QUE FOI ONTEM

Não arrumei emprego, fiz uns poucos jobs, fiz muito escambo - que hoje chamam de parcerias. Atrasei todas as contas. Recebi ordem de despejo, contei com amigas para a composição de amigáveis calotes combinados.

Fiquei triste por todos que os não se importaram com essa e situação mas contente por tê-los conhecido e não precisar mais me importar com eles.
E a vida seguiu como se nada tivesse acontecido.
Tentei formar um grupo pra um edital e aprendi porque artistas precisam de produção e direção, nem todos tem o vírus do empreendedor ou a essência da engenharia cooperativa. É preciso chegar com o projeto amarrado, cachê fixado, data marcada. Ok. Entendi. Obrigada.
Apontei minha artilharia de trabalho pra mim mesma, investi meus esforços nas minhas competências, diferentemente dos anos passados. Mas nunca fiz tantas coisas coletivas
Estudei muito. Juntei 8 certificados de participação e um de conclusão.
Botei a cara no vídeo pela primeira vez e, ou o povo gostou ou mentiram pra mim 😁
Conheci muita gente nova, muitos artistas e pessoas que fazem girar as engrenagens do sistema em que os artistas se expõem. Que pena, não ser atriz nem cantora, instrumentista e perdi a chance de cair no mundo.
Voltar a frequentar a faculdade foi um revigoramento total, fiquei como quando era criança que curtia muito mais a escola do que a minha casa.
As crises de depressão foram mais espaçadas porém bem mais intensas no entanto, superadas com maior desenvoltura. Às vezes acho que estou curada e que uma atividade remunerada fixa seria a pá de cal nesse chatice!
Não tive períodos de mania, inclusive se tivesse remuneração regular, teria tirado férias. Até me dei direto a um recesso nesse finalzinho de ano.
Acho que me tornei mais paciente, acho que consegui ouvir mais as pessoas, acho que aceitei menos provocações.
O meu pecado capital, sempre foi a ira e estou a cada dia menos irada. Ainda que eternamente indignada, transformei a minha indignação em trabalho, conceituei 25 projetos culturais entre filmes, shows, eventos e de ações sociais - tudo pra 2020/2021
Às vezes a gente precisa olhar mais pro que pode acontecer ainda que não ignore o que está acontecendo e fazer e plantar sem pensar em quem vai colher, imaginar que esse plantio vai alimentar pessoas.
Somos todos celeiros e o que guardamos neles só nós podemos decidir.
Liberdade nem sempre é usar as coisas da hora e fazer viagens incríveis. Liberdade é poder abrir o peito, a boca, os ohos sem vergonha do que outros possam ver dentro da gente. Então, capriche! Não burile o que sai, trate do que está dentro de você.
Esse ano não pensei em me matar nenhuma vez, desde Recife entendi o quanto tenho e posso fazer, o quanto o produto dos meus processos de experiência e vida é bom e pode ser útil pra tanta gente.
VISUAL NOVO
Eu pensei que estava criando uma personagem mas era o contrário, eu estava me livrando de uma. Cabelos numa sociedade patriarcal é fetiche, embora eu curta cabeleira, a minha estava me incomodando por não tratá-la com o devido respeito e o meu grisalho tratado com o devido respeito estava incomodando as pessoas, a minha decisão de não tingir estava incomodando as pessoas.
Separada desde 2013, trilhei o caminho de me redescobrir. Sim, vivi mais tempo casada que solteira, minha vida sempre teve dono, primeiro os pais, depois casamentos e eu demorei muito a entender isso. Nesse sexto ano de redescoberta de mim, era hora de me ressignificar. Se meu pouco grisalho incomodava, melhor acabar com o "problema" ou criar um maior ainda.
Talvez eu não seja tão tímida como fui a vida toda, possivelmente, essa timidez seja fruto de muita repressão. Aquela repressão que meninas suburbanas vivem, aqueles valores que a família tatua na gente como salvo-conduto para frequentarmos o mundo com menos riscos pra ela (família).
- Não fale com estranhos
- Não frequente bares e botequins
- não beba desacompanhada
- não fume na rua
- não diga que é da umbanda ou do candomblé
- não use roupa justa, saia curta, short indecente
- não transe antes de casar, se transar, tem que casar
- mulher direita não gargalha, não fala palavrão, pede permissão.
- Mulher direita não é artista, não se exibe.
- criança educada pergunta o que pode aceitar.
Mulher decente é planta e a gente que cresceu com a ditadura foi adestrada pra ser invisível. Ponto.
Eu não cortei o cabelo, eu tirei 50 anos de peso da minha alma! Eu platinei tudo o que a minha mente aprendeu ao longo da minha vida!
RELACIONAMENTO
2019 não decepcionou mas eu não me apaixonei.
Eu gosto sorvete, livros, drinks, mar e flores; Pra casar eu ainda preciso amar.
Mas pra transar, andar junto, dar uma ficada, ah basta uma boa dose de respeito, sinceridade e torcer pra gracinha topar uma boa diversão. Eu ainda sei ser divertida, quiçá, seja agora mais do que sempre fui.
Ser empoderada é muito mais que calçar um salto e deixar o blécão subir. Ser feminista vai além de falar mal do poder repressor e patriarcal.
Eu aprendi (e nem foi da forma mais fácil e prazerosa porque nunca é) que ser empoderada é olhar pra tudo o que se tem por dentro e ter coragem de assumir e descobrir como se reformar e o que fazer com a mobília que em sua maior parte nem fui eu que botei ali.
A minha aparência não tem que seguir tendência, moda, regras. Ela tem que espelhar a minha aceitação e todas as reformas pelas quais passei e que ainda preciso promover. A arquiteta aqui, sou eu!
Quem não gostar que se construa conforme seu gosto, em mim só mora eu.

Esse textão foi de 2019 mas par ser de 2020 só faltou a menção direta à covid, todo o restante que esse vírus escancarou e presenteou a muitos, já era uma realidade vivida pela maioria da periferia.

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