Não foi proposital.
Dia desses buscava entre os meu poetas preferidos algum poema pra colocar como foto de capa no meu perfil do facebook. Como sempre comecei por Drummond, depois Bandeira, depois Vinícius, Cora Coralina, Cecília, Adélia e por aí vou até encontrar o que preciso.
Achei alguns dos poemas do doce Bandeira um pouco tristes demais para o meu objetivo. Esse principalmente, mas tinha tanto a ver comigo, que selecionei o trecho mais apropriado, tristeza à parte.
O título do poema é "Consoada" que é, segundo o Google, numa versão resumida, "jantar da noite da véspera de Natal, geralmente reunindo toda a família em ambiente de festa e terminando com a distribuição dos presentes; ceia que reunia a família na madrugada da noite de Natal, após a missa-do-galo "
O poema na íntegra:
Consoada
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Consoada é o poema dos que sem medo estão prontos ou acham que estão. Não sei se retrata um momento de pensamento fúnebre daqueles que estão solitários por ocasião da consoada, mas imagino que sim.
Poderia ser que ele, o Manuel Bandeira, estivesse apenas preparando a consoada para a "Indesejada", a tal "Caetana", por viver o momento propício, quando já fizemos tantas coisas, que qualquer alegria será tão reconfortante tal qual o seu primo-irmão o tédio.
Há momentos na vida que realmente as contas estão pagas ou decidimos que não temos
Enfim, Bandeira escreveu muitos livros, tinha grana pra produzi-los e publicá-los, tornou-se professor, crítico de arte, teve seus livros independentes reeditados, aposentou-se como professor, viajou, viajou e viajou!
de pagá-las, os filhos cresceram e nos cobrem de atenção ou esqueceram de onde vieram... As realizações como a desistência dos sonhos trazem a certeza da missão cumprida, um gosto de fim da linha, uma preguiça de lutar pelo que não foi feito, um encantamento entediado sobre o que foi construído.
Viajou a trabalho, para tratamento, por lazer, como membro de comissão julgadora.
Foi reconhecido, laureado, homenageado, recebeu muitas flores em vida, felizmente.
Principalmente, teve Bandeira, tuberculose aos 18 anos, eu mesma antes de estudar um tiquinho sobre ele, achava que tinha morrido disso, o sucesso/repercussão de "pneumotórax" nos faz esquecer a foto do velhinho e nos confunde com a informação dos seus 80 e tantos anos. No entanto, ele viu morrerem mãe, irmã (a enfermeira e anjo da guarda nos tempos da doença), pai, irmão. Por que não, não poderia por um momento achar que já estava de bom tamanho?
E que diferença poderia fazer?
Sendo apenas um pensamento, por um momento suficiente para mais um poema.
A simplicidade de Manuel Bandeira me toca profundamente. Ele transforma a decepção a desilusão, as mazelas de uma sociedade em desenvolvimento, que desdenha o auto-conhecimento, em lirismo, aliás, não abre mão dele, o lirismo e pulverizado por um bom humor tão da nossa gente!
Manuel Bandeira, foi o primeiro poeta que me fez pensar na forma de comunicação através da escrita - Sim eu sei que a gente estuda isso na escola, mas não necessariamente nos faz pensar...
Enquanto o Parnasiano é capaz de sacrificar a comunicação em prol da métrica, da rima, da valorização da forma, da palavra em si, Bandeira usa quase sempre palavras simples e quando, não é simples é direto seu modo de se dirigir ao leitor.
Claro que estamos falando sobre os anos 20 30, 40, uma época que dentre os consumidores de poesia estava também o grupo dos que faziam poesia.
Época na qual os que adentravam no universo literário chegando a publicar livros, falavam no mínimo duas línguas. Faculdade não era nenhuma "molezinha" nem existiam em profusão.
As classes ricas eram realmente ricas, sem essa de crediário, cartão de crédito, financiamento.
Assim, os poetas que gostavam de complicar, despejando conhecimento e pedantismo para uma classe de consumidores afins ficavam restrito, mantiveram-se prisioneiros dos livros didáticos que o jovem bufa quando tem de ler...
