Não tenho mais pranto. Não me cabo de revolta que me instiga mais e mais dores.
Nessa pandemia passei o constrangimento de pedir dinheiro para amigos. Quase fiquei sem teto, fiquei sem luz algumas vezes e internet também. Hoje meu coração dispara cada vez que vejo um carro utilitário com escada. Cada laive que entrou no ar com a minha participação foi fruto de uma certa prostituição psicológica que negociei comigo mesma, pedindo aos amigos a chance de não me deixarem desaparecer numa espécie morte social. Dizendo pra mim que eram pessoas de confiança que não me dariam migalhas e ainda sairiam falando como é o normal e vejo muito acontecer na Casa da Vida - Voluntariado Quem menos contribui é quem mais valoriza a contribuição parca e inferioriza nosso trabalho. Foi experimentar um pouco de alguns lugares como o malabares "dos dimenor" nos sinais de trânsito;
a mãe com criança no colo pelas calçadas e ruas da Lapa;
a vendedora de bala na noite pirada.
Tudo isso porque trabalho com Arte e Cultura.
Então quando o Paulo Gustavo caiu com convid19, não tinha como imaginar que sua juventude (que eu não tenho mais), sua possiblidade econômica de tratamento (que eu nunca tive) não pudessem salvá-lo.
Eu rezei, sim e com a certeza que tudo daria certo porque ele tinha o melhor tratamento, a juventude e muitos motivos para lutar como uma garota, como uma mãe, como um pai de verdade.
Alguns dirão: desígnios de deus.
Desculpa, mas deus jamais designaria um político antivacina como desígnio. O desígnio de Deus é a Vida e não a morte que está no nosso encalço com alvará e incentivo do genocida que lidera país.
Amorte do Paulo Gustavo me fez cair a ficha dos tantos que perdi e não deu pra chorar porque tive que fazer lista pro enterro, porque tive que me manter fora do alcance de ter que ser enterrada também. E agora é por todos os meus e todos os nossos, pelos muito mais de 4mil e por esses mortos em vida que vivem hierarquizando os que podem ou não viver.
Eu vou me manter em casa o tempo necessário após a segunda dose. E não importa se tiver que ficar no escuro e sem internet. Não importa nem se ficar sem casa pra ficar.
Não há como prever o que nos acontece ao pegar essa doença e eu não tenho estrutura pra sobreviver a ela e não posso morrer logo agora que descobri o que é viver
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