Daí seja importante comentar pra quem não lembra ou não teve "saco" de aprender na escola, a importância do Modernismo (Semana de Arte Moderna de 1922, copiou?) Bandeira não estava lá, mas já era o próprio modernista, seu "sapo" estava, tanto assim, que veio a fazer amizade com todos aqueles que de um jeito ou de outro são os responsáveis "por qualquer um" 'poder estar escrevendo', se comunicando, dando o seu recado, pois que quebraram a rigidez obrigatória das formas, liberaram as compotas do conteúdo, permitiram que outros estilos literários pudessem ser olhados com respeito, perdoaram pequenos pecados para nós apenas leigos de uma língua altamente complexa e nada disso é uma crítica, muito pelo contrário.
(continua um dia)
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Consoada é o poema dos que sem medo estão prontos ou acham que estão. Não sei se retrata um momento de pensamento fúnebre daqueles que estão solitários por ocasião da consoada, mas imagino que sim.
Poderia ser que ele, o Manuel Bandeira, estivesse apenas preparando a consoada para a "Indesejada", a tal "Caetana", por viver o momento propício, quando já fizemos tantas coisas, que qualquer alegria será tão reconfortante tal qual o seu primo-irmão o tédio.
Há momentos na vida que realmente as contas estão pagas ou decidimos que não temos
Enfim, Bandeira escreveu muitos livros, tinha grana pra produzi-los e publicá-los, tornou-se professor, crítico de arte, teve seus livros independentes reeditados, aposentou-se como professor, viajou, viajou e viajou!
de pagá-las, os filhos cresceram e nos cobrem de atenção ou esqueceram de onde vieram... As realizações como a desistência dos sonhos trazem a certeza da missão cumprida, um gosto de fim da linha, uma preguiça de lutar pelo que não foi feito, um encantamento entediado sobre o que foi construído.
Viajou a trabalho, para tratamento, por lazer, como membro de comissão julgadora.
Foi reconhecido, laureado, homenageado, recebeu muitas flores em vida, felizmente.
Principalmente, teve Bandeira, tuberculose aos 18 anos, eu mesma antes de estudar um tiquinho sobre ele, achava que tinha morrido disso, o sucesso/repercussão de "pneumotórax" nos faz esquecer a foto do velhinho e nos confunde com a informação dos seus 80 e tantos anos. No entanto, ele viu morrerem mãe, irmã (a enfermeira e anjo da guarda nos tempos da doença), pai, irmão. Por que não, não poderia por um momento achar que já estava de bom tamanho?
E que diferença poderia fazer?
Sendo apenas um pensamento, por um momento suficiente para mais um poema.
A simplicidade de Manuel Bandeira me toca profundamente. Ele transforma a decepção a desilusão, as mazelas de uma sociedade em desenvolvimento, que desdenha o auto-conhecimento, em lirismo, aliás, não abre mão dele, o lirismo e pulverizado por um bom humor tão da nossa gente!
Manuel Bandeira, foi o primeiro poeta que me fez pensar na forma de comunicação através da escrita - Sim eu sei que a gente estuda isso na escola, mas não necessariamente nos faz pensar...
Enquanto o Parnasiano é capaz de sacrificar a comunicação em prol da métrica, da rima, da valorização da forma, da palavra em si, Bandeira usa quase sempre palavras simples e quando, não é simples é direto seu modo de se dirigir ao leitor.
Claro que estamos falando sobre os anos 20 30, 40, uma época que dentre os consumidores de poesia estava também o grupo dos que faziam poesia.
Época na qual os que adentravam no universo literário chegando a publicar livros, falavam no mínimo duas línguas. Faculdade não era nenhuma "molezinha" nem existiam em profusão.
As classes ricas eram realmente ricas, sem essa de crediário, cartão de crédito, financiamento.
Assim, os poetas que gostavam de complicar, despejando conhecimento e pedantismo para uma classe de consumidores afins ficavam restrito, mantiveram-se prisioneiros dos livros didáticos que o jovem bufa quando tem de ler...
Daí seja importante comentar pra quem não lembra ou não teve "saco" de aprender na escola, a importância do Modernismo (Semana de Arte Moderna de 1922, copiou?) Bandeira não estava lá, mas já era o próprio modernista, seu "sapo" estava, tanto assim, que veio a fazer amizade com todos aqueles que de um jeito ou de outro são os responsáveis "por qualquer um" 'poder estar escrevendo', se comunicando, dando o seu recado, pois que quebraram a rigidez obrigatória das formas, liberaram as compotas do conteúdo, permitiram que outros estilos literários pudessem ser olhados com respeito, perdoaram pequenos pecados para nós apenas leigos de uma língua altamente complexa e nada disso é uma crítica, muito pelo contrário.
(continua um dia)
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